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Virtuose, James Carter faz sax uivar
Americano é o primeiro a tocar na série Jazz Nights, que traz também o baixista Richard Bona e o baterista T.S. Monk
Conhecido pela garra no
palco e por explorar limites
dos instrumentos, jazzista
vai do gospel ao funk com
"formação econômica"
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dez anos atrás, em sua primeira apresentação no Brasil,
James Carter excitou a platéia
do extinto Free Jazz, como faz
nos festivais e clubes do gênero
que freqüenta. Virtuose capaz
de dominar diversos instrumentos de sopro, o americano
de 35 anos abre amanhã, em
São Paulo, a série Bourbon
Street Jazz Nights (veja a programação ao lado).
Considerado o melhor sax
barítono do jazz desta década,
segundo enquetes da revista
"Down Beat", Carter é conhecido não só por sua garra e versatilidade no palco. Seus improvisos impressionam pela facilidade com que explora os limites
técnicos dos instrumentos, fazendo-os gritar, uivar, ranger.
"Desta vez, vou levar só uns
três saxofones e algumas flautas", diverte-se o jazzista, que
volta ao Bourbon Street com o
trio de órgão e bateria que o
acompanhou em 2002. "É uma
formação econômica com a
qual podemos cobrir um repertório amplo, do gospel ao funk."
Diferentemente de muitos
jazzistas de sua geração, que se
contentam em reproduzir o bebop dos anos 40 e 50, Carter
tem outra ambição. Gosta de
resgatar e recriar composições
pouco conhecidas de antigos
saxofonistas (como Don Byas e
Jimmy Forrest), mas seus improvisos frenéticos o aproximam da estética do jazz de vanguarda.
"Não vejo problemas em
transitar entre a tradição e o
que chamam de vanguarda,
porque essas são expressões diferentes de uma mesma fonte
musical", diz o saxofonista, que
no início da carreira alternou
trabalhos com o tradicionalista
Wynton Marsalis e vanguardistas como Lester Bowie e Julius
Hemphill.
Com uma dúzia de títulos, a
discografia de Carter reflete
seu interesse por diversos estilos de jazz. Já recriou pérolas
dos repertórios do violonista
Django Reinhardt ("Chasin"
the Gypsy", 2000) e da cantora
Billie Holiday ("Gardenias for
Lady Day", 2003). Nos mais recentes "Live at Baker's" (2004)
e "Out of Nowhere" (2005), experimenta um jazz mais
"funky" ao lado de seu trio.
Ao final de 2005, lançou
"Gold Sounds", com versões
jazzísticas para sucessos da
banda de rock alternativo Pavement. "Foi um projeto legal.
Conheci o Pavement vendo o
desenho "Beavis and Butthead",
na MTV", relembra. Sua intenção, admite, é atingir alguns dos
fãs da banda, mais até do que
ampliar o repertório do jazz.
A série Jazz Nights prossegue no dia 20, com a apresentação do talentoso baixista, cantor e compositor camaronês
Richard Bona. "Tiki", seu novo
álbum, que vai servir de base ao
show, traz saborosas fusões de
jazz contemporâneo com ritmos do Caribe e harmonias inspiradas na música brasileira.
Quem fecha a série, dia 21, é o
carismático baterista e compositor norte-americano T.S.
Monk. Filho do pianista Thelonious Monk, ele esteve por aqui
em 2000, tocando jazz moderno com uma banda de primeira
linha. Desta vez, traz também a
cantora Rachael Price.
CARLOS CALADO é jornalista e crítico de música, autor do livro "O Jazz como Espetáculo", entre outros.
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