São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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LIVRO/CRÍTICA Há melhores edições de "O Retrato" em sebos


MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

"O Retrato de Dorian Gray" só não é mais famoso do que seu extraordinário autor -o poeta, dramaturgo e romancista irlandês Oscar Wilde (1854-1900). É o exemplo mais bem-acabado do talento verbal desse escritor injustiçado pela moral burguesa de sua época, que morreu na miséria, abandonado pelos amigos, pela mulher e pelos filhos depois de ter sido preso e condenado por homossexualismo.
Único romance de Wilde, o livro, de 1891, conta a história do jovem e belo Dorian Gray, um dândi para quem a vida só vale a pena se for o desfrute constante do prazer e da arte e que não suporta a idéia de envelhecer.
Um dia Dorian ganha de um amigo pintor, Basil Hallward, um retrato em que se materializa toda a singularidade de sua beleza e juventude: "Dorian tinha sempre a aparência de alguém que se preservara da mácula do mundo", diz o narrador. "Na pureza de seu rosto havia algo que parecia censurá-los (os outros homens)". É com esse retrato de si mesmo que Dorian estabelece uma relação de cumplicidade fantasiosa contra a inexorabilidade do tempo: Ele somente envelhecerá no retrato, mantendo-se jovem para sempre.
Para se manter firme a seu propósito, não mede distâncias, vai afastando de seu caminho tudo o que se puser contra ele: a noiva Sibyl Vane, que se suicida, o amigo Basil, a quem ele mata. Ajudado pelo louco amigo Lorde Henry Wotton, Dorian vai aos poucos se entregando a seu delírio sem volta, em que o retrato vira a representação de sua própria alma a decair e definhar com o passar do tempo: "Mas... e o quadro? O que dizer a respeito do quadro? Ele continha o segredo de sua vida, contava-lhe a história. Ensinara-o a amar a própria beleza. Ensiná-lo-ia a abominar a própria alma? Iria, algum dia, olhá-lo de novo?".
Oscar Wilde foi um dos expoentes do "modernismo" inglês, adepto da concisão formal e da crítica radical à sociedade vitoriana. Suas provocadoras doutrinas estéticas e seus paradoxos espirituosos entre a vida e arte, o amor e arte etc. se tornaram dogmas de nossa época.
Essa edição da editora Civilização Brasileira, a mais recente, tem um erro de pontuação logo na primeira frase: "Sentia-se no atelier, um rico perfume de rosas e, quando a leve brisa de verão sussurrava por entre as árvores do jardim, vinha pela porta entreaberta a pesada fragrância do lilás (...)". Falta uma vírgula depois de "sentia-se".
Na página 14, outro erro, agora de digitação. Na primeira linha, do primeiro parágrafo, lê-se "há" em lugar de "já". Há melhores edições em sebos.

Livro: O Retrato de Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Lançamento: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 25


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