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Bienal tem catálogo em forma de jornal
Penúltimo dos oito números da publicação circula amanhã em SP; edições passadas estão disponíveis on-line
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase todos os jornais noticiaram a invasão dos pichadores no dia da abertura da 28ª
Bienal de São Paulo. Mas só um
lembrou Jean-Luc Godard e
Glauber Rocha na hora de interpretar o episódio. Foi concluindo, como Rocha, que "está
tudo bem, e pronto" que o jornalista Marcelo Rezende assinou o editorial do "28b", jornal
produzido pela Bienal.
Seis edições dele já foram
distribuídas de graça nas ruas
da cidade, um para cada semana da mostra. O penúltimo número sai amanhã e o último, na
sexta-feira da semana que vem.
Juntos, todos formam o catálogo da 28ª Bienal, a primeira vez
na história que o grande volume lançado com a exposição é
substituído por um periódico
-todas as edições têm uma
versão no site www.28bienalsaopaulo.org.br.
No lugar da tiragem limitada
de um livro caro -tão caro que
o último volume dos três dedicados à Bienal anterior foi lançado só agora, por falta de dinheiro- , houve um alcance
maior, com 50 mil exemplares
de cada número. "É uma escala
popular, as pessoas foram envolvidas na conversa", avalia
Rezende, editor do "28b".
Mais do que isso, foi um experimento. Se, nos catálogos
tradicionais, pouco importa o
que acontece ao longo da exposição, já que costumam ficar
prontos antes mesmo da abertura, este dependeu de tudo,
das performances e eventos no
pavilhão a episódios não-programados, como a pichação.
"A idéia era usar toda a gramática do jornal -foto, notícia,
ensaio, perfil- para levar outro
tipo de informação ao leitor",
afirma Rezende, na redação
que funcionou em pleno pavilhão. "Foi a Bienal traduzida
por uma dinâmica de jornal."
Alguns artistas se apropriaram dessa dinâmica de jornal
para fazer as próprias obras,
como o indiano Sarnath Banerjee, que publicou uma história
em quadrinhos que serviu de
crônica da cidade de São Paulo.
Até um horóscopo foi publicado nas páginas do "28b".
No lugar da crítica de arte ou
matérias "pretensamente didáticas", nas palavras de Rezende, o jornal também publicou
interpretações da mostra de
outros pontos de vista, como o
de um pintor de paredes, viciado em leituras como Dostoiévski e Henry Miller, que há
décadas trabalha no pavilhão.
"Procurei abolir uma hierarquia para o leitor", diz Rezende. "Eu não estou decidindo
por ele se é possível ou não fazer determinadas conexões.
Ele não é dirigido, tem a chance
de montar o próprio jogo."
Outro jogo será correr atrás
dos oito números do jornal para montar o catálogo completo.
Rezende descarta a possibilidade de editar todos num único
volume, porque a compilação
anularia a proposta de catálogo
que "sai do pavilhão".
"A gente sabe que o jornal
não foi rejeitado, acompanhamos a distribuição para ver a
reação do público", conta Rezende. "Interessante é ver o
que acontece agora, se as pessoas vão embrulhar fruta com
ele ou guardar para os filhos."
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