São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Crítica/Quarteto Waldstein

Jovem quarteto apresenta programa coerente e energético

Interpretação de "Quarteto Imperador", de Haydn, foi o destaque da apresentação dos alemães anteontem em SP

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Haydn (1732-1809) estabeleceu a tese; Mozart (1756-1791), a antítese; e Beethoven (1770-1827), a síntese. Essa foi a lógica do programa apresentado pelos alemães do Quarteto Waldstein, no teatro Alfa, na segunda-feira passada, como parte da temporada internacional do Mozarteum Brasileiro.
Gernot Süssmuth trocar de lugar com a energética Mirijam Contzen para fazer o primeiro violino no "Quarteto K 421", de Mozart, ajudou a criar sonoridade diferente para a peça.
No programa do Waldstein, essa obra foi a que mais demorou a engrenar (alguns problemas de afinação no início), mas valeu a pena esperar pelo tema com variações (destaque para o solo de viola de Ulrich Eichenauer). Uma sutileza: nos últimos compassos, Mozart resgata a linha de baixo que o violoncelista Peter Hörr havia apresentado no início da música. O "Quarteto Imperador op. 76 nº 3", de Haydn, foi a interpretação mais perfeita da noite.
Genial "duelo" entre os violinos de Contzen e Süssmuth no "Presto", incrível "musette" (dança com uma nota soando em "pedal", como numa gaita de foles) no movimento inicial, e ótimo "Menuetto".
Mas quem conhece o "Imperador" aguarda mesmo pelo segundo movimento, cuja melodia tornou-se o Hino da Alemanha. Haydn constrói o trecho de modo que -a cada variação- o tema seja exposto por um membro diferente do quarteto (segundo violino, violoncelo, viola, primeiro violino). Se a forma "tema variado" surge em movimentos específicos de Haydn e Mozart, no "Quarteto op. 59 nº 2", de Beethoven, tudo é, de algum modo, "variação".
Aqui a arte do Waldstein -cujo nome remete a uma famosa sonata de Beethoven- atingiu momentos especiais, como na sonoridade dos acordes do "Adagio", nas imitações do "Scherzo" e no ousado andamento do "Finale".
Os acordes do início pareciam ter saído do "Presto", de Haydn, e até a tonalidade reforçou a coerência do programa, fechando uma "escala ascendente": dó maior (Haydn), ré menor (Mozart) e mi menor (Beethoven).
O Waldstein é formado por músicos experientes que fazem música quente, mas é jovem para um quarteto de cordas (estreou em 2008). A maturidade camerística que ainda falta certamente virá em pouco tempo e será ótimo se pudermos ouvi-los novamente em breve.


QUARTETO WALDSTEIN

Avaliação: bom




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