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Crítica/teatro
Versão de "Grande Sertão", "O Homem Provisório" não convence inteiramente
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
A adaptação de "Grande
Sertão Veredas", de
Guimarães Rosa, é uma
espécie de Santo Graal do teatro brasileiro. Por muito tempo, foi um projeto acalentado
pelo Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho, que acabou preferindo adaptar o conto
"A Hora e a Vez de Augusto Matraga" do mesmo autor. Até hoje, 50 anos após seu lançamento, a saga de Riobaldo e Diadorim, romance de formação que
faz a ponte entre tradições sertanejas e um experimentalismo
de linguagem joyciano, nunca
logrou caber no palco: só a trama soaria rasa, só o experimentalismo ficaria hermético.
Neste segundo exercício da
Casa Laboratório, Cacá Carvalho de certa forma sai pela tangente ao devolver à trama sua
origem popular. Durante um
processo aprofundado, segundo os princípios do teatro antropológico da escola de Pontedera, que incluiu uma excursão
ao Carari, Carvalho contou a
história a seu Geraldo Alencar,
discípulo de Patativa do Assaré,
que a pôs em cordel. São esses
versos que são apresentados
em cena, e não a prosa de Rosa.
Nesse filtro, muito se perde:
só quem leu o romance vai perceber a importância de Hermógenes, o traidor, contra quem o
jagunço Riobaldo lidera a guerra, e por isso o pacto com o demônio, centro simbólico da
narrativa, surge apenas como
uma bela mas hermética coreografia. A ênfase é dada para o
romance com Diadorim, este
sim presente por inteiro.
Difícil destacar um ator nesse espetáculo coletivo, no qual a
energia é grande, o gestual é
preciso e a ruptura com o realismo é ousada e bem sedimentada no rigoroso treinamento
físico da escola. Aqui e ali, também, se reconhece a marca que
Antunes Filho ainda exerce em
Carvalho, como nos deslocamentos em grupo e em uma
guerra de sapatos que remete a
uma antológica cena do "Romeu e Julieta" do CPT.
Figurino e adereços -cada
ator carrega a réplica de sua
própria cabeça decepada, alusão ao trágico fim do bando de
Lampião-, a trilha envolvente
e um eficiente e delicado cenário todo feito de cortinas transparentes levam o espetáculo a
um universo grotesco e onírico.
Como na primeira experiência do grupo, que tinha como
mote o Quixote de Cervantes, a
base literária é apenas ponto de
partida para imagens arquetípicas, que impõem respeito
sem convencer inteiramente.
Não foi ainda dessa vez que o
"Grande Sertão Veredas" encontrou o palco. No mais, a Casa Laboratório está bem armada para uma jornada que se
propõe a longo prazo, e da qual
este "Homem Provisório" é
apenas o segundo passo.
O HOMEM PROVISÓRIO
Quando: de sex. a dom., às 19h30; até 10/6
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quanto: R$ 15
Avaliação: regular
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