São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005

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"O TEMPO E O VENTO"

Adaptação baseada em clássico reúne "dream team"

Minissérie ainda é convite ao épico gaúcho de Erico Verissimo

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

Não é todo dia que a Globo coloca todo o expertise acumulado na produção de novelas a serviço da boa literatura. "O Tempo e o Vento", minissérie baseada no texto clássico do escritor gaúcho Erico Verissimo (1905-1975) e levada ao ar em 1985, é uma mistura bem-sucedida de um "dream team" de atores globais, uma direção competente (Paulo José) e uma adaptação de texto apropriada (Doc Comparato e Regina Braga). Tudo isso acompanhado de uma sofisticada trilha sonora de Tom Jobim (1927-1994).
O único ponto a se lastimar é que a empreitada tenha tido fôlego só para os dois primeiros tomos dessa caudalosa obra, composta de sete no total. A minissérie, que chega agora resumida ao DVD, corresponde ao bloco chamado de "O Continente", publicado em 1949. A saga da família Terra Cambará num Rio Grande do Sul em formação se estenderia por "O Retrato" (1951) e "O Arquipélago" (1962).
Tudo começa em 1777, com a história de Ana Terra (Gloria Pires), caçula de uma família que estabelece raízes num descampado no Sul do Brasil. A moça tem um filho com um índio, perde os pais e os irmãos num confronto com os "castelhanos" e foge com um grupo de colonos que fundarão o povoado de Santa Fé.
Tempos depois, a trama passa a girar em torno da neta de Ana, Bibiana (Louise Cardoso quando jovem e Lélia Abramo na velhice). Bibiana apaixona-se por um forasteiro arruaceiro, o Capitão Rodrigo Cambará (Tarcísio Meira). O casamento dos dois escandaliza Santa Fé, mas é abençoado pelo padre Lara (Mario Lago). Rodrigo morre durante a Revolução Farroupilha, não sem antes povoar o lugar com o mito de sua coragem.
A segunda parte trata do cerco ao sobrado da família Terra Cambará, em 1895, quando o Sul atravessava o conflito entre "maragatos" (federalistas) e "chimangos" (republicanos ligados ao líder Julio de Castilhos). Então sob o comando do neto de Bibiana, Licurgo (Armando Bogus), o clã vê amanhecer a República.
Apesar dos saltos na trama, a minissérie cumpre o papel de transmitir o essencial da obra, a força dos personagens -mulheres recatadas, mas corajosas e místicas; homens valentes, porém frágeis e idealistas- e a idéia de que as coisas que permanecem podem contar a história de um grupo de pessoas, ou mesmo de uma região, melhor do que acontecimentos pontuais. Uma espécie de analogia literária do conceito de "longa duração", do historiador francês Fernand Braudel.
Daí a presença constante de objetos significativos -como a tesoura com que Ana Terra cortou o cordão umbilical do filho- e de traços de personalidade que atravessam gerações.
Pena que a minissérie não tenha acompanhado toda a árvore genealógica dos Terra Cambará -que termina no período getulista, com a história do "alter ego" de Verissimo, Floriano. Ainda assim, sua fixação em DVD, com bastidores e entrevistas, é uma boa notícia ao mesmo tempo que um convite a um mergulho nas páginas de "O Tempo e o Vento".


O Tempo e o Vento
    
Direção:
Paulo José
Distribuidora: Som Livre (R$ 60, em média)



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