|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Erzalow faz apresentação única em SP
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
O bailarino e coreógrafo norte-americano Daniel Ezralow, que já
esteve no Brasil com os grupos
Momix e Iso Dance Theatre, está
de volta para apresentar somente
amanhã, no Sérgio Cardoso, o espetáculo "Mandala".
Marcando nova fase na carreira
de Ezralow, que agora atua como
intérprete solo, "Mandala" é uma
obra multimídia que estabelece
uma fusão entre as imagens de filmes projetadas em telões e a dança
ao vivo realizada pelo bailarino.
Apesar da forte presença da tecnologia, Ezralow procura promover um encontro com a espiritualidade em "Mandala", que tem o livro "Sidharta", de Herman Hesse,
como uma de suas fontes.
Depois de integrar no início da
carreira companhias como Pilobolus e Paul Taylor, Ezralow passou a pesquisar meios capazes de
estimular diferentes níveis de percepção -algo que já ocorria no
Momix e Iso. Em "Mandala", deixou aflorar seu lado místico, representado pela viagem interior
que o espetáculo sugere.
Folha - Por que você trocou os
grupo Momix e Iso pela carreira solo?
Daniel Ezralow - Momix foi um
grupo que criei e construí. Em certo momento, nossas opiniões divergiram, nos dividimos, e criei o
Iso. Essas mudanças ocorreram
naturalmente. Acho que a busca de
um caminho próprio faz parte da
evolução de todo artista. Embora
eu venha realizando um trabalho
independente há algum tempo,
"Mandala" é meu primeiro solo.
Folha - O que mudou em seu trabalho?
Ezralow - As experiências com
Pilobolus, Momix, Iso, Paul Taylor, continuam dentro de mim de
alguma forma. Mas muita coisa
mudou. Hoje eu tenho coisas diferentes para dizer. A proposta do
Pilobolus é expressar coisas interessantes por meio do corpo, por
meio da interação que ocorre a
partir do contato físico entre os
bailarinos. Momix, por sua vez,
procura dizer coisas interessantes
por meio do corpo e de truques
teatrais. Lida com idéias muito claras, encenadas com peças curtas.
Depois de experimentar essas
propostas, senti necessidade de
explorar um caminho diferente.
Não quero me sentir limitado pelo
corpo ou pelo teatro. Como fruto
deste momento, "Mandala" é
uma peça de longa duração, que
procura trabalhar com um conteúdo mais abrangente, profundo
e mais próximo de minhas verdades pessoais.
Folha - Como você relaciona tecnologia e espiritualidade?
Ezralow - É muito difícil definir
espiritualidade. Para mim, talvez
signifique uma profunda consciência sobre a vida. Artisticamente, hoje procuro expressar minha
vida interior, minhas emoções
mais profundas e as técnicas do vídeo e do computador me ajudam a
expressar isso. O mais importante
é entender que a tecnologia não
deve se sobrepor à emoção, não
deve ser um fim, mas um meio.
Devemos nos servir dela, sem temê-la. Atualmente, muita gente
ama a tecnologia, mas há também
os que a temem. Na verdade, a tecnologia deve ser vista como um
sistema simples, que pode nos trazer belos resultados. Dentro de
meu fazer artístico, a tecnologia é
utilizada meramente como um
instrumento.
Folha - Como é sua abordagem
da dança hoje? Embora você esteja
em busca de novos caminhos, não
parece preocupado em inovar...
Ezralow - Não estou preocupado em inovar, mas em pesquisar
novas formas de me expressar em
cena e, nesse sentido, a improvisação continua sendo a base de meu
processo criativo. Em "Mandala",
a dança não veio de estímulos externos, mas sim de questões e sensações internas.
Folha - Como foi a "coleta" de
material para "Mandala"?
Ezralow - Selecionei grande
quantidade de imagens, captadas
em cenas e paisagens da Itália, Finlândia e Estados Unidos. Ao editá-las, comecei a ouvir muitas músicas, acho que as músicas que ouvi nos últimos dez anos, e nesse
processo fui descobrindo relações
entre imagens e sons. A partir daí,
começou o processo de entendimento sobre o que eu me propunha a fazer, sobre a ordem que as
cenas deveriam ter. Outro desafio
foi integrar meu corpo a tudo isso,
uma vez que as imagens não funcionam como a história convencional de um filme.
Folha - Em "Mandala" você parece tentar alcançar uma condição
imaterial do corpo...
Ezralow - Sim, tento fazer com
que meu corpo se torne parte das
imagens, de maneira que a dança
não seja determinada pelo meu
corpo. Na verdade, a dança é a integração de meu corpo com as
imagens do filme e, por vezes, as
imagens são a própria dança.
Espetáculo: Mandala, com Daniel Ezralow
Quando: amanhã, 21h
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153, tel. 011/288-0136)
Quanto: R$ 25 e R$ 40 (vendas pelo tel.
011/3968-0164)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|