São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bienal tem catálogo em forma de jornal

Penúltimo dos oito números da publicação circula amanhã em SP; edições passadas estão disponíveis on-line

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase todos os jornais noticiaram a invasão dos pichadores no dia da abertura da 28ª Bienal de São Paulo. Mas só um lembrou Jean-Luc Godard e Glauber Rocha na hora de interpretar o episódio. Foi concluindo, como Rocha, que "está tudo bem, e pronto" que o jornalista Marcelo Rezende assinou o editorial do "28b", jornal produzido pela Bienal.
Seis edições dele já foram distribuídas de graça nas ruas da cidade, um para cada semana da mostra. O penúltimo número sai amanhã e o último, na sexta-feira da semana que vem. Juntos, todos formam o catálogo da 28ª Bienal, a primeira vez na história que o grande volume lançado com a exposição é substituído por um periódico -todas as edições têm uma versão no site www.28bienalsaopaulo.org.br.
No lugar da tiragem limitada de um livro caro -tão caro que o último volume dos três dedicados à Bienal anterior foi lançado só agora, por falta de dinheiro- , houve um alcance maior, com 50 mil exemplares de cada número. "É uma escala popular, as pessoas foram envolvidas na conversa", avalia Rezende, editor do "28b".
Mais do que isso, foi um experimento. Se, nos catálogos tradicionais, pouco importa o que acontece ao longo da exposição, já que costumam ficar prontos antes mesmo da abertura, este dependeu de tudo, das performances e eventos no pavilhão a episódios não-programados, como a pichação.
"A idéia era usar toda a gramática do jornal -foto, notícia, ensaio, perfil- para levar outro tipo de informação ao leitor", afirma Rezende, na redação que funcionou em pleno pavilhão. "Foi a Bienal traduzida por uma dinâmica de jornal."
Alguns artistas se apropriaram dessa dinâmica de jornal para fazer as próprias obras, como o indiano Sarnath Banerjee, que publicou uma história em quadrinhos que serviu de crônica da cidade de São Paulo. Até um horóscopo foi publicado nas páginas do "28b".
No lugar da crítica de arte ou matérias "pretensamente didáticas", nas palavras de Rezende, o jornal também publicou interpretações da mostra de outros pontos de vista, como o de um pintor de paredes, viciado em leituras como Dostoiévski e Henry Miller, que há décadas trabalha no pavilhão.
"Procurei abolir uma hierarquia para o leitor", diz Rezende. "Eu não estou decidindo por ele se é possível ou não fazer determinadas conexões. Ele não é dirigido, tem a chance de montar o próprio jogo."
Outro jogo será correr atrás dos oito números do jornal para montar o catálogo completo. Rezende descarta a possibilidade de editar todos num único volume, porque a compilação anularia a proposta de catálogo que "sai do pavilhão".
"A gente sabe que o jornal não foi rejeitado, acompanhamos a distribuição para ver a reação do público", conta Rezende. "Interessante é ver o que acontece agora, se as pessoas vão embrulhar fruta com ele ou guardar para os filhos."


Texto Anterior: Por que ver
Próximo Texto: Borelli deixa "Lago dos Cisnes" soturno
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.