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"NíVEL CINCO"
Tragédia de Okinawa vira videogame"
da Equipe de Articulistas
"Nível Cinco", do veterano documentarista francês Chris Marker, é o cruzamento de duas ordens de interesses do diretor: a história social e as novas tecnologias.
As duas coisas se misturam no
tecido fragmentário do filme: uma
mulher (Catherine Belkhodja) tenta desenvolver um videogame sobre a batalha de Okinawa e acaba
mergulhando na memória desse
que foi um dos mais sangrentos
episódios da Segunda Guerra, com
um saldo de 150 mil mortos.
O modelo evidente do filme é o
clássico "Hiroshima, Meu Amor"
(1959), de Alain Resnais, "atualizado" para a era da informática.
Como a informática é algo que
progride muito rápido, vulgarizando em dois tempos o que ontem parecia um prodígio, o lado de
deslumbramento tecnológico do
filme (realizado em 1997) hoje parece envelhecido.
A textura da imagem -captada
em vídeo e entremeada de flashes
de "realidade virtual", videogames
e páginas da Internet- sofre com
essa pretensão modernosa. O espectador pode ficar mareado antes
do meio do filme.
O que resta de forte em "Nível
Cinco" é a reconstituição da tragédia de Okinawa, a partir de imagens de época e dos depoimentos
de sobreviventes.
Um deles, Shigeaki Kinjo -hoje
um pastor protestante-, conta
que matou a própria mãe pouco
antes de a ilha ser invadida pelos
americanos.
Como milhares de conterrâneos,
tinha acreditado na propaganda
de guerra nipônica, segundo a qual
o inimigo submetia seus prisioneiros a torturas cruéis antes de matá-los.
Pena que o impacto desse tipo de
informação acabe se diluindo em
meio aos inconsequentes e aborrecidos jogos multimídia do filme.
Modernidade é uma coisa que fica
velha muito depressa.
(JGC)
Filme: Nível Cinco
Produção: França, 1997
Direção: Chris Marker
Com: Catherine Belkhodja, Nagisa Oshima,
Kenji Tokitsu
Quando: a partir de hoje, na Cinemateca
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