São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2000


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CRÍTICA

Filme organiza antologia de vida e obra do poeta

ESPECIAL PARA A FOLHA

"C RUZ E SOUSA - O Poeta do Desterro", de Sylvio Back, é um filme necessário. Baseia-se na vida e na obra de um dos maiores poetas brasileiros da segunda metade do século 19, considerado por alguns como integrante imprescindível do simbolismo internacional.
Embora tenha motivação emocionante, não se trata de cinema no sentido canônico do termo, com personagens, trama, tema e atmosfera próprios.
O diretor Sylvio Back optou pela fusão de elementos biográficos com a contínua leitura dramática de textos, criando talvez um gênero novo de cinema entre nós, apto a satisfazer a ânsias moderadas de ficção e de documentário.
Assim como a poesia de Cruz e Sousa, o filme de Sylvio Back baseia-se no princípio de justaposição de cenas independentes, sem muita preocupação subordinativa. Se isso funciona como um tributo estrutural ao estilo compositivo do poeta, prejudica um pouco o dinamismo da produção.
O filme representa aspectos da euforia juvenil e do suplício final do poeta, enfatizando a pobreza excessiva, o desamparo moral de um artista negro em sociedade escravista, a maldição da tuberculose, a morte precoce e a loucura de Gavita (Maria Ceiça), sua mulher.
Entre os quadros biográficos, intercalam-se as leituras. Nessa operação, imaginou-se Cruz e Sousa (Kadu Carneiro) dizendo os próprios poemas, como se fossem expressão espontânea de situações vivenciadas em sua atormentada existência. O ponto alto do filme consiste no projeto de organizar uma antologia cinematográfica de Cruz e Sousa, em que as imagens estão a serviço dos textos, ilustrados com a dramatização de cenas mudas. A obra resultou numa curiosa superposição de cinema falado e cinema mudo.
Malgrado a concepção conservadora das leituras, há momentos convincentes. E uma vez que se aceite a concepção adotada, todas funcionam bem.
Back, responsável também pelo roteiro, esteve muito inspirado ao idealizar uma visita do poeta a uma sessão de candomblé. O filme, com ótima pesquisa musical (de Silvia Beraldo), conta ainda com a inclusão de uma cantiga iorubá, esplendidamente interpretada por Danielle Ornelas. No fim, há uma cena de Carnaval, o que intensifica o pendor caleidoscópico desse oscilante e notável "Cruz e Sousa". (IVAN TEIXEIRA)



Cruz e Sousa - O Poeta do Desterro
   
Diretor: Sylvio Back
Produção: Brasil, 1999
Com: Kadu Carneiro, Maria Ceiça
Quando: a partir de hoje no Cinesesc




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