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DVDTECA FOLHA
"Terra de Ninguém" venceu Oscar de melhor filme estrangeiro
Tanovic critica com humor e acidez guerra na Bósnia
DA REPORTAGEM LOCAL
A DVDteca Folha acolhe no
próximo domingo a Guerra da
Bósnia. Claro, sob os olhos críticos do diretor Danis Tanovic em
"Terra de Ninguém", que ataca ferozmente o conflito nos Bálcãs.
Longa-metragem bem dirigido
e com visão contundente, cativou
espectadores e críticos e não à toa
ganhou inúmeros prêmios, como
o de melhor roteiro no Festival de
Cannes, melhor filme estrangeiro
no Oscar, melhor filme no Globo
de Ouro e no César, além do prêmio do público da 25ª Mostra BR
de Cinema de São Paulo.
Ainda que lide com um assunto
dramático, o da estupidez da
guerra, "Terra de Ninguém" o faz
com um pé no humor. Humor
negro, claro, sobretudo pelo ponto de partida da história.
Em 1993, um soldado sérvio e
outro bósnio esbarram-se numa
trincheira que está naquilo que se
chama "terra de ninguém", área
que não pertence a nenhum dos
lados do conflito. Eles não têm como sair dali, devido ao fogo cruzado de ambos os lados, e ficam a
discutir ferozmente, defendendo
cada um o seu lado.
Para piorar, há um terceiro soldado em situação mais que embaraçosa: deitado sobre uma mina,
não pode se mexer sob o risco de
ela explodir. A ONU, então, tenta
resolver o dilema, mas parece
mais atrapalhar do que ajudar
realmente. A imprensa parece
cheia de boas intenções também,
mas não deixa de se aproveitar da
situação inusitada.
No filme de Tanovic não há bem
e mal e a crítica é lançada, sobretudo, à indiferença do Ocidente
em relação ao conflito na ex-Iugoslávia, que durou de 1992 a
1995. O próprio diretor disse à Folha, sobre as Nações Unidas, que
"o que eles fizeram é uma das coisas mais tristes do filme e tudo o
que está lá foi verdade, eles fizeram um grande circo durante o
conflito, mas nada de concreto".
E complementa sua opinião:
"Foi uma crítica, porque não
acredito em neutralidade. Você
pode dizer que não liga, que não
quer fazer nada a respeito, mas
não diga que vai ficar neutro. Isso
é fazer nada". O ataque é mais
suave à mídia, ainda que o cineasta perceba que, ainda que a imprensa tenha possibilitado ao
mundo ver o conflito na Bósnia,
havia tantas guerras na pauta da
época que as pessoas passaram a
não se importar.
A contundência se fez notar no
mundo todo, mas a violência física, bem menos. Bósnio, Tanovic
sabe o que é a guerra de perto, por
isso preferiu outro caminho para
a sua eletrizante tragicomédia. "O
que traria de bom ver um estômago aberto? Eu já vi isso algumas
vezes e não fiquei mais esperto. As
pessoas sabem que a guerra é uma
coisa terrível. Para que eu colocaria isso em destaque? Não gosto
de usar a violência por violência.
Gosto de produzir emoções, mas
ver um homem sem pernas não
faz parte do que quero mostrar."
Campanha militar foi captar
fundos para fazer o filme, que foi
co-produzido por seis países.
"Quando você faz o seu primeiro
filme e é sobre a realidade na Bósnia, as pessoas não querem arriscar muito dinheiro nele", explicou o diretor, com 33 anos na
época.
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