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CINEMA
Potsdamer Platz será sede do festival no ano 2000
Berlim prepara festa do cinquentenário
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
Berlim 98 foi aberto ontem já sob
o signo de sua 50ª edição, a ser realizada em fevereiro de 2000.
O projeto "Berlinale 2000" tem
por objetivo principal a inauguração da nova sede do evento em
Potsdamer Platz, uma mítico endereço berlinense.
Originalmente local de um dos
três portões da cidade, Potsdamer
Platz tornou-se, na virada do século 20, um dos principais centros
culturais e econômicos da cidade.
É como tal que Walter Ruttman a
retrata no clássico "Berlim, Sinfonia da Metrópole" (1927).
Hitler tinha grandes planos arquitetônicos para ela, mas caiu antes de implementá-los.
O fim da guerra e a divisão da
Alemanha transferiram-na para a
administração socialista. Situada
no setor leste de Berlim, Potsdamer Platz ficou quase 30 anos
abandonada, sob o estigma de
ex-vitrina capitalista.
Marco
Chegou a hora da vingança. As
obras para o novo complexo que
será a sede do festival já estão bastante adiantadas. O projeto é assinado pelos arquitetos Renzo Piano e Christian Kohlbecker.
Estão sendo erguidos um Palácio
do Festival, com capacidade para
1.740 pessoas, e um multiplex que
abrigará nove salas de cinema (Cinemaxx).
O Festival de Berlim deve utilizar
ainda a nova sede da Cinemateca
Alemã, que está sendo construída
na mesma região com o apoio da
Sony.
A transferência da sede inscreve
no mapa de Berlim um novo marco da reunificação.
O festival nasceu em 1951 sob o
signo da Guerra Fria. Foi uma iniciativa dos aliados que ocupavam
a cidade, norte-americanos à frente. Um enclave capitalista por trás
da cortina de ferro, a parte oeste
de Berlim não poderia se furtar a
exibir os encantos do cinema internacional.
Hollywood, curiosamente, não
teve presença tão marcante quanto se poderia esperar.
A "Cinderella" de Disney venceu, sim, uma das quatro competições do ano de estréia, mas até a
queda do muro (1989) apenas cinco outras produções americanas
levaram o Urso de Ouro.
Para compensar, depois da reunificação, contam-se oito festivais
-e cinco triunfos hollywoodianos.
Consagração européia
Berlim acabou se firmando como um festival de marcada ênfase
européia.
Basta notar que o festival foi pioneiro na consagração de cineastas
como Ingmar Bergman ("Morangos Silvestres", Urso de Ouro
1958), Claude Chabrol ("Os Primos", 59), Michelangelo Antonioni ("A Noite", 61), Jean-Luc Godard ("Alphaville", 65) e Roman
Polanski ("Armadilha do Destino", 66), entre vários.
O espírito cosmopolita sempre
prevaleceu sobre o germanismo,
como prova a concessão de apenas
cinco Ursos de Ouro a produções
locais.
O espírito da détente, com o relaxamento das relações com o sistema socialista, demorou a vingar.
Apenas em 1974 um filme soviético foi aceito na competição, e levou ainda mais um ano para que
uma produção da Alemanha
Oriental estreasse no evento.
Curiosamente, o primeiro Urso
de Ouro germânico encenava uma
história de amor impossível entre
um Romeu do Ocidente e uma Julieta socialista.
"Quando o Amor É Pecado"
("Die Ratten", 1955) era assinado
por Robert Siodmak, um dos homenageados pela retrospectiva
deste ano.
Sua projeção, amanhã, de certa
forma fecha um ciclo na história
do festival.
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