São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Daniela Mercury quer reeditar Semana de 22 em novo disco

"Canibália" tem também o movimento tropicalista entre suas referências

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim que o gravador que registraria as perguntas e respostas para esta reportagem foi ligado, outro, muito mais moderno, foi logo posto ao lado dele. A dona era a própria entrevistada, a cantora Daniela Mercury. Antes de dar o "play", avisou: "Gravo minhas entrevistas todas. Adoro guardar e ficar com o sentido do que eu quero".
Neste momento, o sentido do que ela quer está guardado em "Canibália", décimo álbum de estúdio. A clara referência à Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil é assumida pela artista, mas, segundo afirma a autora, não está sozinha. "Minha ideia é reiterar e ampliar também o conceito da Semana de Arte Moderna", diz.
"Afirmar que é preciso quebrar barreiras. Que é permitido a todos fazer qualquer tipo de fusão e não é necessário seguir tradições nem olhar para o outro com idolatria. Estou acrescentando meu olhar a isso tudo."
A ideia soa ambiciosa. Na mesma medida das que a cantora tem levado aos carnavais de Salvador. Enquanto suas colegas de avenida mantêm a fórmula segura do trio de axé, Daniela arrisca misturas ousadas, como um trio eletrônico, com DJ, e outro de música clássica, com pianista tocando Beethoven, de fraque, em meio à folia.
Se deu certo? "O presidente de uma companhia [de discos] me disse uma frase: "Dan, você erra, mas erra para o futuro. Então não tem problema'", diz.
"Meu universo de interesses é muito maior do que simplesmente celebrar a alegria." Em 2010, o samba-reggae faz 25 anos. Daniela Mercury, responsável por difundir o gênero em larga escala pelo país, gosta de compará-lo ao blues.
"Dentro do nosso contexto de povo mais festivo, a "África" daqui encontrou outras formas de fazer seu lamento", diz. "O único canal que o cara tem para dizer "olhe pra mim, eu sou arretado" é a música. Só na música e na cozinha nego é rei." Ivete Sangalo, Claudia Leitte.
Daniela já cansou de ouvir perguntas sobre o que pensa de suas duas, digamos, "sucessoras" no reinado do axé. Sempre escapa pela tangente. "Eu não gerei ninguém. Só fiz abrir a picada", diz. "Mas abriram para mim, também. Caetano, Gal. A gente vai ampliando esse portão. Aconteceu só de eu ser a catalisadora daquela música. São sincronicidades."
Contraditoriamente, é na mesma cidade em que aconteceram a Semana de 22 e a Tropicália -movimentações artísticas a que o novo trabalho de Daniela se refere- que a cantora diz ser pior interpretada. "Até hoje sinto os jornalistas de São Paulo um pouco desconfiados de mim", afirma. "As pessoas daqui olham para a gente [da Bahia] como se fôssemos estrangeiros.
Ainda há muita incompreensão do que são as distintas culturas. Vocês não podem ter afeto por algumas coisas, não podem entender por que uma pessoa dança daquele jeito em Salvador." Na última segunda-feira Daniela recebeu, das mãos da vereadora Mara Gabrilli, o título de cidadã paulistana.


CANIBÁLIA

Artista: Daniela Mercury
Gravadora: Sony Music
Quanto: R$ 20, em média




Texto Anterior: Atriz fuma camomila e cheira soro
Próximo Texto: Em um álbum de tecno, Renato Cohen absorve de funk a jazz
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.