São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

CONTO

Escritora lança "Restou o Cão" e celebra dez anos de seu primeiro romance

Livia Garcia-Roza coloca conflitos no divã da ficção

LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO

Há dez anos, a carioca Livia Garcia-Roza estreava na literatura com "Quarto de Menina". De lá para cá escreveu outros cinco romances sobre outras tantas meninas, meninos e mulheres. Diferentes entre si, mas com um ponto em comum: o conflito. Filhos deste mesmo estado de consciência (ou inconsciência), os contos do novo livro, "Restou o Cão" (Companhia das Letras), adentram o universo das relações familiares e focam a infância.
"Estamos todos nos recuperando por termos sido crianças um dia", diz Garcia-Roza, revelando o mote das 25 narrativas. "Somos feitos de conflitos, mas insistimos em nos livrar disto", continua.
Partindo deste princípio, numa aversão à "moral da história", os textos não trazem soluções para os problemas que aborda. Assim, no conto "Papoulas", a personagem observa: "Na nossa família ninguém se fala, já reparou, Arthur?". E pergunta: "Você saberia dizer qual o santo reparador da harmonia perdida?". E quem tem a resposta? "Seria trair a literatura querer passar uma mensagem", opina a escritora. Já "Fim de Película" traz pistas de como se dão tais desencontros: "... A câmera mostra sobressaltos, as perseguições, os ataques e contra-ataques de Steve e Sally, onde cada um exige que o outro se esforce ao máximo para ser o que não é."
A estréia de Garcia-Roza nos contos chega repleta de experiência. Ela trouxe para a escrita sua prática psicanalítica. "Na psicanálise transformamos aquela narrativa longa e dolorosa que a pessoa traz para o consultório numa outra mais possível. É como transformar um romance num conto", explica. Ao mesmo tempo, dedicou-se ao gênero como leitora e estudiosa, tendo inclusive organizado o livro de contos "Ficções Fraternas" (Record), com autores da nova literatura brasileira.
Desde pequena, Garcia-Roza fez balé. Mais tarde, como atriz do Tablado, atuou em "Pluft, o Fantasminha", de Maria Clara Machado, fundadora do núcleo teatral, e em "Sonho de Uma Noite de Verão", de Shakespeare. "Mas faltava o encontro com a minha palavra", destaca ela.
Formou-se em psicologia e dedicou-se exclusivamente à psicanálise por anos. Até que nos anos 70 escreveu um roteiro, que não virou filme, mas a colocou pela primeira vez diante de um texto seu, para além dos diários.
Neta de Vital Brazil, o antídoto de Garcia-Roza é a palavra. Seu impacto e música, uma mistura hereditária. "Ele usava a palavra como queria. Ficava impressionada e com medo da ousadia dele", lembra a escritora sobre a influência que recebeu de seu pai, Ernesto Imbassaí de Mello, que era advogado. E também de sua mãe, a harpista Acássia Vital Brazil. "Cresci em meio a sonatas. Estudei piano, harpa, violino, mas só toco de ouvido. De qualquer forma, leio literatura como se estivesse lendo uma partitura. Ficou a cadência, a melodia das falas."
Garcia-Roza publicou ainda os romances "Meus Queridos Estranhos" (97), "Cartão Postal" (99), "Cine Odeon" (2001), "Solo Feminino" (2002) e "A Palavra que Veio do Sul" (2004). A próxima obra já está em mente. "Deve ser outro romance", faz suspense.


RESTOU O CÃO, de Livia Garcia-Roza. Ed.: Companhia das Letras. Quanto: R$ 29 (112 págs.). Lançamento: dia 17/2, às 19h. Onde: livraria Timbre, shopping da Gávea (r. Marquês de São Vicente, 52, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/ 2274-1146).

Texto Anterior: Vitrine Brasileira
Próximo Texto: Romance/"Michael e Pauline: Um Casamento Amador": Anne Tyler lida com sutilezas da vida
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.