São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

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Universo paralelo


CDs de Objeto Amarelo e Fellini são ótimos lançamentos que quase ninguém vai ouvir


CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois lançamentos de peso do pop rock brasileiro estão prestes a sair do forno. Mas você não vai ver festa de lançamento, anúncio em revista nem muito menos vai ouvir no rádio.
Um deles é o ótimo e barulhento "Panzer Tunel", da banda paulistana Objeto Amarelo. Com 38 músicas em pouco mais de uma hora de gravação, o disco é uma amostra compacta do conhecimento musical indie de Carlos Issa, 30, o idealizador do Objeto.
Com influências de rock básico ["The Fall, Will Oldham, Jonathan Richman"", o OA chega ao segundo disco com status de superbanda... do universo indie (leia sobre a cena no quadro abaixo).
Enquanto as grandes gravadoras demitem artistas e declaram guerra à troca de música pela internet, os pequenos selos são a única vitrine para artistas substanciais, como Issa.
"Não acho que a crise atinja os selos independentes. Eles têm estrutura pequena, não têm muito para ser perdido. O maior indício disso é que enquanto nos últimos anos a grande indústria protagonizou uma derrocada sem precedentes, os independentes só fizeram crescer e se profissionalizar", diz Carlos Farinha, dono da loja Bizarre, em São Paulo.
Desde que virou selo, a Bizarre já lançou boas bandas da nova geração indie, entre elas Sala Especial, Monokini, o duo impagável National e o Objeto Amarelo.
O outro lançamento que vai abalar a comunidade indie é a volta do Fellini. O grupo foi um dos mais respeitados do rock brasileiro nos anos 80 e volta, na mesma formação, após 12 anos. O disco "Amanhã É Tarde" é o quinto álbum do Fellini. O som fica bem perto daquele que transformou a dupla Cadão Volpato e Thomas Pappon em objeto cult nos 80.
Com um integrante -Pappon- morando em Londres e outro em São Paulo, as perspectivas de shows são pequenas: "O disco já deu um trabalho dos diabos, nem consigo imaginar como seria a organização de ensaios e shows", diz Pappon.
Mesmo com um nome forte, o Fellini novo sai por um selo independente, o carioca Midsummer Madness. "Acredito no pop como forma de expressão artística, e não só como um ramo da indústria do entretenimento. E os artistas mais criativos ou importantes não são exclusividade das grandes gravadoras", teoriza Pappon.
Seu novo chefe, Rodrigo Lariú, da Midsummer Madness, diz que mesmo conhecidos, alguns artistas devem mesmo manter-se no mercado segmentado.
"Um lançamento como o Fellini pode vender 50, 60 cópias por mês, o que é muito bom. E tem vantagens... Por exemplo, você nunca vai ver um Fellini numa banquinha de CDs piratas", diz Lariú. O Fellini é o primeiro artista do selo a ganhar código de barras: "Vamos poder vender no supermercado", comemora Lariú.
Mas e o tamanho desse mercado? Levando-se em conta que cada selo consegue manter um mailing de 3.000, 4.000 pessoas... "Deve girar em torno de 20 mil fãs... desses bem xiitas, que ficam ligando para ver se tal disco chegou", calcula o dono do MM.
E, pergunta básica, como comprar esses discos, se o esquema de distribuição dos selos indie é quase inexistente? Quem explica é Léo Bigode, da Monstro Discos, de Goiânia: "Funciona basicamente de três maneiras: internet, banquinha em shows e correio".



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