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Grupo volta aos palcos pela "contramão"
Diretor, em cartaz em São Paulo, fala em co-criação das peças pelo público e interseção entre as artes e as tecnologias
Após 18 anos na estrada, Cia Teatro Autônomo pretende, até o início de 2008, encenar um espetáculo novo e ainda retomar outro, de 2005
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
São 18 anos feito Sísifo, começando tudo de novo a cada
espetáculo. É uma imagem pertinente à Cia Teatro Autônomo, que caminha na contramão
do teatro carioca desde que levou à cena, em 1989, uma leitura do mito grego que empurra
um rochedo montanha acima,
num trabalho interminável.
"Apesar do cansaço, o retorno é genuíno", afirma o diretor
Jefferson Miranda, 45, que usa
e se orgulha do termo "contramão", acima.
As perguntas seminais permanecem: "Para onde vai o teatro hoje? Que lugar ele ocupa
no mundo?".
Sabe-se que alcançar essas
respostas equivaleria a pisar no
pico da montanha, mas Miranda e o núcleo de artistas da Cia
Teatro Autônomo seguem no
encalço delas.
A última passagem do grupo
por São Paulo ocorreu dois
anos atrás, com a elogiada "Deve Haver Algum Sentido em
Mim Que Basta" (2004).
Miranda volta à cidade a partir de hoje, mas não com o seu
coletivo: ele é o diretor convidado de "O Perfeito Cozinheiro
das Almas Deste Mundo", que
estréia na Unidade Provisória
Sesc Avenida Paulista.
Para o final deste ano ou início de 2008, é desejo da Cia
Teatro Autônomo trazer o seu
último espetáculo, "E Agora
Nada é Mais Uma Coisa Só"
(2005), bem como o inédito
"Nu de Mim Mesmo".
"E Agora Nada é Mais Uma
Coisa Só" é definido como "espetáculo-evento", uma experiência em espaço não-convencional. Lembra vídeoinstalações, com espectadores percorrendo cinco áreas. A idéia é pôr
em xeque a noção de realidade.
"Partindo de situações rotineiras, quando o mundo se
apresenta em sua superfície
corriqueira e banal, o espetáculo foca esse caráter múltiplo
por meio das silenciosas revelações que podem nos assaltar
inesperadamente no meio do
nosso dia mais comum", afirma
o diretor.
Uma das premissas da companhia é encarar o teatro como
um fenômeno. "Em contraposição ao "drama" , entendido como representação idealizada,
apartada do atributo fundamental da arte cênica: o tempo
"presente"."
Co-criadores da cena
Outra perspectiva é destinar
ao espectador o papel de co-criador da cena. Fala-se em "inclusão da escuta", ou seja, em
incorporar a história pessoal do
espectador. Isso é radicalizado,
segundo explica Miranda, no
espetáculo atualmente em criação, "Nu de Mim Mesmo", décima produção.
"A finitude das ações humanas, heróicas ou não, é o tema
central. O que resta delas? O
que vem depois? Somente a
memória? Ou exclusivamente
o silêncio, como Hamlet certa
vez afirmou?", tateia o diretor.
Arte e tecnologia
Com este projeto amplia-se
também a interseção entre as
artes e as tecnologias. "Pelo
cruzamento e sobreposição de
linguagens -teatro, performance, artes plásticas, vídeo,
espacialização sonora etc-,
propomos repensar os cânones
do fazer teatral, em busca de
uma escritura cênica que inclua os meios pelos quais o homem de hoje se expressa -e
que o expressam", teoriza.
O núcleo da Cia Teatro Autônomo é formado ainda pelo
dramaturgo Flavio Graff, pelo
desenhista de luz Renato Machado, pelo diretor musical Felipe Storino e pelos atores
Adriano Garib, Diogo Salles,
Gisele Fróes, Julia Lund, Malu
Galli e Otto Jr.
"Quando a gente começou,
havia a ditadura da encenação
no teatro brasileiro. Hoje, estamos libertos", conclui Miranda.
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