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Diretor Roger Vadim morre aos 72 em Paris
de Paris
O cineasta francês Roger Vadim, que revelou em sua estréia
na direção, aos 28 anos, o mito
Brigitte Bardot com "...E Deus
Criou a Mulher" (1956), morreu
ontem, no hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, aos 72 anos, em
consequência de um câncer.
A atriz Jeanne Moreau, que filmou com Vadim "As Ligações
Amorosas" (1959), dedicou o Urso de Ouro recebido no Festival
de Cinema de Berlim, pelo conjunto de sua carreira, ao cineasta.
Emocionada, ela lamentou a
morte do "amigo a quem amava
muito" em entrevista à rádio
France Info. "Soube há pouco que
ele estava doente, e não sei o que
dizer, estou muito chocada".
Diretor de mais de 20 filmes,
frequentemente mal acolhidos
pela crítica, Vadim nunca chegou
a repetir o sucesso de "...E Deus
Criou a Mulher". Contemporâneo da nouvelle vague, nunca fez
parte do movimento.
"Ele não se interessava em ser
considerado um gênio, não tinha
essa atitude. O cinema, para ele,
era um prazer, uma maneira de
expressar seu amor pela vida e pelas mulheres", disse o presidente
da Unifrance, Daniel Toscand.
O historiador de cinema Jean
Tullard, autor de "Dicionário de
Cinema - Os Diretores", no qual
considera que "o conjunto da
obra de Vadim deixa uma impressão de superficialidade, para
não dizer de mediocridade", disse
que "ele não revolucionou a história do cinema, não era um diretor completo, mas era, sim, um cineasta de elegância, um esteta que
fez belíssimas imagens".
Nascido em Paris, em 1928, Roger Vadim Plemiannikov foi assistente de Marc Allégret, diretor
de "A Mais Linda Vedete" (1954),
por dez anos, ator, roteirista e jornalista da revista "Paris Match",
antes de estrear no cinema.
O diretor da revista francesa à
época, Roger Théron, comentou
que nunca teve certeza se Vadim
era um bom jornalista, mas sabia
que ele era um grande sedutor.
"Quando sua mulher chegava na
redação para visitá-lo, era impossível não notá-la", afirmou. A mulher era Bardot.
"Ele era um sedutor. Seus filmes
respiravam o ar da sua época, ele
foi um jornalista como diretor",
afirmou o diretor francês Pierre
Tchernia ("Adorável Gozador",
1971). O ex-ministro da Cultura
da França e virtual candidato à
Prefeitura de Paris, Jack Lang,
concorda com Tchernia.
"Ele reinventou a mulher no cinema, e seus filmes refletiam o
frescor, a juventude, o sentimento
de liberdade daquela época", afirmou. Mas é novamente Tullard
quem define melhor o trabalho de
Vadim como cineasta, e destaca
que sua maneira de filmar o erotismo "realmente foi uma inovação no cinema francês".
"Ele tinha um estilo elegante,
era um cineasta de idéias", afirmou Tullard, que lembrou algumas das boas idéias, como escolher uma atriz para ser o vampiro
em "Rosas de Sangue" (1960), invertendo a tradição do cinema de
horror da época, e a mudança de
sexo em "Don Juan 73" (1973).
Nos últimos anos de sua carreira, Vadim dedicou-se ao teatro e à
televisão, para a qual dirigiu vários telefilmes, muitos estrelados
por sua quinta e última esposa,
Marie-Christine Barrault.
A fama de descobridor de talentos femininos de Vadim não está
restrita a Bardot. Ele também revelou Catherine Deneuve, em "O
Vício e a Virtude" (1963), e Jane
Fonda, com "Barbarella" (1968).
Foi casado com Bardot, sua primeira esposa, e Fonda, com quem
teve uma filha, Vanessa. Deneuve,
aos 18 anos, deu à luz ao filho do
casal, Christian.
As parcerias na vida pessoal e
no cinema acabaram associando
os filmes de Vadim às atrizes com
as quais trabalhava e lhe trouxeram fama de playboy.
Mas ele se defendia. "Um playboy é um profissional das mulheres. Que não as ama, que ama
apenas o sucesso que conquista
por estar com elas."
Outra marca dos filmes de Vadim foi o escândalo. Sua maneira
de expor a sensualidade de Bardot
em "...E Deus Criou a Mulher",
com a câmera lânguida deslizando pelo alongado corpo nu da
atriz, entrou para a história do cinema francês.
"Eu quis mostrar uma jovem
normal, com a única diferença de
que ela se comportava como um
homem, sem nenhuma culpa, seja no plano moral ou sexual", declarou Vadim na época em que
dirigiu Rebecca de Mornay, no
papel que foi de Bardot, na refilmagem americana de "...E Deus
Criou a Mulher", de 1987.
Sua adaptação de "Ligações Perigosas", de Choderlos de Laclos,
em "As Ligações Amorosas",
também gerou polêmica, pois
transformara Bardot num ousado
Don Juan.
Em 1986, no livro "Bardot, Deneuve, Fonda", Vadim fez a crônica dos seus relacionamentos
com as três atrizes.
(FÁTIMA GIGLIOTTI)
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