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CRÍTICA
Filme organiza antologia de vida e obra do poeta
ESPECIAL PARA A FOLHA
"C RUZ E SOUSA - O
Poeta do Desterro", de
Sylvio Back, é um filme necessário. Baseia-se na vida e na obra de
um dos maiores poetas brasileiros
da segunda metade do século 19,
considerado por alguns como integrante imprescindível do simbolismo internacional.
Embora tenha motivação emocionante, não se trata de cinema
no sentido canônico do termo,
com personagens, trama, tema e
atmosfera próprios.
O diretor Sylvio Back optou pela
fusão de elementos biográficos
com a contínua leitura dramática
de textos, criando talvez um gênero novo de cinema entre nós, apto
a satisfazer a ânsias moderadas de
ficção e de documentário.
Assim como a poesia de Cruz e
Sousa, o filme de Sylvio Back baseia-se no princípio de justaposição de cenas independentes, sem
muita preocupação subordinativa. Se isso funciona como um tributo estrutural ao estilo compositivo do poeta, prejudica um pouco o dinamismo da produção.
O filme representa aspectos da
euforia juvenil e do suplício final
do poeta, enfatizando a pobreza
excessiva, o desamparo moral de
um artista negro em sociedade escravista, a maldição da tuberculose, a morte precoce e a loucura de
Gavita (Maria Ceiça), sua mulher.
Entre os quadros biográficos,
intercalam-se as leituras. Nessa
operação, imaginou-se Cruz e
Sousa (Kadu Carneiro) dizendo
os próprios poemas, como se fossem expressão espontânea de situações vivenciadas em sua atormentada existência. O ponto alto
do filme consiste no projeto de organizar uma antologia cinematográfica de Cruz e Sousa, em que as
imagens estão a serviço dos textos, ilustrados com a dramatização de cenas mudas. A obra resultou numa curiosa superposição
de cinema falado e cinema mudo.
Malgrado a concepção conservadora das leituras, há momentos
convincentes. E uma vez que se
aceite a concepção adotada, todas
funcionam bem.
Back, responsável também pelo
roteiro, esteve muito inspirado ao
idealizar uma visita do poeta a
uma sessão de candomblé. O filme, com ótima pesquisa musical
(de Silvia Beraldo), conta ainda
com a inclusão de uma cantiga iorubá, esplendidamente interpretada por Danielle Ornelas. No fim,
há uma cena de Carnaval, o que
intensifica o pendor caleidoscópico desse oscilante e notável "Cruz
e Sousa".
(IVAN TEIXEIRA)
Cruz e Sousa - O Poeta do Desterro
Diretor: Sylvio Back
Produção: Brasil, 1999
Com: Kadu Carneiro, Maria Ceiça
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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