São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2011

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Distribuidores de filmes trocam farpas em conversa por e-mail

Pivô da polêmica foi José Padilha, diretor de "Tropa de Elite 2"

DE SÃO PAULO

Foi José Padilha quem jogou lenha na fogueira. Ao declarar, num painel do Rio Content Market, realizado no mês passado, que "o modelo atual de distribuição de filmes só penaliza o produtor", o diretor de "Tropa de Elite 2" deu início a uma contenda que tem lotado a caixa de e-mails de algumas das mais importantes figuras do mercado de cinema do Brasil.
O cabo de guerra mobilizou Jorge Peregrino, vice-presidente da Paramount na América Latina, Carlos Eduardo Rodrigues, diretor da Globo Filmes, Bruno Wainer, sócio da distribuidora Downtown, e os produtores Luiz Carlos Barreto, um dos mais longevos do país, e Diler Trindade, que pôs de pé filmes do Didi e da Xuxa.
A troca de e-mails, seguida pela reportagem, copiada nos remetentes, tem duas facetas. Uma delas é anedótica. A outra diz respeito à política audiovisual brasileira.

DRINKS E ROTEIROS
Faz parte da anedota a maneira pela qual Barretão, egresso do Cinema Novo, dirige-se aos colegas: "Prezados companheiros e parceiros da grande aventura do Cinema Brasileiro".
É também carregada de ironia a referência que Padilha faz a Peregrino: "É por isso [as dificuldades financeiras enfrentadas pelo cinema brasileiro] que enquanto o meu amigo Jorge [Peregrino, da Paramount] toma seu drink e lê seus roteiros, eu aqui tomo café com leite e leio planos de negócios... Eta vida dura esta de produtor!".
Padilha, com a provocação, quer dizer que, no Brasil, os produtores estão à mercê das subsidiárias de Hollywood, que, a seu ver, deitam e rolam. Essas empresas, além dos lucros obtidos com a exploração do filme norte-americano no Brasil, podem usufruir de incentivo fiscal caso resolvam entrar nas produções nacionais.
"No Brasil, os distribuidores fazem um investimento minoritário no custo total dos filmes e de sua distribuição", escreve o diretor de "Tropa 2". "Correm o menor risco. Mesmo assim, ficam com a maior parte da receita."

NOVO MODELO
Padilha propõe que, para se livrarem dessa lógica, os produtores brasileiros passem a fazer o que ele fez com seu blockbuster, ou seja, que coloquem eles próprios seus filmes nas salas, contratando um serviço de distribuição.
Para o leitor, a proposta pode soar até razoável. Acontece que, historicamente, a indústria é dividida em três pilares: produção, distribuição e exibição.
"O Brasil tem mania de inventar a roda, sempre...", reagiu Peregrino. "Você pinta o distribuidor como um explorador dos pobres e desprotegidos produtores", respondeu Wainer.
Já o diretor da GloboFilmes registrou que, ao tentar implantar modelo semelhante ao proposto por Padilha, a empresa recebeu um redondo não dos acionistas. "As contas não fechavam", retrucou Rodrigues, numa das dezenas de páginas de e-mails.
(ANA PAULA SOUSA)


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