São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000


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CINEMA
"Retrato Pintado", rodado em abril, em Maranguape (CE), tem Nelson Dantas no papel do retratista Mestre Julio
Curta prolonga a arte de pintar fotografias

ED VIGGINNI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Numa cidade do interior, um fotógrafo é esperado pela família para registrar o defunto. O retratado está na sala, no caixão enfeitado, com a família em volta. O fotógrafo entra na casa e é recebido pelos parentes do morto. Ele arma a câmera e faz a derradeira imagem do corpo com a família.
Esta poderia ser a descrição de uma cena comum no interior do Nordeste, mas é uma das cenas do curta-metragem "Retrato Pintado", filme de estréia do cearense Joe Pimentel.
O roteiro, do diretor, com colaboração de Ângela Câmara, foi premiado no Concurso de Obra Audiovisual do Ministério da Cultura em 1999, concorrendo com outros 700 roteiros.
O curta é baseado em uma pesquisa de Cristiana Parente, professora da Universidade Federal do Ceará, sobre a técnica fotográfica do retrato pintado, feito com a colorização manual de uma foto em preto-e-branco.
As filmagens foram feitas em abril, na cidade de Maranguape (interior do Ceará). O ator Nelson Dantas, de "O Que É Isso, Companheiro?", fez o papel do retratista Julio dos Santos -conhecido como Mestre Julio, considerado o mais refinado fotógrafo do Nordeste que se dedica a essa técnica. O filme não tem diálogos, e a trilha sonora é de Flávio Venturini.
O retratista está em todos os ritos de passagem dos personagens. Ele fotografa o bebê com a mãe, o batizado, a primeira comunhão, o alistamento militar, o casamento, o nascimento dos filhos, as bodas de ouro e a morte.
No curta, a semelhança entre os atores tornou-se fundamental para a compreensão da história. Os personagens vão envelhecendo e sendo substituídos por atores mais velhos, o que obrigou o diretor a usar parentes em quase todos os papéis, a maioria deles compostos por amadores.
A atitude dos atores diante da câmera de cinema é igual ao comportamento diante do retratista. Uma pose para a posteridade.
"Retrato Pintado" consegue, com isso, um resultado inesperado em cenas como a da foto num velório, quando as mulheres ficam muito sensibilizadas e choram de verdade, e não por interpretação. O curta está sendo produzido pela empresa cearense Cia. de Imagem, instalada em Fortaleza há cinco anos.
A experiência com longas (a empresa co-produziu filmes como "Bela Donna", de Fábio Barreto) e o equipamento da produtora permitiram fazer algo como "Retrato Pintado", com atores amadores e em 35 mm, com fotografia de César Elias.
O orçamento era de R$ 108 mil, mas somente metade foi captada por meio das leis Rouanet (federal) e Jereissati (estadual).
A Cia. de Imagem pretende distribuir o filme na rede de TV pública, entre TVs a cabo educativas -tanto no Brasil como no exterior-, em festivais nacionais e internacionais e em bibliotecas públicas e videotecas universitárias.


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