São Paulo, sábado, 12 de maio de 2001

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"A AVENTURA BRASILEIRA DE BLAISE CENDRARS"

Reedição do livro é lançada na segunda em SP

Volume é diário de um vaivém afetuoso

DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não chegou a Blaise Cendrars por vontade própria. Em 1971, Carlos Augusto Calil estudava cinema na USP e Paulo Emílio Sales Gomes, seu professor, sabendo que ele viajaria com um colega à Europa, pediu à dupla uma pesquisa explorando a ligação entre o cineasta Jean Epstein, Blaise Cendrars e os modernistas.
O professor deu os contatos, o amigo largou Calil com a incumbência e, no fim, ei-lo metido na pesquisa. "Eu não sabia o que estava achando, era um ignorante, estava lá para levantar pistas para Paulo Emílio." De regresso, levou ao professor as "pistas": informações recolhidas e as reproduções de fotos e documentos que fizera.
Paulo Emílio, então, sugeriu a Calil que fizesse um filme sobre Cendrars, para as comemorações dos 50 anos da Semana de Arte Moderna. Alexandre Eulalio acabou conhecendo "Acaba de Chegar ao Brasil o Bello Poeta Francez Blaise Cendrars" e "ficou encantado com a idéia de um jovem de 20, 21 anos ter feito um documentário sobre Cendrars".
Alexandre Eulalio, autor do livro que Calil acaba de reeditar, já havia escrito, em 72, seu ensaio sobre Cendrars e, querendo publicá-lo, concebeu a estrutura de "A Aventura Brasileira de Blaise Cendrars", juntando ao texto a documentação de Calil.
"Ele ficou muito desapontado quando o livro ficou pronto, porque, por razões econômicas, o livro ficou bastante comprometido, em termos gráficos."
A falha que desagradava Eulalio foi plenamente compensada na nova edição. Além de enriquecida com vasta pesquisa iconográfica, a nova obra tem o dobro do volume da primeira, recheada que está de acréscimos.
Calil diz ter mantido a estrutura original, somando ao ensaio de Eulalio tudo o que o crítico escreveu sobre Cendrars e estava inédito ou em outros volumes.
Também descobriu a correspondência entre Cendrars e Paulo Prado, responsável pela primeira visita do poeta franco-suíço ao país. "Ninguém tinha visto."
O organizador também ressalta a ampliação da antologia ("Xerox"), mas conta que o que mais mudou foi o levantamento cronológico. "Alexandre, na primeira edição, chama de "Esboço da Cronologia de Cendrars entre a Gente". Tirei o título, hoje tem cem páginas, não mais é um esboço."
Na parte iconográfica, destaca os desenhos que Tarsila deu a Cendrars e que ele não utilizou no livro "Feuilles de Route" e ilustrações de Goeldi para um livro inacabado do poeta sobre Lampião.
Após 30 anos metido com Cendrars, Calil afirma que o poeta nunca se pretendeu guru dos brasileiros. Tendo conhecido Cendrars em Paris um ano antes, foi Oswald de Andrade quem sugeriu que o fazendeiro Paulo Prado convidasse o poeta ao que seria sua primeira visita ao Brasil.
"Oswald tem uma simpatia imediata por Cendrars, eles ficaram muito amigos. Para você ter uma idéia, foi na casa dele que Oswald pediu a mão da Tarsila."
"Cendrars é "importado" como um sujeito para avalizar os modernistas e o que ele faz é dizer: "Brasileiros, descubram o Brasil". Ele só queria descobrir o Brasil e, nesse processo de descobrimento, leva junto Oswald, Tarsila."
A despeito de sua despretensão, foi Cendrars, por exemplo, o responsável pela primeira mostra de Tarsila em Paris, na galeria Percier, em 1926.
"Não são tolices como "sem Cendrars não existiria modernismo'; mas sua presença foi catalisadora." Calil lembra, porém, que o Brasil teve uma grande importância para o poeta estrangeiro. "Ele transformou o Brasil numa espécie de país de utopia pessoal, um alento até o fim da vida."
Cendrars chega ao país em crise: mutilado de guerra -sendo suíço, se alistara como voluntário francês e perdera o braço direito numa trincheira da Primeira Guerra-, deixando a poesia, após ter sido um "fenômeno de precocidade" até 1914. Criou um envolvimento muito forte com o grupo que encontrou, "de tal monta que mudou tudo".
E a "reabilitação" brasileira de Cendrars continua gerando vagas. Calil conta que o livro deve ganhar edição francesa, pela Universidade de Rennes, e que sugeriu à Companhia das Letras a tradução do romance "Moravagine". (FRANCESCA ANGIOLILLO)


A AVENTURA BRASILEIRA DE BLAISE CENDRARS - De: Alexandre Eulalio Editora: Edusp (apoio: Fapesp). Segunda edição, org. por Carlos Augusto Calil. 625 págs. R$ 60. Lançamento: segunda, 14/5, às 19h, no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000. tel. 0/xx/11/270-1119).



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