MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Um barman com a máscara do personagem Jason, da série "Sexta-Feira 13", uma mulher cuspindo folhas de repolho, performances em clima sadomaso dentro de uma banheira e ícones dos anos 80 desfilando nas pick-ups.
Todo esse cenário é parte do revival prometido pela Festa do Fim do Mundo, evento promovido pela casa noturna TheThe, que vai revisitar hoje e amanhã, a partir da meia-noite, o universo do Madame Satã -clube símbolo da "geração perdida" que funcionou na Bela Vista (região central de São Paulo), de 83 até 93.
O endereço também é o mesmo: rua Conselheiro Ramalho, 873. Para tentar repetir o clima, apesar das modificações que a casa sofreu nos últimos seis anos, o organizador da festa, J. Maurício Penteado, 38, frequentador assíduo da casa, foi buscar os fãs e personagens do Madame Satã espalhando cartazes pela cidade.
Os convites para o fim do mundo pediam a presença de ex-funcionários, DJs, músicos da época e frequentadores que andaram pelo Madame Satã. E parece que a iniciativa deu certo.
"O pessoal antigo reapareceu no TheThe e quer vir para reencontrar os amigos", diz Penteado, que foi buscar antigos performers da casa, como a "gorda do repolho". "Ela vai estar lá, numa jaula", diz.
² Bebidas infernais
Outro personagem do Satã com presença certa hoje e amanhã é o ex-barman performático Eliseu Carlos Filho, 29, hoje técnico em computação.
Ele trabalhou no Madame Satã de 88 até a "última noite", em 93, preparando bebidas, mascarado como o personagem Jason, da série de terror "Sexta-Feira 13".
Uma das criações de Eliseu era a bebida "Sangue do Diabo", um preparado a base de ervas secretas, chá de hortelã, maçã, vinho tinto e uma bebida destilada. "É a primeira vez que estou revelando os ingredientes, mas a receita ainda tem segredos", disse.
O barman era também uma espécie de CVV de balcão. "Outro dia estive no TheThe e encontrei um cara dos tempos do Satã. Ele começou a me contar uma história triste do ponto em que parou seis anos atrás."
Eliseu tem amigos de balcão até hoje. "Liguei para eles, avisando que estarei lá, dando o máximo para tornar as coisas parecidas."
Eliseu acredita que o revival dos anos 80 que acontece na cidade, especialmente no TheThe, é culpa da falta de rumo na música atual. "Hoje as músicas não têm letras legais, as bandas não têm performance", diz.
Além das performances estranhas, do som dark e new wave, uma das marcas do Madame Satã, no seu período áureo, entre 83 e 89, foi revelar bandas de rock.
Os primeiros shows do Ira!, Titãs, RPM (que teria nascido dentro da casa) e outros grupos não tão famosos aconteceram no Satã.
A casa se tornou referência e foi usada até como cenário de filmes nacionais que retrataram a época, como "Cidade Oculta".
² Anos 80
É lógico que o RPM não precisa voltar, mas a Festa do Fim do Mundo é mais um evento dentro de uma tendência cada vez mais reforçada, pelo menos em São Paulo, de volta, ainda que um pouco antecipada, aos anos 80 e alguns de seus modismos.
Não esqueçamos que esta semana Lloyd Cole tocou em São Paulo, que o U2 foi um sucesso estrondoso de público no início do ano, que na Inglaterra foi lançado uma box set do Joy Division no final de 97, ano que também marcou a volta do Echo and The Bunnymen, só para citar alguns exemplos.
O próprio TheThe, casa que hoje ocupa o mesmo casarão que foi do Madame Satã e depois do Morcegóvia, lota todos os sábados misturando o pop anos 80 (Smiths, New Order, Sisters of Mercy, Jesus and Mary Chain, Siouxie and The Banshees, Echo and The Bunnymen, Joy Division e outros), com pitadas do que há de mais moderno no rock inglês.
Também contribui para encher a casa o sistema "bar free", que continua normalmente amanhã. Você paga a entrada e pede o que quiser no balcão, mas cuidado: a cerveja acaba às 5h.
Para ficar mais "de época" ainda, o TheThe trouxe de volta especialmente para as festas de hoje e amanhã cinco DJs que trabalharam no Madame Satã, que vão tentar repetir as sequências da época, com pitadas de The Doors (banda que foi revisitada nos anos 80), Iggy Pop, David Bowie e bandas nacionais do período, leia-se Gang 90, Violeta de Outono, Plebe Rude, Ira!, Legião Urbana e até Blitz.
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