São Paulo, quinta, 12 de fevereiro de 1998

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CINEMA
Potsdamer Platz será sede do festival no ano 2000
Berlim prepara festa do cinquentenário

AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim

Berlim 98 foi aberto ontem já sob o signo de sua 50ª edição, a ser realizada em fevereiro de 2000.
O projeto "Berlinale 2000" tem por objetivo principal a inauguração da nova sede do evento em Potsdamer Platz, uma mítico endereço berlinense.
Originalmente local de um dos três portões da cidade, Potsdamer Platz tornou-se, na virada do século 20, um dos principais centros culturais e econômicos da cidade. É como tal que Walter Ruttman a retrata no clássico "Berlim, Sinfonia da Metrópole" (1927).
Hitler tinha grandes planos arquitetônicos para ela, mas caiu antes de implementá-los.
O fim da guerra e a divisão da Alemanha transferiram-na para a administração socialista. Situada no setor leste de Berlim, Potsdamer Platz ficou quase 30 anos abandonada, sob o estigma de ex-vitrina capitalista.
Marco
Chegou a hora da vingança. As obras para o novo complexo que será a sede do festival já estão bastante adiantadas. O projeto é assinado pelos arquitetos Renzo Piano e Christian Kohlbecker.
Estão sendo erguidos um Palácio do Festival, com capacidade para 1.740 pessoas, e um multiplex que abrigará nove salas de cinema (Cinemaxx).
O Festival de Berlim deve utilizar ainda a nova sede da Cinemateca Alemã, que está sendo construída na mesma região com o apoio da Sony.
A transferência da sede inscreve no mapa de Berlim um novo marco da reunificação.
O festival nasceu em 1951 sob o signo da Guerra Fria. Foi uma iniciativa dos aliados que ocupavam a cidade, norte-americanos à frente. Um enclave capitalista por trás da cortina de ferro, a parte oeste de Berlim não poderia se furtar a exibir os encantos do cinema internacional.
Hollywood, curiosamente, não teve presença tão marcante quanto se poderia esperar.
A "Cinderella" de Disney venceu, sim, uma das quatro competições do ano de estréia, mas até a queda do muro (1989) apenas cinco outras produções americanas levaram o Urso de Ouro.
Para compensar, depois da reunificação, contam-se oito festivais -e cinco triunfos hollywoodianos.
Consagração européia
Berlim acabou se firmando como um festival de marcada ênfase européia.
Basta notar que o festival foi pioneiro na consagração de cineastas como Ingmar Bergman ("Morangos Silvestres", Urso de Ouro 1958), Claude Chabrol ("Os Primos", 59), Michelangelo Antonioni ("A Noite", 61), Jean-Luc Godard ("Alphaville", 65) e Roman Polanski ("Armadilha do Destino", 66), entre vários.
O espírito cosmopolita sempre prevaleceu sobre o germanismo, como prova a concessão de apenas cinco Ursos de Ouro a produções locais.
O espírito da détente, com o relaxamento das relações com o sistema socialista, demorou a vingar. Apenas em 1974 um filme soviético foi aceito na competição, e levou ainda mais um ano para que uma produção da Alemanha Oriental estreasse no evento.
Curiosamente, o primeiro Urso de Ouro germânico encenava uma história de amor impossível entre um Romeu do Ocidente e uma Julieta socialista.
"Quando o Amor É Pecado" ("Die Ratten", 1955) era assinado por Robert Siodmak, um dos homenageados pela retrospectiva deste ano.
Sua projeção, amanhã, de certa forma fecha um ciclo na história do festival.



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