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MPB
Cantor apresenta a última semana de "Olhos de Farol", no Olympia, sem medo de retomar antigos sucessos
Ney Matogrosso faz show como o povo gosta
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Ney Matogrosso, 57 (acredite!),
volta hoje ao palco do Olympia para a última semana de sua curta
temporada em São Paulo com
duas certezas: no show "Olhos de
Farol" deu o que todos queriam,
mas sem fazer qualquer concessão.
Ney é o mesmo. Extravagante,
ousado e eclético, um dos poucos
que é capaz de mover as montanhas do preconceito e arrebanhar
uma legião de fãs, sem distinção de
sexo, gênero ou idade.
"Esses anos todos, sempre me
pediram um show como os que eu
fazia antigamente. Eu tinha pudores do tipo "estou voltado para a
memória da MPB com seriedade" e
esquecia um lado que é brincalhão
também", disse.
O desfile começa com "Mulher
Barriguda", que Ney recuperou de
seus tempos de Secos e Molhados.
Com esse show, o cantor superou
de vez os dedos que tinha ao cantar
composições do grupo que o lançou. Logo depois virão "Sangue
Latino" e "O Vira".
Ney está muito à vontade no palco. Esbanja uma forma física invejável, algo que o faz usar e abusar
de seu corpo nu. Ney canta sempre
sem camisa e chega a simular um
striptease e admirar-se em frente a
um espelho, para levar o público
ao delírio.
"Isso faz parte de uma imagem
que as pessoas me pedem. É uma
brincadeira em cima do tema. Em
1977, com "Bandido", essa sexualidade era verdade. Eu desejava me
explicitar para a multidão. Hoje é
uma brincadeira sobre o tema,
mas vindo de mim sempre parece
forte. Mas na intimidade eu não tenho mais necessidade de me expor. Hoje eu estou bem tranquilo.
Estou realizando essas fantasias,
mas apenas nesse nível estratosférico que é o palco", disse.
Rita Lee, a autora de "Bandido",
ainda enriquece o repertório com
"Com a Boca no Mundo" e com o
mambo-rock "Viralata de Raça"
(parceria com o filho Beto Lee). Esta última traz em seus versos um
dos paradigmas do cantor: ser
marginal e herói, como anteriormente havia pregado o artista plástico carioca Hélio Oiticica.
"A Rita me saca muito. Sempre
vivi à margem, mesmo antes de ser
artista, mas por opção. Eu não
compactuo com esse mundo do
jeito que ele é. Sou marginal sim,
mas por opção. Também sou um
herói, mas de mim mesmo, já que
consigo sobreviver sem precisar
caminhar nos trilhos já indicados,
sem precisar mentir ou ser hipócrita", disse.
Cenário barroco
Essa postura se explicita ainda na
seleção de um repertório repleto
de "marginais" ou revelações da
MPB, como Itamar Assumpção e
Alzira Espíndola, Lenine, Pedro
Luís, Paulinho Moska e outros.
"Eu canto faixas do novo CD, mas
abro o repertório para coisas que
eu achava engraçado cantar, músicas que eu gostava de ouvir nas décadas de 80 e 90, tempo em que eu
estive afastado desse tipo de repertório", afirmou.
Mesmo sem os penachos do início da carreira, Ney promove um
espetáculo dionisíaco. Mesmo as
faixas mais intimistas, em que não
explicita tanto sua expressão corporal, acabam recebendo algum
privilégio, como o tratamento de
luz, que só não é mais festivo para
não concorrer com o barroco cenário de Cláudio Tovar, que também agrada, pois é a cara de Ney.
Show: Olhos de Farol, com Ney Matogrosso
Músicos: Ricardo Silveira (guitarra e violão);
Zé Nogueira, Márico Montarroyos e Chico Sá
(sopros); Orlando Costa e Leonardo Reis
(percussão); Cláudio Enfante (bateria); Artur
Maia (baixo); Leandro Braga (teclados)
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, tel. 011/252-6255, Lapa)
Quando: hoje e amanhã, às 22h30;
domingo, às 21h
Quanto: R$ 60 (camarote e setor vip), R$ 50
(setor A), R$ 40 (setor C) e R$ 25 (setor B)
Patrocinador: Chevrolet
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