São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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FESTIVAL
Retrospectiva mostra diversidade de estilos experimentados pelo cineasta cuja marca era derrubar tabus
Berlim homenageia o eclético Preminger

AMIR LABAKI
em São Paulo

Há muito Otto Preminger estava para merecer uma retrospectiva como a organizada pelo 49º Festival Internacional de Cinema de Berlim. O ecletismo de sua extensa obra (37 filmes em 47 anos atrás das câmeras) sempre desafiou classificações. Sua fama de autoritário não lhe valeu maiores simpatias. Treze anos depois de sua morte parece possível um exame menos parcial de seu legado.
Preminger (1906-1986) foi um dos primeiros cineastas independentes dos EUA. Trazido em 1935 para Hollywood de sua Viena natal, manteve sempre uma relação tensa com o estúdio que o convidou, a 20th Century-Fox. Em duas décadas, entrou, saiu, voltou e, por fim, rompeu com "a vida na fábrica de salsichas" -como definiu a produção nos grandes estúdios.
Filho de um advogado, Preminger estreou no teatro vienense, fez-se assistente de Max Reinhardt e até dirigiu seu primeiro filme ("Die Grosse Liebe", de 1931, um melodrama musical) antes de partir para o novo continente. Sua primeira passagem por Hollywood foi breve e didática. Dois filmes B, uma briga com o todo-poderoso Darryl F. Zanuck e eis Preminger fora de contrato tentando carreira no teatro nova-iorquino.
O sucesso como diretor e ator da comédia policial "Margin for Error" (1939), de Claire Booth Luce reabriu-lhe as portas da Fox. A primeira tarefa, claro, foi filmá-la.
Até o início dos anos 50, Preminger dirigiu em Hollywood mais de uma dezena de filmes. O filme "noir" seria seu forte ("Laura", "Passos na Noite"), mas tarefas de contratado levaram-no a tentar a mão em comédias de época, como "Czarina" (1945). Mas um título bastaria: "Laura" (1944).
A história do desaparecimento de uma mulher que Rouben Mamoulian começou a rodar como um policial romântico transformou-se num elegante, mas ácido, retrato da oligarquia americana quando Preminger pulou da cadeira de produtor para a de diretor. Salvar "Laura" representou seu primeiro grande triunfo em Hollywood -e a maior prova de que Preminger via além da estreita lógica do sistema.
Preminger encerrou em 1953 seus dias de cineasta assalariado. É como pioneiro produtor independente que se desenvolve o melhor de seu trabalho.
De cara, com a comédia romântica "Ingênua Até Certo Ponto" (1953), desafiou o reacionário código Hays ao usar a palavra "virgem". Furou o bloqueio e emplacou um grande sucesso.
Derrubar tabus tornou-se então a marca Preminger. "O Homem do Braço de Ouro" (1955) é ainda hoje um estupendo estudo sobre o vício em drogas. A fragilidade da verdade nas cortes americanas explode em "Anatomia de um Crime" (1959). "Tempestade sobre Wa- shington" (1962) mistura política e homossexualismo num retrato ainda insuperado dos bastidores do poder nos EUA.
Nos intervalos, Preminger testou todos os gêneros, à exceção da ficção científica. Deu-se bem em vários, como no delicado faroeste "O Rio das Almas Perdidas" (1954) e no musical -uma cópia restaurada de sua versão para "Porgy e Bess" (1958), de Gershwin, encerra na próxima semana Berlim-99. Tomara que corra o mundo.


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