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TELEVISÃO
"Laços de Família" é o que se gosta
TELMO MARTINO
COLUNISTA DA FOLHA
D epois de um longo e cinzento inverno carcamano,
nada mais acertado que o sol do
Leblon, onde o "azur" monocromático de outra "côte" é ofuscado
pelas cores que o Dufy convidado
tão bem captou para a abertura
da novela "Laços de Família".
E que abertura! Todos falando
com a boca cheia dos saborosos
diálogos do "chef" das palavras
que é o Manoel Carlos. Novela
que ele escreve deve espalhar uma
gulodice única entre os atores.
Voltando ao começo mais convidativo dos últimos anos, a ofuscante Vera Fischer, pronta para
um topless, dirige o carro e o celular para a Barra. Até atropelar o
carro saído do importador que o
galã Reynaldo Gianecchini comanda. Esqueça-se do carro. Toda atenção no Gianecchini. De
onde terá surgido esse galã? Ele
faz tudo certo. Vera Fischer vai
ter de trabalhar. Qualquer deslize
no fulgurante, a ofuscante pode
passar a ofuscada. Durante a semana inteira, o suspense foi mantido. Ficou faltando o primeiro
beijo e -quem sabe?- a metamorfose.
A privilegiada é a Marieta Severo. Ela vem de uma família admiradora das artes cênicas. Chama-se Alma Flora. Seu maior prestígio é ser tia do Edu (o alardeado
Gianecchini). Quando o Edu vai
nadar com desenvoltura olímpica
na piscina, todas as garotas se escondem atrás das folhagens para
espiar. Isso é que é ser galã. E tudo
indica que a Vera vai desistir do
topless.
A não ser quando for à praia
com Tony Ramos. Traumatizado
por um acidente que fez dele um
viúvo e pai de um filho deficiente
(Flávio Silvino), ele é uma vítima
dos encantos da Fischer. "Nunca
vi uma avó de biquíni." E a praia
tão perto. Livros são um perigo.
Enclausuram pessoas.
Mas ainda tem o José Mayer todo masculino de barba e montando cavalos com a perícia de um
Tom Mix moderno. Por isso é
consciente de que os cavalos gostam de masculinidade. Não quer
uma veterinária mulher. Também não sabe que a mulher é Helena Ranaldi, aquela que foi
aprender esporte aquático com o
Paulo Zulu, e, pela primeira vez,
ninguém olhou para ele. Será que
veterinária deusa não vai abalar
os princípios do masculino Mayer? Nem interessa. A expectativa
é ver a reação dos cavalos.
"Laços de Família" é o que se
gosta. Uma novela aconchegante
e interessante. Todos cativam.
Até Fernando Torres, que se aproxima da morte, sabe tirar humor
da falta de urgência na tristeza
divertida de um reencontro.
Fala-se que alguns farão uma
viagem ao Japão. Se for vontade
da Alma Flora gastar o dinheiro
que tirou dos maridos, tudo bem.
Mas, se for alguma ansiedade romântica do galã e de sua fulgurante namorada, haja templo.
Manoel Carlos é bom de diálogo.
Até como turista? Estava tudo tão
aconchegante. E o Japão lá tão
longe. Que espera!
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