São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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Diretor Roger Vadim morre aos 72 em Paris

de Paris

O cineasta francês Roger Vadim, que revelou em sua estréia na direção, aos 28 anos, o mito Brigitte Bardot com "...E Deus Criou a Mulher" (1956), morreu ontem, no hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, aos 72 anos, em consequência de um câncer.
A atriz Jeanne Moreau, que filmou com Vadim "As Ligações Amorosas" (1959), dedicou o Urso de Ouro recebido no Festival de Cinema de Berlim, pelo conjunto de sua carreira, ao cineasta. Emocionada, ela lamentou a morte do "amigo a quem amava muito" em entrevista à rádio France Info. "Soube há pouco que ele estava doente, e não sei o que dizer, estou muito chocada".
Diretor de mais de 20 filmes, frequentemente mal acolhidos pela crítica, Vadim nunca chegou a repetir o sucesso de "...E Deus Criou a Mulher". Contemporâneo da nouvelle vague, nunca fez parte do movimento.
"Ele não se interessava em ser considerado um gênio, não tinha essa atitude. O cinema, para ele, era um prazer, uma maneira de expressar seu amor pela vida e pelas mulheres", disse o presidente da Unifrance, Daniel Toscand.
O historiador de cinema Jean Tullard, autor de "Dicionário de Cinema - Os Diretores", no qual considera que "o conjunto da obra de Vadim deixa uma impressão de superficialidade, para não dizer de mediocridade", disse que "ele não revolucionou a história do cinema, não era um diretor completo, mas era, sim, um cineasta de elegância, um esteta que fez belíssimas imagens".
Nascido em Paris, em 1928, Roger Vadim Plemiannikov foi assistente de Marc Allégret, diretor de "A Mais Linda Vedete" (1954), por dez anos, ator, roteirista e jornalista da revista "Paris Match", antes de estrear no cinema.
O diretor da revista francesa à época, Roger Théron, comentou que nunca teve certeza se Vadim era um bom jornalista, mas sabia que ele era um grande sedutor. "Quando sua mulher chegava na redação para visitá-lo, era impossível não notá-la", afirmou. A mulher era Bardot.
"Ele era um sedutor. Seus filmes respiravam o ar da sua época, ele foi um jornalista como diretor", afirmou o diretor francês Pierre Tchernia ("Adorável Gozador", 1971). O ex-ministro da Cultura da França e virtual candidato à Prefeitura de Paris, Jack Lang, concorda com Tchernia.
"Ele reinventou a mulher no cinema, e seus filmes refletiam o frescor, a juventude, o sentimento de liberdade daquela época", afirmou. Mas é novamente Tullard quem define melhor o trabalho de Vadim como cineasta, e destaca que sua maneira de filmar o erotismo "realmente foi uma inovação no cinema francês".
"Ele tinha um estilo elegante, era um cineasta de idéias", afirmou Tullard, que lembrou algumas das boas idéias, como escolher uma atriz para ser o vampiro em "Rosas de Sangue" (1960), invertendo a tradição do cinema de horror da época, e a mudança de sexo em "Don Juan 73" (1973).
Nos últimos anos de sua carreira, Vadim dedicou-se ao teatro e à televisão, para a qual dirigiu vários telefilmes, muitos estrelados por sua quinta e última esposa, Marie-Christine Barrault.
A fama de descobridor de talentos femininos de Vadim não está restrita a Bardot. Ele também revelou Catherine Deneuve, em "O Vício e a Virtude" (1963), e Jane Fonda, com "Barbarella" (1968). Foi casado com Bardot, sua primeira esposa, e Fonda, com quem teve uma filha, Vanessa. Deneuve, aos 18 anos, deu à luz ao filho do casal, Christian.
As parcerias na vida pessoal e no cinema acabaram associando os filmes de Vadim às atrizes com as quais trabalhava e lhe trouxeram fama de playboy.
Mas ele se defendia. "Um playboy é um profissional das mulheres. Que não as ama, que ama apenas o sucesso que conquista por estar com elas."
Outra marca dos filmes de Vadim foi o escândalo. Sua maneira de expor a sensualidade de Bardot em "...E Deus Criou a Mulher", com a câmera lânguida deslizando pelo alongado corpo nu da atriz, entrou para a história do cinema francês.
"Eu quis mostrar uma jovem normal, com a única diferença de que ela se comportava como um homem, sem nenhuma culpa, seja no plano moral ou sexual", declarou Vadim na época em que dirigiu Rebecca de Mornay, no papel que foi de Bardot, na refilmagem americana de "...E Deus Criou a Mulher", de 1987.
Sua adaptação de "Ligações Perigosas", de Choderlos de Laclos, em "As Ligações Amorosas", também gerou polêmica, pois transformara Bardot num ousado Don Juan.
Em 1986, no livro "Bardot, Deneuve, Fonda", Vadim fez a crônica dos seus relacionamentos com as três atrizes.
(FÁTIMA GIGLIOTTI)

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