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TELEVISÃO
Lei que determina horário de exibição enfrenta ações na Justiça; governo adia debate sobre qualidade da programação
Após 6 meses, controle à TV perde a força
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Seis meses depois de ter entrado
em vigor, a portaria 796, que determina a classificação dos programas de TV, enfrenta duas
ações na Justiça e não tem mais o
poder de impor às emissoras os
horários de exibição das atrações.
Os planos do governo de discutir com as emissoras e a sociedade
para procurar uma maneira de
melhorar a qualidade da programação na televisão também foram adiados.
Em entrevista à Folha, em outubro do ano passado, a secretária
nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, afirmou que o Ministério
da Justiça realizaria em dezembro
ou janeiro deste ano um seminário para discutir a televisão. Desse
encontro, que reuniria representantes dos meios de comunicação
e de associações ligadas ao interesse da criança e do adolescente,
sairia um "conselho revisor", que,
segundo Sussekind, serviria como
"ponte" entre o governo e a TV.
O seminário não aconteceu e a
negociação entre governo e emissoras se transformou em batalha
judicial. A Folha tentou durante
três dias entrevistar a secretária
nacional de Justiça sobre a portaria 796 e o seminário, mas ela não
atendeu a reportagem.
A portaria, assinada pelo ministro da Justiça, José Gregori, entrou em vigor em 12 de setembro
de 2000. O documento determina
que os programas de TV devem
ser classificados pelo ministério
como liberados ou não para menores de 12, 14, 16 e 18 anos. De
acordo com a faixa etária, a atração só pode ser exibida depois de
um determinado horário. Às
emissoras que não cumpram a
determinação, a portaria prevê
multas, com base no Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA).
Na época em que a portaria foi
publicada, as emissoras afirmaram temer a volta da censura. Em
dezembro, a Abert (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão) conseguiu uma liminar do Superior Tribunal de Justiça que libera a exibição dos programas em qualquer horário.
Roberto Pfeiffer, consultor jurídico do Ministério da Justiça, afirmou que o governo está esperando a definição da Justiça para rever o rumo que a portaria 796 irá
tomar. "Por enquanto, a classificação dos programas continua
sendo feita, mas, graças a uma liminar do Superior Tribunal de
Justiça, as emissoras não são obrigadas a cumpri-la", explica.
Nos bastidores, as TVs comemoram a rapidez com que conseguiram anular o efeito impositivo
do documento.
Além dos dois processos contra
a portaria, o movido pela Abert e
outro pelo Conselho Federal da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), uma ação contra o artigo
254 do Estatuto da Criança e do
Adolescente também tem como
objetivo dar liberdade à programação das emissoras.
O artigo prevê multa aos canais
que exibirem programas em "horários diverso do autorizado ou
sem aviso de classificação". A
ação foi movida pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), cujo
presidente, José Carlos Martinez,
é proprietário da CNT, emissora
de televisão do Paraná.
O advogado do PTB nessa ação,
Eros Grau, que também foi responsável pelo processo da Abert
contra a portaria, afirmou que "o
partido percebeu no estatuto uma
inconstitucionalidade". "A Constituição diz que a classificação deve ser indicativa e garante liberdade aos veículos de comunicação."
Liberdade total
Enquanto o Superior Tribunal
de Justiça não julga as ações movidas pela Abert e OAB e o Supremo Tribunal Federal não dá parecer sobre a ação do PTB contra o
ECA, as emissoras de TV estão livres para exibir os programas em
horários diferentes dos determinados pelo Ministério da Justiça e
não são obrigadas a indicar ao telespectador a classificação da
atração.
A Globo, apesar disso, continua
mantendo o aviso em seus programas. Antes das atrações, um
recado traz um texto que cita, inclusive, a portaria 796. "Sempre
respeitamos a classificação. O que
não podemos é aceitar uma lei
que nos traga de volta o risco da
censura."
Marcos Aragão, vice-presidente
da Record, também afirmou que
a emissora continuará respeitando os horários indicados pelo Ministério da Justiça.
A Bandeirantes se baseia em seu
código interno de ética. "Continuamos a favor da auto-regulamentação e contra a imposição",
afirma Marcelo Meira, vice-presidente da emissora.
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