São Paulo, Sexta-feira, 12 de Março de 1999
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"NíVEL CINCO"
Tragédia de Okinawa vira videogame"

da Equipe de Articulistas

"Nível Cinco", do veterano documentarista francês Chris Marker, é o cruzamento de duas ordens de interesses do diretor: a história social e as novas tecnologias.
As duas coisas se misturam no tecido fragmentário do filme: uma mulher (Catherine Belkhodja) tenta desenvolver um videogame sobre a batalha de Okinawa e acaba mergulhando na memória desse que foi um dos mais sangrentos episódios da Segunda Guerra, com um saldo de 150 mil mortos.
O modelo evidente do filme é o clássico "Hiroshima, Meu Amor" (1959), de Alain Resnais, "atualizado" para a era da informática.
Como a informática é algo que progride muito rápido, vulgarizando em dois tempos o que ontem parecia um prodígio, o lado de deslumbramento tecnológico do filme (realizado em 1997) hoje parece envelhecido.
A textura da imagem -captada em vídeo e entremeada de flashes de "realidade virtual", videogames e páginas da Internet- sofre com essa pretensão modernosa. O espectador pode ficar mareado antes do meio do filme.
O que resta de forte em "Nível Cinco" é a reconstituição da tragédia de Okinawa, a partir de imagens de época e dos depoimentos de sobreviventes.
Um deles, Shigeaki Kinjo -hoje um pastor protestante-, conta que matou a própria mãe pouco antes de a ilha ser invadida pelos americanos.
Como milhares de conterrâneos, tinha acreditado na propaganda de guerra nipônica, segundo a qual o inimigo submetia seus prisioneiros a torturas cruéis antes de matá-los.
Pena que o impacto desse tipo de informação acabe se diluindo em meio aos inconsequentes e aborrecidos jogos multimídia do filme. Modernidade é uma coisa que fica velha muito depressa.
(JGC)
Filme: Nível Cinco Produção: França, 1997 Direção: Chris Marker Com: Catherine Belkhodja, Nagisa Oshima, Kenji Tokitsu Quando: a partir de hoje, na Cinemateca

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