São Paulo, quinta, 12 de fevereiro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Olafur Eliasson disse em São Paulo que deve criar uma obra que "mexa com a variação de temperatura"
Bienal anuncia participante dinamarquês

FERNANDO OLIVA
da Redação

A 24ª Bienal de São Paulo apresentou ontem o primeiro artista do segmento "Representações Nacionais". O dinamarquês Olafur Eliasson é o primeiro selecionado para ocupar o térreo do prédio da Bienal, escolhido para abrigar a seção.
Em entrevista coletiva na manhã de ontem, Eliasson disse ainda não saber exatamente o que pretende produzir para esta Bienal, já que o artista dialoga com o espaço em torno da obra -trabalho conhecido como "site-specific"- e, recém-chegado, ainda não teve tempo de observar o prédio.
"Provavelmente devo produzir algo que mexa com a variação de temperatura", afirma ele. "Pretendo inventar algo estritamente relacionado à cidade de São Paulo e que não possa, por exemplo, ser exposto na Alemanha."
"Hoje, Oslo, São Paulo, Copenhague são todas cidades muito parecidas, o que impõe uma padronização e generalização do que sentimos", acredita Eliasson. "Eu trabalho com a oposição a isso tudo, busco a individualização, quero produzir experiências únicas em cada obra."
Eliasson disse ainda que pode criar para a Bienal usando a luz natural do ambiente, como já aconteceu em outras oportunidades, como na instalação "'Your Sun Machine", quando ele abriu o círculo no teto de uma galeria, produzindo reflexos no chão de acordo com as variações da luz solar. "Dessa forma, tinha-se a impressão de que o espaço interno estava se movimentando com o passar do tempo", diz ele.
Eliasson costuma ser associado à tradição da arte povera italiana, movimento que produzia basicamente os elementos da natureza. "The Curious Garden"', por exemplo, recria um bosque dentro da galeria, com árvores secas de 3,5 metros de altura. Outras obras do artista trazem para espaços internos o movimento e as cores refletidas pela água. "Não pretendo apenas recriar a natureza, mas dar ao espectador a chance de experimentar e perceber por si só."
Van Gogh

Júlio Landmann, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, disse ontem que, a partir dessa edição, a designação "internacional" foi excluída do nome do evento, que volta a se chamar Bienal de São Paulo. "Com essa quantidade de artistas internacionais que vêm comparecendo há muito tempo, tornou-se uma enorme redundância dizer que o evento é internacional", disse ele.
De acordo com Landmann, também foi decidida a exclusão da sala especial do pintor Henri Matisse. "O material que conseguiríamos não seria de qualidade e nem de interesse da curadoria."
A sala Van Gogh foi confirmada e terá 20 telas do pintor holandês.
Mas Landmann avisa que a maioria dos artistas internacionais que integram as mostras especiais não terá tantas obras expostas: "Esta não é uma Bienal de espaços museológicos estanques, mas um conjunto antropofágico. A idéia não é fazer retrospectivas de Magritte, Munch ou Géricault". A 24ª edição da Bienal acontece entre os dias 4 de outubro e 13 de dezembro. Este ano o tema é antropofagia.




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