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ARTIGO
Ao vislumbrarmos o ar, confundimos conhecimento com conhecimento
LOBÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Como conseguir fazer falar
àqueles que não têm esse direito e devolver aos sons seu valor
de luta contra o controle?
Parece-me que o processo histórico começa a se encarregar de
redefinir o perfil do mal, do vilão
que há tanto tempo se camufla na
paisagem de um cenário onde tudo é bonitinho, higienizado, infantilizado e controlado.
Agora percebemos este grande
vilão aparecer em toda a sua exuberância, por meio de "colapsos"
e crises em praticamente todas as
áreas do conhecimento.
E é este poderoso gigante de
gesso que começa a rosnar com
ameaças e truculência. Diante de
uma realidade inexorável das rádios livres e comunitárias, a boca
desgrenhada do gigante vocifera
sua ira vã.
Tenho percorrido o vasto território brasileiro, visitando rádios
comunitárias, verificando de perto o efeito que elas produzem e
concluo, admirado, como é que
ainda estamos num estágio tão
primário em relação a suas conquistas.
Como ainda podemos testemunhar (e permitir) a reação truculenta de organismos como a
Abert (Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e Televisão)
que, à semelhança de outras entidades em áreas vizinhas, organiza
uma campanha terrorista e mentirosa sobre os efeitos "catastróficos" das rádios "piratas"?
É muito curioso perceber a generalização de uma área tão complexa e diversa como esta, a das
rádios livres, comunitárias, piratas, clandestinas, proselitistas (religiosas e políticas), colocá-las
num balaio de gatos e abrir fogo,
preferencialmente naquelas que
mais serviços prestam à comunidade e nas mais vulneráveis por
não ter poder econômico ou força
política.
E por falar em mal, havemos de
concluir que, mesmo podendo
haver todas as vicissitudes que
ocorrem nas rádios oficiais, está
mais do que na hora de abrir o leque da informação, promover de
forma ampla a diversidade de informação, inventar linhas de escape para oxigenar a nossa formação, agenciar novos modelos
de geração de cultura e proliferar
as diferenças para estimular nossa
capacidade de reflexão e curiosidade.
Não será por meio de campanhas mentirosas, da tentativa de
perpetuar o megacoronelato em
que vivemos, que conseguiremos
entrar numa era de exercício pleno da democracia.
Não será presenciando comemorações patrióticas estapafúrdias que infundiremos nossa verdadeira auto-estima sem cair no
ufanismo ciclotímico e canastrão
que, antes de tudo, trave de alegria histérica nossa miséria, impossibilitando, como um feriado
enforcado, a verdadeira alegria,
que é a liberdade de engendrar o
nosso próprio destino, nosso conhecimento.
Lobão é cantor e compositor e lançou
este ano a rádio independente UP FM
(Universo Paralelo)
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