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CINEMA
"Retrato Pintado", rodado em abril, em Maranguape (CE), tem Nelson Dantas no papel do retratista Mestre Julio
Curta prolonga a arte de pintar fotografias
ED VIGGINNI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Numa cidade do interior, um
fotógrafo é esperado pela família
para registrar o defunto. O retratado está na sala, no caixão enfeitado, com a família em volta. O fotógrafo entra na casa e é recebido
pelos parentes do morto. Ele arma a câmera e faz a derradeira
imagem do corpo com a família.
Esta poderia ser a descrição de
uma cena comum no interior do
Nordeste, mas é uma das cenas do
curta-metragem "Retrato Pintado", filme de estréia do cearense
Joe Pimentel.
O roteiro, do diretor, com colaboração de Ângela Câmara, foi
premiado no Concurso de Obra
Audiovisual do Ministério da Cultura em 1999, concorrendo com
outros 700 roteiros.
O curta é baseado em uma pesquisa de Cristiana Parente, professora da Universidade Federal
do Ceará, sobre a técnica fotográfica do retrato pintado, feito com
a colorização manual de uma foto
em preto-e-branco.
As filmagens foram feitas em
abril, na cidade de Maranguape
(interior do Ceará). O ator Nelson
Dantas, de "O Que É Isso, Companheiro?", fez o papel do retratista Julio dos Santos -conhecido como Mestre Julio, considerado o mais refinado fotógrafo do
Nordeste que se dedica a essa técnica. O filme não tem diálogos, e a
trilha sonora é de Flávio Venturini.
O retratista está em todos os ritos de passagem dos personagens.
Ele fotografa o bebê com a mãe, o
batizado, a primeira comunhão, o
alistamento militar, o casamento,
o nascimento dos filhos, as bodas
de ouro e a morte.
No curta, a semelhança entre os
atores tornou-se fundamental para a compreensão da história. Os
personagens vão envelhecendo e
sendo substituídos por atores
mais velhos, o que obrigou o diretor a usar parentes em quase todos os papéis, a maioria deles
compostos por amadores.
A atitude dos atores diante da
câmera de cinema é igual ao comportamento diante do retratista.
Uma pose para a posteridade.
"Retrato Pintado" consegue,
com isso, um resultado inesperado em cenas como a da foto num
velório, quando as mulheres ficam muito sensibilizadas e choram de verdade, e não por interpretação. O curta está sendo produzido pela empresa cearense
Cia. de Imagem, instalada em
Fortaleza há cinco anos.
A experiência com longas (a
empresa co-produziu filmes como "Bela Donna", de Fábio Barreto) e o equipamento da produtora permitiram fazer algo como
"Retrato Pintado", com atores
amadores e em 35 mm, com fotografia de César Elias.
O orçamento era de R$ 108 mil,
mas somente metade foi captada
por meio das leis Rouanet (federal) e Jereissati (estadual).
A Cia. de Imagem pretende distribuir o filme na rede de TV pública, entre TVs a cabo educativas
-tanto no Brasil como no exterior-, em festivais nacionais e internacionais e em bibliotecas públicas e videotecas universitárias.
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