São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Duo francês faz hoje lançamento mundial de "Discovery"

"Autômatos" do Daft Punk fabricam segundo CD

CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

No alto-falante de um supermercado movimentado de Plaisance, bairro classe média de Paris, a música "One More Time", do duo francês Daft Punk, toca várias vezes por dia, entre anúncios de promoções de queijos e descontos nas gôndolas de perfumaria.
A alguns quilômetros dali, na Queen, badalada casa noturna que fica na avenida Champs-Elysées, a pista lota assim que a tal música começa a tocar.
"One More Time", a faixa que funciona tanto em entediantes tardes em supermercados quanto em pistas descoladas parisienses, é o primeiro single de "Discovery", novo e esperado disco do Daft Punk, que chega na madrugada de hoje às lojas de CDs do mundo todo.
Como o resto do disco, "One More Time" é música eletrônica acessível, quase irresistível, mas nem por isso burra.
Com apenas dois discos lançados na carreira, o Daft Punk, ou "punks idiotas", é o maior fenômeno da música moderna francesa. Eis o porquê:
1) Mesmo sem lançar disco em 2000, o Daft Punk foi o grupo francês que mais exportou CDs no ano passado: cerca de 2,5 milhões de cópias de "Homework", o disco de estréia, lançado em 97, foram vendidas nos quatro cantos do planeta;
2) O single de "One More Time" vendeu 400 mil cópias no mundo todo em dois meses. Detalhe: a música entrou direto no primeiro lugar das listas da mais tocadas em rádios na França, Japão, EUA e Canadá;
3) Com "Discovery", o grupo inaugura o Daft Club, um sistema inédito de download de música pela Internet. Inspirado no Napster, o Daft Club tem um mecanismo de proteção que só permite download -de versões exclusivas, videoclipes etc.- aos portadores do cartão Daft Club, que vem encartado no novo CD;
4) Depois de trabalhar com diretores de cinema concorridos, como Roman Copolla, o duo teve o clipe de "One More Time" realizado por Leiji Matsumoto, mestre japonês do mangá e de desenhos animados.

Robôs camaradas
Apesar do status de estrelas da música francesa, os parisienses Thomas Bangalter, 26, e Guy-Manuel de Homem Christo, 27, conseguem viver bem longe de qualquer tipo de assédio.
Isso porque desde que viraram Daft Punk, Bangalter e Homem Christo escondem os rostos atrás de máscaras.
Segundo eles, é uma maneira de manter os pés no chão. Ou como disse Bangalter, numa das poucas entrevistas concedidas à imprensa francesa: "As caras dos robôs são bem mais simpáticas que as nossas caras humanas". OK, então. Daí que os moços do Daft Punk são pessoas normais, que vão até a padaria da esquina sem que ninguém os incomode.
Depois do sucesso mundial de "Homework", que tinha hits explosivos como "Da Funk" e "Around the World", os "punks" que não têm nada de "idiotas" quiseram caprichar.
Fecharam-se durante dois anos em estúdio. Pesquisaram, ouviram, gravaram e regravaram. Até que "Discovery" ficou do jeito que eles queriam.
"A idéia era mesclar um pouco de tudo. Colocar heavy metal, por exemplo, no meio de uma fusão de soul, house e disco music. Não queríamos fazer outro "Homework'", resumiu Thomas Bangalter a uma revista francesa.
"Discovery" traz à tona um caldeirão de influências dos dois músicos: pop dos anos 80, disco music, funk (o bom e velho funk, sublinhe-se).
Quando formaram a primeira banda juntos, a Darlin, Bangalter e Homem Christo tinham 12 anos de idade. A música era só uma forma de vencer a timidez nos corredores da escola.
Hoje, 15 anos mais tarde, o Daft Punk é tudo o que os fãs da família Jetsons poderiam esperar de uma banda dos anos 2000: uma dupla de robôs bonzinhos que fazem música perfeita.


Disco: Discovery
Artista: Daft Punk
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 25 (em média)




Texto Anterior: Concerto/Crítica - Arthur Nestrovski: Osesp faz milagres com Bach
Próximo Texto: Crítica: Os robôs também amam
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.