São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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DVDTECA FOLHA

"Terra de Ninguém" venceu Oscar de melhor filme estrangeiro

Tanovic critica com humor e acidez guerra na Bósnia

DA REPORTAGEM LOCAL

A DVDteca Folha acolhe no próximo domingo a Guerra da Bósnia. Claro, sob os olhos críticos do diretor Danis Tanovic em "Terra de Ninguém", que ataca ferozmente o conflito nos Bálcãs.
Longa-metragem bem dirigido e com visão contundente, cativou espectadores e críticos e não à toa ganhou inúmeros prêmios, como o de melhor roteiro no Festival de Cannes, melhor filme estrangeiro no Oscar, melhor filme no Globo de Ouro e no César, além do prêmio do público da 25ª Mostra BR de Cinema de São Paulo.
Ainda que lide com um assunto dramático, o da estupidez da guerra, "Terra de Ninguém" o faz com um pé no humor. Humor negro, claro, sobretudo pelo ponto de partida da história.
Em 1993, um soldado sérvio e outro bósnio esbarram-se numa trincheira que está naquilo que se chama "terra de ninguém", área que não pertence a nenhum dos lados do conflito. Eles não têm como sair dali, devido ao fogo cruzado de ambos os lados, e ficam a discutir ferozmente, defendendo cada um o seu lado.
Para piorar, há um terceiro soldado em situação mais que embaraçosa: deitado sobre uma mina, não pode se mexer sob o risco de ela explodir. A ONU, então, tenta resolver o dilema, mas parece mais atrapalhar do que ajudar realmente. A imprensa parece cheia de boas intenções também, mas não deixa de se aproveitar da situação inusitada.
No filme de Tanovic não há bem e mal e a crítica é lançada, sobretudo, à indiferença do Ocidente em relação ao conflito na ex-Iugoslávia, que durou de 1992 a 1995. O próprio diretor disse à Folha, sobre as Nações Unidas, que "o que eles fizeram é uma das coisas mais tristes do filme e tudo o que está lá foi verdade, eles fizeram um grande circo durante o conflito, mas nada de concreto".
E complementa sua opinião: "Foi uma crítica, porque não acredito em neutralidade. Você pode dizer que não liga, que não quer fazer nada a respeito, mas não diga que vai ficar neutro. Isso é fazer nada". O ataque é mais suave à mídia, ainda que o cineasta perceba que, ainda que a imprensa tenha possibilitado ao mundo ver o conflito na Bósnia, havia tantas guerras na pauta da época que as pessoas passaram a não se importar.
A contundência se fez notar no mundo todo, mas a violência física, bem menos. Bósnio, Tanovic sabe o que é a guerra de perto, por isso preferiu outro caminho para a sua eletrizante tragicomédia. "O que traria de bom ver um estômago aberto? Eu já vi isso algumas vezes e não fiquei mais esperto. As pessoas sabem que a guerra é uma coisa terrível. Para que eu colocaria isso em destaque? Não gosto de usar a violência por violência. Gosto de produzir emoções, mas ver um homem sem pernas não faz parte do que quero mostrar."
Campanha militar foi captar fundos para fazer o filme, que foi co-produzido por seis países. "Quando você faz o seu primeiro filme e é sobre a realidade na Bósnia, as pessoas não querem arriscar muito dinheiro nele", explicou o diretor, com 33 anos na época.


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