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"A AVENTURA BRASILEIRA DE BLAISE CENDRARS"
Reedição do livro é lançada na segunda em SP
Volume é diário de um vaivém afetuoso
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não chegou a Blaise Cendrars por vontade própria. Em
1971, Carlos Augusto Calil estudava cinema na USP e Paulo Emílio
Sales Gomes, seu professor, sabendo que ele viajaria com um colega à Europa, pediu à dupla uma
pesquisa explorando a ligação entre o cineasta Jean Epstein, Blaise
Cendrars e os modernistas.
O professor deu os contatos, o
amigo largou Calil com a incumbência e, no fim, ei-lo metido na
pesquisa. "Eu não sabia o que estava achando, era um ignorante,
estava lá para levantar pistas para
Paulo Emílio." De regresso, levou
ao professor as "pistas": informações recolhidas e as reproduções
de fotos e documentos que fizera.
Paulo Emílio, então, sugeriu a
Calil que fizesse um filme sobre
Cendrars, para as comemorações
dos 50 anos da Semana de Arte
Moderna. Alexandre Eulalio acabou conhecendo "Acaba de Chegar ao Brasil o Bello Poeta Francez
Blaise Cendrars" e "ficou encantado com a idéia de um jovem de
20, 21 anos ter feito um documentário sobre Cendrars".
Alexandre Eulalio, autor do livro que Calil acaba de reeditar, já
havia escrito, em 72, seu ensaio
sobre Cendrars e, querendo publicá-lo, concebeu a estrutura de
"A Aventura Brasileira de Blaise
Cendrars", juntando ao texto a
documentação de Calil.
"Ele ficou muito desapontado
quando o livro ficou pronto, porque, por razões econômicas, o livro ficou bastante comprometido, em termos gráficos."
A falha que desagradava Eulalio
foi plenamente compensada na
nova edição. Além de enriquecida
com vasta pesquisa iconográfica,
a nova obra tem o dobro do volume da primeira, recheada que está
de acréscimos.
Calil diz ter mantido a estrutura
original, somando ao ensaio de
Eulalio tudo o que o crítico escreveu sobre Cendrars e estava inédito ou em outros volumes.
Também descobriu a correspondência entre Cendrars e Paulo
Prado, responsável pela primeira
visita do poeta franco-suíço ao
país. "Ninguém tinha visto."
O organizador também ressalta
a ampliação da antologia ("Xerox"), mas conta que o que mais
mudou foi o levantamento cronológico. "Alexandre, na primeira
edição, chama de "Esboço da Cronologia de Cendrars entre a Gente". Tirei o título, hoje tem cem páginas, não mais é um esboço."
Na parte iconográfica, destaca
os desenhos que Tarsila deu a
Cendrars e que ele não utilizou no
livro "Feuilles de Route" e ilustrações de Goeldi para um livro inacabado do poeta sobre Lampião.
Após 30 anos metido com Cendrars, Calil afirma que o poeta
nunca se pretendeu guru dos brasileiros. Tendo conhecido Cendrars em Paris um ano antes, foi
Oswald de Andrade quem sugeriu
que o fazendeiro Paulo Prado
convidasse o poeta ao que seria
sua primeira visita ao Brasil.
"Oswald tem uma simpatia
imediata por Cendrars, eles ficaram muito amigos. Para você ter
uma idéia, foi na casa dele que Oswald pediu a mão da Tarsila."
"Cendrars é "importado" como
um sujeito para avalizar os modernistas e o que ele faz é dizer:
"Brasileiros, descubram o Brasil".
Ele só queria descobrir o Brasil e,
nesse processo de descobrimento,
leva junto Oswald, Tarsila."
A despeito de sua despretensão,
foi Cendrars, por exemplo, o responsável pela primeira mostra de
Tarsila em Paris, na galeria Percier, em 1926.
"Não são tolices como "sem
Cendrars não existiria modernismo'; mas sua presença foi catalisadora." Calil lembra, porém, que
o Brasil teve uma grande importância para o poeta estrangeiro.
"Ele transformou o Brasil numa
espécie de país de utopia pessoal,
um alento até o fim da vida."
Cendrars chega ao país em crise:
mutilado de guerra -sendo suíço, se alistara como voluntário
francês e perdera o braço direito
numa trincheira da Primeira
Guerra-, deixando a poesia,
após ter sido um "fenômeno de
precocidade" até 1914. Criou um
envolvimento muito forte com o
grupo que encontrou, "de tal
monta que mudou tudo".
E a "reabilitação" brasileira de
Cendrars continua gerando vagas. Calil conta que o livro deve
ganhar edição francesa, pela Universidade de Rennes, e que sugeriu à Companhia das Letras a tradução do romance "Moravagine".
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
A AVENTURA BRASILEIRA DE BLAISE
CENDRARS - De: Alexandre Eulalio
Editora: Edusp (apoio: Fapesp). Segunda
edição, org. por Carlos Augusto Calil. 625
págs. R$ 60. Lançamento: segunda, 14/5,
às 19h, no Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000. tel. 0/xx/11/270-1119).
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