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MÚSICA
O baterista, filho do renomado pianista Thelonious Monk, toca amanhã na edição brasileira do Montreux Jazz Festival
"O futuro do jazz é brilhante", diz T.S. Monk
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem não o conhece e o vê falando sobre Thelonious Monk
(1917-1982) mal pode imaginar
que ele seja filho do genial pianista e compositor de jazz. T.S.
Monk, 48, é uma das atrações do
Montreux Jazz Festival - Edição
Brasil, que acontece a partir de
amanhã em São Paulo e no Rio
(veja programação ao lado).
Sem lembrar em nada a figura
introspectiva do pai, o falante
Thelonious Sphere Monk 3.º disse
em entrevista à Folha, por telefone, que nunca chegou a se sentir
intimidado pela fama do pai.
"Thelonious jamais lançou
sombra alguma sobre mim. Nossa relação de pai e filho foi a melhor possível. Ele sempre me disse
para fazer o que quisesse. Assim,
só me envolvi com música aos 15
anos, porque sentia que não tinha
obrigação alguma", conta.
Essa liberdade permitiu que,
mesmo depois de tocar jazz por
dois anos com o pai, T.S. decidisse
se dedicar ao rhythm & blues.
Com a irmã Barbara e a namorada Yvonne Fletcher, formou, em
1972, a T.S. Monk Band, que chegou a frequentar as paradas com
os hits "Bon Bon Vie" e "Too
Much, Too Son".
A banda terminou de forma trágica. Logo após a morte do pai,
em 1982, T.S. Monk perdeu as
duas parceiras, vítimas de câncer.
Um período de reflexão trouxe-o
de volta ao jazz. Em 1986, criou o
Thelonious Monk Institute, que
além de preservar a obra do pai
incentiva o ensino jazzístico.
"Hoje há um grande número de
jovens que pretendem se tornar
músicos de jazz. Isso indica que
outra maravilhosa geração de
músicos vem aí. O futuro do jazz
promete ser brilhante", aposta.
Essa afirmação, para ele, apóia-se em sua vivência diária na área
do ensino. "A cena do jazz na
América é hoje, provavelmente, a
mais saudável de todos os tempos. Não digo em termos da popularidade entre o grande público, mas de quem pratica essa música. Sei que hoje há uma profunda pesquisa acontecendo nos colégios norte-americanos."
Após três bem-sucedidos álbuns pelo selo Blue Note, T.S.
Monk lançou em 97 seu CD mais
elogiado e premiado: "Monk on
Monk" (lançado aqui pela Abril
Music). Ao lado de astros como
Herbie Hancock e Ron Carter, revisitou nove composições do pai.
Em 99, lançou o eclético CD
"Crosstalk" (N-Coded), inédito
no Brasil. "Depois de um trabalho
definitivo sobre a obra de meu
pai, quis algo completamente diferente. Eu me sinto confortável
tocando em vários estilos", diz.
Para explicar o conceito dessa
gravação mais recente, o herdeiro
de Monk recorre a uma comparação. "Quem analisa a música brasileira a fundo percebe que ela é,
na verdade, um conglomerado de
músicas da África, da América do
Sul e da Europa. Em "Crosstalk",
decidi fazer algo parecido."
É por isso que, em sua primeira
temporada no Brasil, T.S. Monk
não pretende limitar suas apresentações no Montreux Festival
ao anunciado tributo ao pai.
"Antes de tudo, tenho de mostrar quem é T.S. Monk. Claro que
vou tocar a música de meu pai,
mas também composições de outros grandes autores que fizeram
parte de meus álbuns", avisa.
O baterista e "bandleader" ressalta que trará os mesmos músicos que o têm acompanhado em
seus últimos discos: Bob Porcelli
(sax alto), Willie Williams (sax soprano), Ray Gallon (piano) e Gary
Wang (baixo). Só faltará o trompetista Don Sickler, substituído
por Winston Byrd.
"Gosto de tocar com os mesmos
músicos o mais que puder, porque isso permite que todos se sintam em casa", justifica.
Ao saber que Nnenna Freelon
também está no festival, o baterista não economiza elogios.
"É uma das grandes cantoras do
jazz atualmente. Nnenna é técnica
e também emotiva. Os músicos
adoram tocar com ela, porque ela
soa como um instrumento."
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