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"O TEMPO E O VENTO"
Adaptação baseada em clássico reúne "dream team"
Minissérie ainda é convite ao épico gaúcho de Erico Verissimo
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Não é todo dia que a Globo
coloca todo o expertise acumulado na produção de novelas a
serviço da boa literatura. "O Tempo e o Vento", minissérie baseada
no texto clássico do escritor gaúcho Erico Verissimo (1905-1975) e
levada ao ar em 1985, é uma mistura bem-sucedida de um "dream
team" de atores globais, uma direção competente (Paulo José) e
uma adaptação de texto apropriada (Doc Comparato e Regina Braga). Tudo isso acompanhado de
uma sofisticada trilha sonora de
Tom Jobim (1927-1994).
O único ponto a se lastimar é
que a empreitada tenha tido fôlego só para os dois primeiros tomos dessa caudalosa obra, composta de sete no total. A minissérie, que chega agora resumida ao
DVD, corresponde ao bloco chamado de "O Continente", publicado em 1949. A saga da família
Terra Cambará num Rio Grande
do Sul em formação se estenderia
por "O Retrato" (1951) e "O Arquipélago" (1962).
Tudo começa em 1777, com a
história de Ana Terra (Gloria Pires), caçula de uma família que estabelece raízes num descampado
no Sul do Brasil. A moça tem um
filho com um índio, perde os pais
e os irmãos num confronto com
os "castelhanos" e foge com um
grupo de colonos que fundarão o
povoado de Santa Fé.
Tempos depois, a trama passa a
girar em torno da neta de Ana, Bibiana (Louise Cardoso quando
jovem e Lélia Abramo na velhice).
Bibiana apaixona-se por um forasteiro arruaceiro, o Capitão Rodrigo Cambará (Tarcísio Meira).
O casamento dos dois escandaliza
Santa Fé, mas é abençoado pelo
padre Lara (Mario Lago). Rodrigo
morre durante a Revolução Farroupilha, não sem antes povoar o
lugar com o mito de sua coragem.
A segunda parte trata do cerco
ao sobrado da família Terra Cambará, em 1895, quando o Sul atravessava o conflito entre "maragatos" (federalistas) e "chimangos"
(republicanos ligados ao líder Julio de Castilhos). Então sob o comando do neto de Bibiana, Licurgo (Armando Bogus), o clã vê
amanhecer a República.
Apesar dos saltos na trama, a
minissérie cumpre o papel de
transmitir o essencial da obra, a
força dos personagens -mulheres recatadas, mas corajosas e
místicas; homens valentes, porém
frágeis e idealistas- e a idéia de
que as coisas que permanecem
podem contar a história de um
grupo de pessoas, ou mesmo de
uma região, melhor do que acontecimentos pontuais. Uma espécie de analogia literária do conceito de "longa duração", do historiador francês Fernand Braudel.
Daí a presença constante de objetos significativos -como a tesoura com que Ana Terra cortou
o cordão umbilical do filho- e de
traços de personalidade que atravessam gerações.
Pena que a minissérie não tenha
acompanhado toda a árvore genealógica dos Terra Cambará
-que termina no período getulista, com a história do "alter ego"
de Verissimo, Floriano. Ainda assim, sua fixação em DVD, com
bastidores e entrevistas, é uma
boa notícia ao mesmo tempo que
um convite a um mergulho nas
páginas de "O Tempo e o Vento".
O Tempo e o Vento
Direção: Paulo José
Distribuidora: Som Livre (R$ 60, em
média)
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