São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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Temporada de reprises dá nova chance para público avaliar séries

ALESSANDRA STANLEY
DO "NEW YORK TIMES"

As reprises de verão nos Estados Unidos, como incêndios em florestas, são uma calamidade com um lado bom -é essa a maneira pela qual a natureza reequilibra o ecossistema da televisão. As reprises permitem que os telespectadores percebam que "Lost" melhorou ao longo da temporada, enquanto "24 Horas" piorou. E que "Desperate Housewives" não manteve o pique ousado e refrescante dos primeiros episódios.
"Lost", da ABC (exibida no Brasil pelo canal AXN), começou com uma premissa abstrusa: sobreviventes da queda de um avião perdidos em uma assustadora ilha tropical. Mas a temporada terminou de maneira eletrizante, o que prova que a série enfim encontrou a disciplina narrativa.
"Lost" acompanha a evolução de mais de uma dúzia de personagens centrais, e número imenso de reviravoltas na trama e de tramas secundárias -de um ninho misterioso a criaturas selvagens que jamais são vistas e devoram pessoas- e também incorpora flashbacks que lentamente revelam as histórias de cada náufrago.
Em "24 Horas", da Fox, a trajetória foi a oposta: os personagens foram se tornando menos interessantes à medida que o "Dia 4" avança. A quarta temporada começou com tudo mudado. A irritante filha de Jack Bauer não faz mais parte do elenco, um novo presidente ocupa a Casa Branca, Jack tem um novo emprego, trabalhando para o secretário de Defesa, e uma nova namorada, a filha de seu chefe, incidentalmente. Mas não demorou muito para que a série começasse a sofrer sob as limitações que seu formato impõe: 24 horas consecutivas é um período prolongado demais para manter em funcionamento a idéia de ação em tempo real que embasa a série.
"Desperate Housewives", de maneira até apropriada, é uma série que injetou muito botox. É um programa sexy, mas sua expressão é congelada e estática demais para parecer natural. Mesmo que os véus de mistério que encobrem o suicídio de Mary Alice estejam sendo removidos, os personagens e o roteiro continuam fracos e sem variedade.
Filmes não podem ser refeitos depois que estréiam nos cinemas, e livros não podem ser reescritos depois que chegam às livrarias. As série de televisão têm o luxo de consertar seus erros e acertar as coisas. E os telespectadores têm todo o verão para lhes dar uma segunda chance.


Tradução Paulo Migliacci

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