ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

O suicídio está se tornando o grande hit do Natal alemão. "Ich Möchte Jetzt Schlieben" (Deixe-me Terminar), uma antologia de cartas de suicídio compiladas pelo historiador médico Udo Grashoff, virou o best-seller da temporada, confirmando a fascinação européia pelo tema.
"A condenação moral das igrejas e a descrição heróica do suicídio por alguns filósofos nos levaram a uma visão distorcida do fenômeno. Finalmente nós começamos a ver o suicídio não como algo honorável ou escandaloso, mas apenas como uma expressão normal de falha que acontece na nossa sociedade", disse Grashoff ao jornal britânico "The Times".
A compilação traz histórias como a do bombeiro de 28 anos que cortou os pulsos, depois tentou se enforcar e, finalmente, ateou fogo ao próprio corpo. Em sua carta, registrou o horário de cada tentativa -9h, 9h30, 9h45 e 13h. A compilação traz a informação de que o jovem conseguiu morrer nove dias depois, em razão dos ferimentos obtidos em suas tentativas.
Há também momentos bizarros como a carta de um policial de 26 anos escrita para a noiva: "Querida Lissy, diga a minha mãe que coloque o gnomo do jardim em meu túmulo".
A carta da médica Elisabeth Geuter, presente na antologia, parece o fim de um filme de suspense. A médica escreveu da Suíça, para onde levou seus sete gatos de raça para um concurso de animais. À polícia, deixou as doses precisas das drogas que a mataram e pediu que não fosse feita autópsia. Em uma carta separada, disse ao marido que ele contasse a todos que ela morreu em um acidente de carro. "Eles acreditarão -o tempo de novembro, a neblina, minhas habilidades à direção." Disse ainda que apenas o amou, por toda a vida, e o lembra de pegar roupas na lavanderia.
A Alemanha, mesmo com os altos índices de suicídio da antiga Alemanha Oriental, está apenas no meio da lista de países europeus com mais suicidas. Perde para Estônia, Hungria e Finlândia, mas está à frente da Inglaterra e de todos os países mediterrâneos. Oficialmente, há mais de 11 mil suicídios todos os anos na Alemanha, enquanto na Inglaterra, os casos oficiais chegam a 5.500 ao ano.