São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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Bom elenco é essencial, diz Craven



"Se a cena é potencialmente boa no papel, mas os atores não servem, a história morre"
ADRIANE GRAU
especial para a Folha, em Nova York

Wes Craven aterrorizou os adolescentes nos anos 80 com "A Hora do Pesadelo", tornando Freddy Krueger o ícone do terror teen. Mas a bilheteria não foi lá essas coisas, perto dos US$ 25 milhões.
Nos anos 90, ele alcançou o mesmo sucesso com "Pânico" e sua sequência, que misturam sustos e risos ao fazer citações de inúmeros filmes das décadas de 70 e 80. Só que os dois longas arrecadaram mais de US$ 200 milhões, só nos EUA. Leia a seguir sua entrevista.
Folha - Qual a melhor parte do sucesso tardio?
Wes Craven -
É divertido ter 58 anos e conseguir me comunicar tão bem com pessoas de 13.
Folha - Qual o segredo para se comunicar com o público jovem?
Craven -
Eu sempre estive cercado de adolescentes. Já fui professor, tenho filhos e estou sempre batendo papo com o público, inclusive pela Internet (www. wescraven.com). Apareço no meu website umas quatro vezes por semana. Também assisto MTV e escuto a mesma música que eles.
A maioria das pessoas da minha idade se incomoda com os jovens, argumentando que não os entendem e que escutam música muito alta.
Folha - Você ainda tinha esperanças de sair dos filmes B antes de fazer "Pânico"?
Craven -
Nunca pensei. "A Hora do Pesadelo" ganhou US$ 25 milhões. Achei inacreditável "Pânico" ganhar US$ 100 milhões. Mas nesse caso tratava-se de um filme que era extremamente acessível a um público muito amplo. Por ser assustador e esperto, reinventou o gênero pela centésima vez. Lançou também vários astros juvenis, o que é por si só uma novidade e atraiu mais público jovem.
Folha - Qual o segredo para fazer bons filmes de terror?
Craven -
O que descobri com o passar dos anos é que o elenco é a coisa mais importante além do roteiro. Se a cena é potencialmente boa no papel impresso, mas os atores não servem, a história morre.
E aí você tem que lidar com a tragédia de ter nas mãos algo que sabe que seria excelente, mas não deu em nada porque o ator ou a atriz não conseguiram se forçar ao ponto de realizar uma performance única.
Folha - Ainda é difícil conseguir os atores que quer?
Craven -
No roteiro original, Johnny Depp faria o papel de Billy no filme "Stab", que se passa dentro do outro filme. Mas ele se recusou a participar.
Folha - É mais difícil fazer terror que outros tipos de filme?
Craven -
Só na medida em que filmes de terror envolvem muita coragem emocional e habilidade de ir a lugares da mente que normalmente mantemos enterrados, como medo extremo, violência, insanidade e agressão extrema.
São áreas que os atores normalmente não exploram e, quando tentam, acabam caindo no clichê ou parecendo bobos.
Também é um filme cansativo fisicamente, com muita correria.
Folha - Por que você sabe tanto como manipular o medo alheio?
Craven -
Meu pai morreu quando eu tinha 4 anos e eu cresci em vizinhanças problemáticas, sempre ameaçado fisicamente. Ainda por cima era época de guerra e eu aprendi a viver com tal pavor.
Folha - Como as páginas do roteiro foram parar na Internet?
Craven -
Foi um site chamado "Ain't It Cool News". Colocaram as primeiras 40 páginas do roteiro na Internet.
Os espiões são os caras que trabalham nas salas de fotocópias. Colocam as páginas no scanner e aí todo mundo sabe o final do filme.
Mas estávamos trabalhando com uma história de mistério, na qual a grande surpresa estava no final. Por isso escrevemos outro roteiro e imprimimos em um papel que não pode ser xerocado ou escaneado.
Folha - Não é um caso de egomania ter seu próprio nome citado no filme?
Craven -
Talvez. Às vezes acho muito auto-indulgente. No primeiro filme eu tinha até eliminado tal fala.
Folha - Por que as sequências de filmes em geral desapontam?
Craven -
Sou contrário a sequências que são feitas já a partir da premissa de serem projetos inferiores e que nunca vão lucrar tanto. Aí acabam contratando diretores inexperientes.
Foi assim com "A Hora do Pesadelo 2". Acabaram escolhendo Renny Harlin , que fez um filme meio escandinavo, mas ainda assim interessante. Em geral, sequências ficam a cargo de diretores que não estão realmente no comando de sua arte.


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