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LIVROS/LANÇAMENTOS
ALEX GARLAND
Autor de "A Praia" fala sobre sua segunda obra, escrita antes do hype
Chega "O Tesseracto", livro que DiCaprio não estragou
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é isso. Mas é mais ou menos
isso. Leonardo DiCaprio interferiu na literatura britânica. O escritor inglês Alex Garland, 31, festejado nome da atuante vertente
pop de escritores do Reino Unido
(Nick Hornby, Irvine Welsh, Will
Self, o mezzo-suíço Alain de Botton), não escreve mais romances
desde que seu primeiro livro, "A
Praia" (1997), virou blockbuster
nos cinemas (2000).
Conhecido por sua timidez e
consequente total falta de estrelismo, Garland afirma que deu um
tempo dos romances porque teme que, com tudo que envolveu
"A Praia", livro e filme, as pessoas
não consigam ler seus livros sem
imaginar que "essa é uma história
de Alex Garland, o cara que escreveu "A Praia'".
Sorte da literatura que, antes de
"A Praia" atingir as telas, Garland
escreveu "O Tesseracto" (1999),
que acaba de chegar às livrarias
brasileiras e será lançado na 10ª
Bienal Internacional do Livro, no
Rio, que começa na próxima semana.
Dá para perceber que Alex Garland hoje é um outro homem.
Continua com sua reconhecida timidez, mas talvez por causa do
"fator Leonardo", já não é tanta
assim.
O escritor falou à Folha sobre
"O Tesseracto" em entrevista por
telefone, de Londres. No ano passado, por ocasião do lançamento
brasileiro do livro "A Praia", só
aceitou conversar com a reportagem por e-mail, alegando timidez
em falar com pessoas sobre sua
obra.
Folha - O começo de "O Tesseracto" não é igual ao de "A Praia"?
Descrições de um hotel de terceiro
mundo sujo e esquisito, insetos, calor, tornando a vida de um europeu
mais difícil?
Alex Garland - Você acreditaria
se eu dissesse que foi inconscientemente? Eles são mesmo similares, os dois inícios, mas só fui perceber isso quando estava escrevendo uma terceira história, um
conto. Um amigo me disse: "Outra história que começa em um
hotel...". Fiquei surpreso.
Racionalmente, isso deve vir de
minhas histórias de viagens, porque todas as minhas primeiras
impressões dos lugares por onde
andei nascem nos hotéis.
Um outro aspecto, que eu acho
interessante, é que, começando
histórias em hotéis, você coloca
todo o mundo na mesma posição:
escritor, personagem e leitor.
O personagem não conhece o
lugar onde está. O escritor começa a escrever a história e geralmente não sabe como ela vai acabar. E o leitor, claro, não sabe nada de nada.
Folha - Por outro lado "O Tesseracto" tem um lado triste e violento, nada como o paraíso que é "A
Praia".
Garland - Embora haja uma estrutura semelhante nas duas histórias -as viagens e o ambiente
estranho-, os personagens buscam objetivos bem distintos.
Folha - Dentro dessa "nova linhagem de autores britânicos", que já
nem é mais tão nova assim, você é
considerado uma espécie de contracorrente. Seu estilo é simples e
econômico na transcrição de eventos, enquanto vários outros preferem longas e complexas sentenças.
Você concorda com isso?
Garland - Eu venho dos quadrinhos, então acho que meu jeito de
escrever nasceu da necessidade de
contar uma história da maneira
mais simples e direta, sempre.
Além do mais, fico completamente entediado quando um autor dá
muito mais valor ao seu estilo de
escrever do que à própria história.
Um livro flui mais, na minha
opinião, quando o escritor é invisível. Quando você se envolve
com o que está lendo sem notar a
presença do autor.
Folha - "O Tesseracto" vai virar
filme. Li que você já está escrevendo o roteiro. Tem mais detalhes?
Garland - O que está certo é que
vai virar filme, mas não vou escrever nada. O filme, assim como foi
com "A Praia", não tem nenhuma
conexão comigo. Escrevi o livro e
vendi os direitos. E só. Não boto
mais a mão na obra.
O filme, pelo que sei, está em
um estágio bem cru ainda. Não há
muito o que falar sobre ele.
Folha - Como você considera a
aceitação de "O Tesseracto" por
parte do público europeu, quando
ele foi lançado, em 1999, uma vez
que é o livro que sucedeu o celebrado "A Praia"?
Garland - Eu tenho consciência
de que muita gente no Reino Unido, onde eu vivo, comprou "O
Tesseracto"-livro mais por causa
do "A Praia"-filme, para ver o que
viria em seguida. Mas, mesmo
quando o falatório sobre o filme
diminuiu, o livro continuou a
vender bem, o que significa que a
literatura sobreviveu ao cinema.
Acho que a aceitação foi boa, de
um modo geral.
Folha - Por falar em "A Praia", você gostou do resultado final do filme?
Garland - O filme é muito estranho para mim. Eu não pude assistir a ele como um filme. Não consegui parar de ver minha ligação
com ele. Gosto bastante do pessoal que transformou o livro em
filme (Andrew McDonald, o produtor; Danny Boyle, diretor, e
John Hodge, roteirista). Gente
muito decente. Mas não consigo
ter nenhuma opinião objetiva sobre o filme.
Folha - Como "A Praia", livro e depois filme, mudou sua vida?
Garland - Financeiramente foi
muito bom. Mas de uma certa forma ele me fez parar de escrever livros ("O Tesseracto" foi escrito
antes de "A Praia" chegar às telas). Causou muito barulho na
minha vida. Como eu disse antes,
um autor precisa ser invisível em
seu livro para uma boa história
fluir. Então fiquei com tanto medo de não conseguir isso que resolvi parar um pouco.
Folha - Então não é absurdo dizer
que o ator Leonardo DiCaprio interrompeu a carreira do escritor Alex
Garland?
Garland - Não é isso. Mais ou
menos, na verdade. Dei uma parada com romances, por causa de
"A Praia". Não há nada de novo
para um futuro próximo. Recentemente eu apenas escrevi um
conto, uma aventura que se passa
na África. No momento, estou
trabalhando em transformar esse
conto em um filme. Mas ainda está cedo para adiantar detalhes.
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