|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
O aço na história do Brasil
Antes do petróleo, a batalha siderúrgica foi das mais importantes da história do nosso país
PARA ESCREVER um livro sobre
a morte de Vargas, entrevistei
Maciel Filho, jornalista, industrial e autor do texto final da carta-testamento. Ele me passou apontamentos que recolhera de pesquisas sobre a influência do aço na vida
pública brasileira. Estava fazendo o
mesmo com o petróleo. Vou transcrever uma sinopse com base em
seus apontamentos, mostrando como foi suada nossa siderurgia.
O aço criara grandes crises na vida
econômica e política. Antes do petróleo, a batalha siderúrgica foi das
mais importantes de nossa história.
Uma simples sucessão de datas e fatos mostra a importância do aço em
nossa vida interna:
1908 - J. Dawson, Normanton e
Murley Cotto pedem opção de compra do pico de Itabira. São ingleses.
Reage o capital francês com sede política em Minas (Banco Hipotecário
e Agrícola do Estado de Minas Gerais e Banco Hottinger). Resistência
política contra Afonso Pena e Davi
Campista. Ingleses formam a Brazilian Hematite Syndicate, que pede a
Pedro Nolasco, diretor da Estrada
de Ferro Vitória-Minas, opção de
compra das ações.
1909 - A Leopoldina Railway e um
sindicato dos EUA disputam à Brazilian Hematite a compra do controle da Vitória-Minas. Morre Afonso
Pena. Crise política acirrada.
1910 - No Congresso Internacional de Estocolmo, surge o famoso
relatório sobre o ferro do Brasil (as
maiores jazidas de ferro do mundo).
Nilo Peçanha, fluminense, dá a concessão à Brazilian Hidro (eletricidade -Light). O governo de Minas levanta a questão de seus direitos e
procura criar embaraços ao grupo
canadense. Nilo toma o partido dos
ingleses. Faz o acordo de passagem
da linha da Leopoldina. E coloca em
Aimorés (Vale do Rio Doce) a pedra
fundamental da usina siderúrgica
projetada -e que não passou de projeto. Campanha civilista.
1911 - A Brazilian Iron and Steel
Co. pede ao Estado de Minas concessão para exportar minério. Propõe-se a pagar 200 réis por tonelada.
1912 - Trajano de Medeiros e Carlos Wigg obtêm concessão de Minas
para exportar minério, pagando
cem réis a tonelada. É dada a concessão à Société Franco-Brésilienne.
Depois de Hermes da Fonseca, há
uma pedra sobre o ferro. Com Delfim Moreira, a pedra continua.
1919 - Epitácio Pessoa, de passagem pelos Estados Unidos, incentiva Farqhuar.
1920 - Contrato de Itabira.
1921 - Viagem do Rei Alberto, Grupo Belgo-Luxemburguense como
fachada do Comité des Forges. Surge a Belgo-Mineira. Campanha contra Epitácio movida pelo Comitê.
Campanha contra Bernardes, movida por Farqhuar.
1922- Farqhuar não evita posse de
Bernardes. Estado de sítio.
1924 - A campanha de Farqhuar
mantém o Brasil em agitação. Estoura a revolução em São Paulo porque Washington Luís, candidato à
presidência, não tem expressão financeira no grupo do ferro, é homem do café, produto tropical e subdesenvolvido. Por isso, não tem retaguarda. Cairá em 1930, no exílio.
1925 - Melo Viana, na presidência
de Minas, autorizado pela lei nš. 881,
de 27 de janeiro, projeta construir,
por conta do Estado, uma usina siderúrgica, "não desprezando a colaboração técnica e financeira estrangeira" -importando carvão. Surge a
candidatura Melo Viana, logo sufocada. Ele desiste da usina, da colaboração inglesa e passa a ser atacado
pela imprensa Farqhuar.
1927 - Antonio Carlos assina o
contrato com a Itabira. Ele precisa
da imprensa siderúrgica. Seu principal jornalista, Assis Chateaubriand,
é homem de frente de Farqhuar.
Melo Viana rompe com Antonio
Carlos. Crise profunda na política
mineira, aparentemente unida pela
perspectiva presidencial de 30. Para
manter Bernardes a seu lado, Antonio Carlos é obrigado a dispensar, a
6 de setembro de 1930, a cláusula
que impunha a criação da usina. E a
Itabira se obriga a transportar pela
Vitória-Minas os minérios de todos
os produtores, inclusive os do grupo
francês.
1930/1931 - Logo após a revolução, crise na política mineira, entre
Bernardes e Antonio Carlos. Bernardes mobiliza a opinião pública
contra o contrato da Itabira. Considera-se a caducidade do contrato.
1932 - Os relatórios das comissões
nomeadas para estudar o caso concluem a favor da Itabira. Revolução
em São Paulo. Bernardes fica ao lado
da revolução.
1938 - Getúlio Vargas, em São
Lourenço, dá uma entrevista sobre
siderurgia. Intentona integralista.
1945 - A Companhia Siderúrgica
Nacional está em vésperas de funcionar. Golpe de Estado depõe o
presidente.
Texto Anterior: Crítica: Greengrass filma perplexidade do mundo de hoje Próximo Texto: É Tudo Verdade: Inscrição De filmes brasileiros é prorrogada Índice
|