São Paulo, segunda, 12 de maio de 1997.



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Erzalow faz apresentação única em SP

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

O bailarino e coreógrafo norte-americano Daniel Ezralow, que já esteve no Brasil com os grupos Momix e Iso Dance Theatre, está de volta para apresentar somente amanhã, no Sérgio Cardoso, o espetáculo "Mandala".
Marcando nova fase na carreira de Ezralow, que agora atua como intérprete solo, "Mandala" é uma obra multimídia que estabelece uma fusão entre as imagens de filmes projetadas em telões e a dança ao vivo realizada pelo bailarino.
Apesar da forte presença da tecnologia, Ezralow procura promover um encontro com a espiritualidade em "Mandala", que tem o livro "Sidharta", de Herman Hesse, como uma de suas fontes.
Depois de integrar no início da carreira companhias como Pilobolus e Paul Taylor, Ezralow passou a pesquisar meios capazes de estimular diferentes níveis de percepção -algo que já ocorria no Momix e Iso. Em "Mandala", deixou aflorar seu lado místico, representado pela viagem interior que o espetáculo sugere.

Folha - Por que você trocou os grupo Momix e Iso pela carreira solo?
Daniel Ezralow -
Momix foi um grupo que criei e construí. Em certo momento, nossas opiniões divergiram, nos dividimos, e criei o Iso. Essas mudanças ocorreram naturalmente. Acho que a busca de um caminho próprio faz parte da evolução de todo artista. Embora eu venha realizando um trabalho independente há algum tempo, "Mandala" é meu primeiro solo.
Folha - O que mudou em seu trabalho?
Ezralow -
As experiências com Pilobolus, Momix, Iso, Paul Taylor, continuam dentro de mim de alguma forma. Mas muita coisa mudou. Hoje eu tenho coisas diferentes para dizer. A proposta do Pilobolus é expressar coisas interessantes por meio do corpo, por meio da interação que ocorre a partir do contato físico entre os bailarinos. Momix, por sua vez, procura dizer coisas interessantes por meio do corpo e de truques teatrais. Lida com idéias muito claras, encenadas com peças curtas.
Depois de experimentar essas propostas, senti necessidade de explorar um caminho diferente. Não quero me sentir limitado pelo corpo ou pelo teatro. Como fruto deste momento, "Mandala" é uma peça de longa duração, que procura trabalhar com um conteúdo mais abrangente, profundo e mais próximo de minhas verdades pessoais.
Folha - Como você relaciona tecnologia e espiritualidade?
Ezralow -
É muito difícil definir espiritualidade. Para mim, talvez signifique uma profunda consciência sobre a vida. Artisticamente, hoje procuro expressar minha vida interior, minhas emoções mais profundas e as técnicas do vídeo e do computador me ajudam a expressar isso. O mais importante é entender que a tecnologia não deve se sobrepor à emoção, não deve ser um fim, mas um meio. Devemos nos servir dela, sem temê-la. Atualmente, muita gente ama a tecnologia, mas há também os que a temem. Na verdade, a tecnologia deve ser vista como um sistema simples, que pode nos trazer belos resultados. Dentro de meu fazer artístico, a tecnologia é utilizada meramente como um instrumento.
Folha - Como é sua abordagem da dança hoje? Embora você esteja em busca de novos caminhos, não parece preocupado em inovar...
Ezralow -
Não estou preocupado em inovar, mas em pesquisar novas formas de me expressar em cena e, nesse sentido, a improvisação continua sendo a base de meu processo criativo. Em "Mandala", a dança não veio de estímulos externos, mas sim de questões e sensações internas.
Folha - Como foi a "coleta" de material para "Mandala"?
Ezralow -
Selecionei grande quantidade de imagens, captadas em cenas e paisagens da Itália, Finlândia e Estados Unidos. Ao editá-las, comecei a ouvir muitas músicas, acho que as músicas que ouvi nos últimos dez anos, e nesse processo fui descobrindo relações entre imagens e sons. A partir daí, começou o processo de entendimento sobre o que eu me propunha a fazer, sobre a ordem que as cenas deveriam ter. Outro desafio foi integrar meu corpo a tudo isso, uma vez que as imagens não funcionam como a história convencional de um filme.
Folha - Em "Mandala" você parece tentar alcançar uma condição imaterial do corpo...
Ezralow -
Sim, tento fazer com que meu corpo se torne parte das imagens, de maneira que a dança não seja determinada pelo meu corpo. Na verdade, a dança é a integração de meu corpo com as imagens do filme e, por vezes, as imagens são a própria dança.

Espetáculo: Mandala, com Daniel Ezralow
Quando: amanhã, 21h
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 011/288-0136)
Quanto: R$ 25 e R$ 40 (vendas pelo tel. 011/3968-0164)







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