São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

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CRÍTICA

Os robôs também amam

DE PARIS

Nem é preciso olhar no dicionário para entender que "Discovery", o nome do novo disco do duo francês Daft Punk, quer dizer "descoberta".
Mas, talvez na lógica de Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem Christo, os nomes humanos por trás das máscaras de robô do Daft Punk, "Discovery" também queira dizer "redescoberta". Uma olhada para o passado com a experiência de quem já estava com os pés no futuro antes da maioria das pessoas.
O CD abre com "One More Time", música eletrônica que pode agradar a qualquer um. Se existe música eletrônica popular -porcarias não valem-, é isso que pode se dizer da música.
"Vamos comemorar mais uma vez", diz a letra, cantada em inglês e com a voz devidamente retorcida por vocoder -efeito que até Madonna passou a usar na voz, influenciada pela música eletrônica francesa.
Depois vem "Aerodynamic", um funk repetitivo, que abre espaço para solo metaleiro de guitarra. Bem à moda do Daft Punk, que gosta de repetir frases musicais à exaustão sem nunca soar chato. É a maneira particular deles de praticar transe.
Daí vem "Digital Love", uma balada dançante que invoca Supertramp pelo uso de teclados Wurlitzer, que eram marca registrada da banda que fazia hit atrás de hit nos anos 80.
"Harder, Better, Faster, Stronger" mistura o lado pop non-sense dos ingleses do The Cure, do começo dos anos 80, com a música eletrônica que se fazia naquela década, de grupos como o Depeche Mode.
A instrumental "Short Circuit" bem que parece ter saído do disco "Japanese Whispers", do The Cure. "Crescendolls" mistura a música eletrônica oitentista (quem se lembra de "Video Killed The Radio Star", do Buggles?) com disco music.
O disco segue promovendo um encontro feliz entre o pop eletrônico dos anos 80 e a disco music da década de 70. A house, ritmo que consagrou o Daft Punk no disco de estréia, entra mais como um adorno, uma maneira de amarrar as 14 músicas do CD.
Em "Something about Us", um funk arrastado, lento, o Daft Punk desacelera o ritmo de "Discovery" para falar de amor. "Preciso de você mais do que qualquer coisa na vida", diz a música. Então, robôs também amam.
(CLAUDIA ASSEF)


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