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"Batman Begins", que estréia sexta-feira no Brasil, tenta reerguer a cinessérie das cinzas
Ascensão e queda
DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Wilshire Boulevard, 9.500, Beverly Hills, Califórnia. Elvis Presley, Warren Beatty, Mick Jagger,
Demi Moore e quase todo o "star
system" hollywoodiano já passaram pelo endereço onde há quase
80 anos repousa o luxuoso Regent
Beverly Wilshire Hotel.
Foi aqui que Dashiell Hammett
escreveu o romance "O Homem
Magro" e, em uma de suas suítes
presidenciais, de mais de 350 m2
de área, que Richard Gere convenceu uma certa linda mulher a
deixar a prostituição de lado.
O carro -ou deveríamos dizer
tanque de guerra?- estacionado
em frente à escadaria de entrada
do hotel, na penúltima sexta-feira,
indica que há um novo milionário
excêntrico na casa. É Bruce Wayne, herdeiro das indústrias Wayne e, na calada da noite, o vigilante
mascarado conhecido nos quadrinhos como Batman.
Seis andares acima, o elenco estelar de "Batman Begins", quinto
filme da não menos milionária
franquia da Warner Bros., que estréia nesta quarta-feira nos EUA e
na sexta no Brasil, prepara-se para enfrentar os jornalistas.
Morgan Freeman reclama do
ar-condicionado. Gary Oldman,
agora sargento Gordon, caminha
com o auxílio de uma bengala
digna de Pingüim. Michael Caine,
o pacato mordomo Alfred, faz
piada: "Fiz muitas cenas de ação,
mas hoje não fico mais com a garota, fico com o papel". Bonitinha, mas secundária, Katie Holmes desfila com o namorado a tiracolo. "É a nova sra. Tom Cruise!", inquietam-se os repórteres.
"Estou tão feliz, é o momento
mais feliz da minha vida", repete a
ex-"Dawson's Creek" num mantra que mais tarde serviria para
responder qualquer pergunta dirigida a ela pelos repórteres, a Folha incluída, que se aglomeravam
em mesas-redondas de até oito
pessoas à espera de seus 15 minutos com cada famoso.
Pois, em uma produção de US$
180 milhões (cerca de R$ 448 milhões), dos quais um terço gastos
apenas com ações de marketing,
não é de estranhar que as falas pareçam ensaiadas.
Trombadas com os executivos
do estúdio? Imagine. "Sempre
achei que ia chegar esse momento, mas nunca aconteceu", descarta o diretor inglês Christopher
Nolan, cultuado pelos indies
"Amnésia" e "Insônia", mas marinheiro de primeira viagem em
uma produção de tal porte.
"Tínhamos consciência de que
um filme como esse precisa ter
apelo a um público mainstream.
Não tivemos problemas com o estúdio, e isso, certamente, não rende uma boa história para vocês",
ironiza a produtora e mulher de
Nolan, Emma Thomas.
O clima tudo em família não
significa, no entanto, que Nolan
tenha modificado a essência do
que tinha em mente quando decidiu aceitar o desafio de reavivar
uma franquia que, após um começo satisfatório com os dois primeiros filmes de Tim Burton (89 e
92), esfacelou-se na mão de Joel
Schumacher nas duas produções
seguintes (95 e 97).
Para fugir às comparações e,
quem sabe, iniciar uma nova carreira para o Homem-Morcego
nos cinemas, o diretor inglês concluiu que o melhor era rebobinar
a fita e contar a origem do herói
bem como suas motivações com
um realismo inédito. "Gosto dos
filmes do Tim Burton e acho que
o que ele conseguiu foi superar o
preconceito de que seria possível
ter um Batman "cool" após a série
de TV. Mas o que eu não vi e que
gostaria de ter na minha versão é a
noção dele como uma figura extraordinária em um mundo ordinário. Uma vez que você começa
a explicar as coisas de modo realista, tudo tem que ter respostas.
Por que esse cara põe a fantasia e
se faz parecer com um morcego?"
Christian Bale, ator que encarna
Batman pela primeira vez, senta-se à mesa com essa e outras respostas na ponta da língua, desdenhando seus antecessores: "Passei
os olhos [pelos filmes anteriores]
só para ter certeza que não havia
nada que eu pudesse aproveitar".
"Batman não é engraçado. Ele é
um super-herói, mas com uma
grande quantidade de problemas,
de emoções negativas dentro dele", diz, num sotaque americanizado que nem de longe sugere sua
ascendência galesa, o quarto homem a vestir o desajeitado uniforme depois de Michael Keaton, Val
Kilmer e George Clooney.
"Todo ator que já interpretou
Batman sempre reclamou do uniforme, não quero fazer a mesma
coisa, já que tive um uniforme
mais leve e com maior mobilidade." Mas não resiste: "Sim, é difícil, claustrofóbico, dá dor de cabeça, mas nada que um pouco de
analgésico não resolva". Alfred,
um copo d'água, por favor!
O jornalista Diego Assis viajou a convite
da Warner Bros.
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