São Paulo, Sexta-feira, 12 de Março de 1999
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MPB
Cantor apresenta a última semana de "Olhos de Farol", no Olympia, sem medo de retomar antigos sucessos
Ney Matogrosso faz show como o povo gosta

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Ney Matogrosso, 57 (acredite!), volta hoje ao palco do Olympia para a última semana de sua curta temporada em São Paulo com duas certezas: no show "Olhos de Farol" deu o que todos queriam, mas sem fazer qualquer concessão.
Ney é o mesmo. Extravagante, ousado e eclético, um dos poucos que é capaz de mover as montanhas do preconceito e arrebanhar uma legião de fãs, sem distinção de sexo, gênero ou idade.
"Esses anos todos, sempre me pediram um show como os que eu fazia antigamente. Eu tinha pudores do tipo "estou voltado para a memória da MPB com seriedade" e esquecia um lado que é brincalhão também", disse.
O desfile começa com "Mulher Barriguda", que Ney recuperou de seus tempos de Secos e Molhados. Com esse show, o cantor superou de vez os dedos que tinha ao cantar composições do grupo que o lançou. Logo depois virão "Sangue Latino" e "O Vira".
Ney está muito à vontade no palco. Esbanja uma forma física invejável, algo que o faz usar e abusar de seu corpo nu. Ney canta sempre sem camisa e chega a simular um striptease e admirar-se em frente a um espelho, para levar o público ao delírio.
"Isso faz parte de uma imagem que as pessoas me pedem. É uma brincadeira em cima do tema. Em 1977, com "Bandido", essa sexualidade era verdade. Eu desejava me explicitar para a multidão. Hoje é uma brincadeira sobre o tema, mas vindo de mim sempre parece forte. Mas na intimidade eu não tenho mais necessidade de me expor. Hoje eu estou bem tranquilo. Estou realizando essas fantasias, mas apenas nesse nível estratosférico que é o palco", disse.
Rita Lee, a autora de "Bandido", ainda enriquece o repertório com "Com a Boca no Mundo" e com o mambo-rock "Viralata de Raça" (parceria com o filho Beto Lee). Esta última traz em seus versos um dos paradigmas do cantor: ser marginal e herói, como anteriormente havia pregado o artista plástico carioca Hélio Oiticica.
"A Rita me saca muito. Sempre vivi à margem, mesmo antes de ser artista, mas por opção. Eu não compactuo com esse mundo do jeito que ele é. Sou marginal sim, mas por opção. Também sou um herói, mas de mim mesmo, já que consigo sobreviver sem precisar caminhar nos trilhos já indicados, sem precisar mentir ou ser hipócrita", disse.

Cenário barroco
Essa postura se explicita ainda na seleção de um repertório repleto de "marginais" ou revelações da MPB, como Itamar Assumpção e Alzira Espíndola, Lenine, Pedro Luís, Paulinho Moska e outros. "Eu canto faixas do novo CD, mas abro o repertório para coisas que eu achava engraçado cantar, músicas que eu gostava de ouvir nas décadas de 80 e 90, tempo em que eu estive afastado desse tipo de repertório", afirmou.
Mesmo sem os penachos do início da carreira, Ney promove um espetáculo dionisíaco. Mesmo as faixas mais intimistas, em que não explicita tanto sua expressão corporal, acabam recebendo algum privilégio, como o tratamento de luz, que só não é mais festivo para não concorrer com o barroco cenário de Cláudio Tovar, que também agrada, pois é a cara de Ney.

Show: Olhos de Farol, com Ney Matogrosso Músicos: Ricardo Silveira (guitarra e violão); Zé Nogueira, Márico Montarroyos e Chico Sá (sopros); Orlando Costa e Leonardo Reis (percussão); Cláudio Enfante (bateria); Artur Maia (baixo); Leandro Braga (teclados) Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, tel. 011/252-6255, Lapa) Quando: hoje e amanhã, às 22h30; domingo, às 21h Quanto: R$ 60 (camarote e setor vip), R$ 50 (setor A), R$ 40 (setor C) e R$ 25 (setor B) Patrocinador: Chevrolet


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