São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000


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MÚSICA
O baterista, filho do renomado pianista Thelonious Monk, toca amanhã na edição brasileira do Montreux Jazz Festival
"O futuro do jazz é brilhante", diz T.S. Monk

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem não o conhece e o vê falando sobre Thelonious Monk (1917-1982) mal pode imaginar que ele seja filho do genial pianista e compositor de jazz. T.S. Monk, 48, é uma das atrações do Montreux Jazz Festival - Edição Brasil, que acontece a partir de amanhã em São Paulo e no Rio (veja programação ao lado).
Sem lembrar em nada a figura introspectiva do pai, o falante Thelonious Sphere Monk 3.º disse em entrevista à Folha, por telefone, que nunca chegou a se sentir intimidado pela fama do pai.
"Thelonious jamais lançou sombra alguma sobre mim. Nossa relação de pai e filho foi a melhor possível. Ele sempre me disse para fazer o que quisesse. Assim, só me envolvi com música aos 15 anos, porque sentia que não tinha obrigação alguma", conta.
Essa liberdade permitiu que, mesmo depois de tocar jazz por dois anos com o pai, T.S. decidisse se dedicar ao rhythm & blues. Com a irmã Barbara e a namorada Yvonne Fletcher, formou, em 1972, a T.S. Monk Band, que chegou a frequentar as paradas com os hits "Bon Bon Vie" e "Too Much, Too Son".
A banda terminou de forma trágica. Logo após a morte do pai, em 1982, T.S. Monk perdeu as duas parceiras, vítimas de câncer. Um período de reflexão trouxe-o de volta ao jazz. Em 1986, criou o Thelonious Monk Institute, que além de preservar a obra do pai incentiva o ensino jazzístico.
"Hoje há um grande número de jovens que pretendem se tornar músicos de jazz. Isso indica que outra maravilhosa geração de músicos vem aí. O futuro do jazz promete ser brilhante", aposta.
Essa afirmação, para ele, apóia-se em sua vivência diária na área do ensino. "A cena do jazz na América é hoje, provavelmente, a mais saudável de todos os tempos. Não digo em termos da popularidade entre o grande público, mas de quem pratica essa música. Sei que hoje há uma profunda pesquisa acontecendo nos colégios norte-americanos."
Após três bem-sucedidos álbuns pelo selo Blue Note, T.S. Monk lançou em 97 seu CD mais elogiado e premiado: "Monk on Monk" (lançado aqui pela Abril Music). Ao lado de astros como Herbie Hancock e Ron Carter, revisitou nove composições do pai.
Em 99, lançou o eclético CD "Crosstalk" (N-Coded), inédito no Brasil. "Depois de um trabalho definitivo sobre a obra de meu pai, quis algo completamente diferente. Eu me sinto confortável tocando em vários estilos", diz.
Para explicar o conceito dessa gravação mais recente, o herdeiro de Monk recorre a uma comparação. "Quem analisa a música brasileira a fundo percebe que ela é, na verdade, um conglomerado de músicas da África, da América do Sul e da Europa. Em "Crosstalk", decidi fazer algo parecido."
É por isso que, em sua primeira temporada no Brasil, T.S. Monk não pretende limitar suas apresentações no Montreux Festival ao anunciado tributo ao pai.
"Antes de tudo, tenho de mostrar quem é T.S. Monk. Claro que vou tocar a música de meu pai, mas também composições de outros grandes autores que fizeram parte de meus álbuns", avisa.
O baterista e "bandleader" ressalta que trará os mesmos músicos que o têm acompanhado em seus últimos discos: Bob Porcelli (sax alto), Willie Williams (sax soprano), Ray Gallon (piano) e Gary Wang (baixo). Só faltará o trompetista Don Sickler, substituído por Winston Byrd.
"Gosto de tocar com os mesmos músicos o mais que puder, porque isso permite que todos se sintam em casa", justifica.
Ao saber que Nnenna Freelon também está no festival, o baterista não economiza elogios.
"É uma das grandes cantoras do jazz atualmente. Nnenna é técnica e também emotiva. Os músicos adoram tocar com ela, porque ela soa como um instrumento."


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