Obra traz aventura do investigador Reg Wexford, personagem das principais tramas da autora inglesa

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não é obcecado pelo método como Sherlock Holmes, não tem a perspicácia de Miss Marple nem a petulância de Hercule Poirot. Ainda assim, o personagem Reg Wexford cumpre com sucesso o dever imposto pela herança literária que recebeu: o de investigar crimes sangrentos no tradicional romance policial inglês.
Wexford é o principal protagonista dos livros de suspense da escritora inglesa Ruth Rendell, 71. A mais recente de suas aventuras a ser lançada no Brasil é "Herança de Sangue", que chega segunda-feira às livrarias.
Apesar de negar uma influência direta de Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes) e de Agatha Christie (de Miss Marple e de Poirot), Ruth Rendell considera que os romances de mistério ingleses têm características em comum: "Esses livros são populares porque trazem histórias familiares".
Em "Herança de Sangue", Wexford investiga um triplo assassinato ocorrido em Tancred House, uma mansão próxima a um vilarejo do interior da Inglaterra. Ali são mortos os donos da casa: Davina Flory, uma velha escritora de livros de aventura, seu marido, Harvey Copeland, um ex-membro do Parlamento inglês, e a filha. A única sobrevivente do massacre é a neta de Davina, a jovem Daisy, que também é alvejada pelo assassino, mas sobrevive.
Dois dos corpos são encontrados junto à mesa de jantar -o sangue misturando-se à comida-, enquanto o terceiro tomba a caminho da escada, deixando uma trilha vermelha atrás de si.
Ao ver esse cenário, o investigador Wexford deduz que imagem tão chocante poderia ter causado impacto nos assassinos e alterado o crime no momento em que acontecia. "Lembrou-se de lady Macbeth. Ninguém a suplantara em 400 anos. Ninguém dissera nada mais psicologicamente profundo. Quem haveria de pensar que as pessoas tinham tanto sangue dentro delas?"
Sensível -chega a enojar-se ao segurar uma bala que esteve alojada no corpo de uma vítima-, Wexford utiliza o impacto da cena para destrinchar a trama.
A cada passo da investigação, Rendell aproveita para inserir suas preocupações com as transformações na sociedade inglesa.
Tão variadas quanto as estratégias de Wexford, suas críticas dirigem-se a hábitos aristocráticos, conflitos de gerações, violência doméstica, problemas de habitação no campo e violência urbana -todas sutilmente entranhadas nas falas dos personagens. Chegam até a abordar questões prosaicas da vida inglesa: "Como o mundo conseguira sobreviver antes da invenção dos sacos de plástico em forma de cunha para sanduíches?", pergunta-se Wexford, entre um crime e outro.