São Paulo, segunda, 12 de maio de 1997.



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PRÉ-ESTRÉIA
Jarmusch documenta dia-a-dia de Neil Young

em San Francisco

A cabeleira prateada de Jim Jarmusch e a caótica calvície de Neil Young estão de volta a San Francisco.
Assim como fez no ano passado com "Dead Man", o diretor escolheu a cidade -em tudo oposta à sua adotada New York- para a primeira sessão pública de seu filme. E novamente na tela se misturam imagens bem elaboradas de Jarmusch com os acordes emotivos de Young. A veterana banda Crazy Horse, liderada por esse, é o objeto do documentário "The Year of the Horse".
Segundo Jarmusch, desde que era adolescente no interior dos Estados Unidos ele escutava com fascínio o som espontâneo produzido pelos "cavalos loucos". "Eu amava eles como banda", diz o diretor. "Agora amo eles como pessoas".
A fama conquistada por Jarmusch como cineasta vanguardista não foi suficiente para que Neil Young respondesse as várias cartas do diretor que o convidava para compor a trilha sonora de "Dean Man" há três anos. "Acho que ele nunca tinha visto um filme meu e as cartas nunca chegaram às suas mãos", diz Jarmusch. "Mas estava filmando 'Dead Man' no Arizona durante uma excursão da banda e acabei falando com Neil depois do show". Meses depois, o músico sentava num estúdio em San Francisco para compor a trilha de piano que permeia a peregrinação de William Blake (Johnny Depp) pelos EUA selvagem do século 19.
Para fazer o filme, Jarmusch acompanhou a excursão da banda pela Europa durante três semanas no ano passado. O resultado é um retrato intimista de músicos que, mesmo consagrados, se recusam a fazer parte do show-business.
Fazendo perguntas e até pulando para a frente da câmera, numa hilariante comparação entre Velho e Novo Testamento, Jarmusch marca presença.
Além das cenas de concertos em Dublin e Glasgow, os músicos aparecem falando sobre suas carreiras num quarto que lembra uma área de serviço.
Testemunhando suas tiradas divertidas, uma máquina de lavar roupas domina o canto direito da tela. "É uma sala qualquer num lugar qualquer em Dublin", diz o diretor. "Não importa, achei que era apropriada para o descaso com que eles parecem lidar com a música".
Logo de cara eles aparecem colocando fogo no arranjo central da mesa em que o almoço será servido durante a excursão pela Inglaterra. "Nunca pensei que veria flores queimando", nota o atônito e jovem Young.
O filme estréia comercialmente nos EUA no segundo semestre. (ADRIANE GRAU)





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