São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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TRECHO

"Primeiro leram Walter Scott.
Foi como a surpresa de um mundo novo.
Os homens do passado que,
para eles, não passavam de
fantasmas ou nomes,
tornaram-se seres vivos: reis,
príncipes, feiticeiros, criados,
comerciantes e soldados, que
deliberam, combatem,
viajam, negociam, comem e
bebem, cantam e oram nas
salas das amas dos castelos,
nos bancos escuros dos
albergues, nas ruas tortuosas
das cidades, no alpendre das
tabernas, no claustro dos
mosteiros. Paisagens
artisticamente compostas
emolduravam os episódios
como cenários de teatro. Com
o olhar acompanha-se um
cavaleiro que galopa ao longo
das praias. Aspira-se no meio
das giestas o frescor do vento,
a lua ilumina o lago onde um
barco desliza, o sol faz as
couraças reluzirem, a chuva
cai sobre as choupanas. Sem
conhecer os modelos,
achavam as descrições fiéis, e
a ilusão era completa.

Extraído de "Bouvard e Pécuchet", de Gustave Flaubert


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