São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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"Batman Begins", que estréia sexta-feira no Brasil, tenta reerguer a cinessérie das cinzas

Ascensão e queda

DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Wilshire Boulevard, 9.500, Beverly Hills, Califórnia. Elvis Presley, Warren Beatty, Mick Jagger, Demi Moore e quase todo o "star system" hollywoodiano já passaram pelo endereço onde há quase 80 anos repousa o luxuoso Regent Beverly Wilshire Hotel. Foi aqui que Dashiell Hammett escreveu o romance "O Homem Magro" e, em uma de suas suítes presidenciais, de mais de 350 m2 de área, que Richard Gere convenceu uma certa linda mulher a deixar a prostituição de lado.
O carro -ou deveríamos dizer tanque de guerra?- estacionado em frente à escadaria de entrada do hotel, na penúltima sexta-feira, indica que há um novo milionário excêntrico na casa. É Bruce Wayne, herdeiro das indústrias Wayne e, na calada da noite, o vigilante mascarado conhecido nos quadrinhos como Batman.
Seis andares acima, o elenco estelar de "Batman Begins", quinto filme da não menos milionária franquia da Warner Bros., que estréia nesta quarta-feira nos EUA e na sexta no Brasil, prepara-se para enfrentar os jornalistas.
Morgan Freeman reclama do ar-condicionado. Gary Oldman, agora sargento Gordon, caminha com o auxílio de uma bengala digna de Pingüim. Michael Caine, o pacato mordomo Alfred, faz piada: "Fiz muitas cenas de ação, mas hoje não fico mais com a garota, fico com o papel". Bonitinha, mas secundária, Katie Holmes desfila com o namorado a tiracolo. "É a nova sra. Tom Cruise!", inquietam-se os repórteres.
"Estou tão feliz, é o momento mais feliz da minha vida", repete a ex-"Dawson's Creek" num mantra que mais tarde serviria para responder qualquer pergunta dirigida a ela pelos repórteres, a Folha incluída, que se aglomeravam em mesas-redondas de até oito pessoas à espera de seus 15 minutos com cada famoso.
Pois, em uma produção de US$ 180 milhões (cerca de R$ 448 milhões), dos quais um terço gastos apenas com ações de marketing, não é de estranhar que as falas pareçam ensaiadas.
Trombadas com os executivos do estúdio? Imagine. "Sempre achei que ia chegar esse momento, mas nunca aconteceu", descarta o diretor inglês Christopher Nolan, cultuado pelos indies "Amnésia" e "Insônia", mas marinheiro de primeira viagem em uma produção de tal porte.
"Tínhamos consciência de que um filme como esse precisa ter apelo a um público mainstream. Não tivemos problemas com o estúdio, e isso, certamente, não rende uma boa história para vocês", ironiza a produtora e mulher de Nolan, Emma Thomas.
O clima tudo em família não significa, no entanto, que Nolan tenha modificado a essência do que tinha em mente quando decidiu aceitar o desafio de reavivar uma franquia que, após um começo satisfatório com os dois primeiros filmes de Tim Burton (89 e 92), esfacelou-se na mão de Joel Schumacher nas duas produções seguintes (95 e 97).
Para fugir às comparações e, quem sabe, iniciar uma nova carreira para o Homem-Morcego nos cinemas, o diretor inglês concluiu que o melhor era rebobinar a fita e contar a origem do herói bem como suas motivações com um realismo inédito. "Gosto dos filmes do Tim Burton e acho que o que ele conseguiu foi superar o preconceito de que seria possível ter um Batman "cool" após a série de TV. Mas o que eu não vi e que gostaria de ter na minha versão é a noção dele como uma figura extraordinária em um mundo ordinário. Uma vez que você começa a explicar as coisas de modo realista, tudo tem que ter respostas. Por que esse cara põe a fantasia e se faz parecer com um morcego?"
Christian Bale, ator que encarna Batman pela primeira vez, senta-se à mesa com essa e outras respostas na ponta da língua, desdenhando seus antecessores: "Passei os olhos [pelos filmes anteriores] só para ter certeza que não havia nada que eu pudesse aproveitar".
"Batman não é engraçado. Ele é um super-herói, mas com uma grande quantidade de problemas, de emoções negativas dentro dele", diz, num sotaque americanizado que nem de longe sugere sua ascendência galesa, o quarto homem a vestir o desajeitado uniforme depois de Michael Keaton, Val Kilmer e George Clooney.
"Todo ator que já interpretou Batman sempre reclamou do uniforme, não quero fazer a mesma coisa, já que tive um uniforme mais leve e com maior mobilidade." Mas não resiste: "Sim, é difícil, claustrofóbico, dá dor de cabeça, mas nada que um pouco de analgésico não resolva". Alfred, um copo d'água, por favor!


O jornalista Diego Assis viajou a convite da Warner Bros.


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