São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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"Gargalhômetro" mede riso infantil diante da televisão

Em entrevista, diretora de instituto alemão fala de pesquisa que detalha reações de crianças a programas

Maya Götz, que vem a São Paulo para dar oficina, diz que incongruência é o que mais provoca risadas

GABRIELA ROMEU
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHINHA

Riso é uma questão de gênero, coisa da idade e tem apelo cultural. É o que aponta uma espécie de "gargalhômetro" ("fun-0-meter") usado em pesquisas para descobrir onde está o riso infantil em programas de TV.
O "gargalhômetro" foi um dos métodos usados por Maya Götz, diretora do Instituto Central Internacional para a Juventude e a Televisão Educativa (IZI), em Munique, Alemanha, em mais de uma década de estudos sobre o senso de humor infantil e a programação na telinha.
A pesquisadora estará em São Paulo durante o ComKids, que discute a produção audiovisual para a infância e ocorre até o dia 19 (leia texto ao lado). Ela ministrará a oficina "Humor: Afinal do que as Crianças Estão Dando Risada?", no Sesc Consolação, no dia 15, às 19h.
Em entrevista à Folha, por e-mail, ela falou que produtores de conteúdo para a infância geralmente se apoiam num humor complexo, que não provoca o riso nas crianças. Leia trechos a seguir.

 

Folha - Como foram feitas as pesquisas?
Maya Götz - Fizemos mais de 15 estudos em mais de 40 países, com diferentes metodologias. Criamos, por exemplo, um "gargalhômetro" ("fun-0-meter"), uma caixa com um joystick manipulado por crianças enquanto assistem à TV, para indicar o que é mais ou menos engraçado. O próximo estudo deve se dar em 30 países, em 2012.

Crianças riem do quê?
Crianças no mundo todo riem mais ou menos das mesmas coisas. A diferença maior está entre o que faz as crianças e os adultos darem risada. A razão principal para algo ser engraçado é a incongruência. Mas há variações conforme a idade, o gênero e as experiências cotidianas.

Pode dar exemplos?

Crianças de Soweto, gueto da África do Sul, não acham graça em guerra de comida. Uma cena dessas em "Wallace e Gromit" [Nick Park], com purê de batata, foi engraçada para crianças da Alemanha e dos EUA. Mas não para as de Soweto. Elas disseram que poderia ser divertido se jogassem água ou até mesmo o purê na boca um do outro.

Como é o humor de crianças da América do Sul?
Crianças do Brasil, da Argentina e da Colômbia sentem e expressam emoções facilmente. Se estão em grupo, a risada funciona como uma onda. São bem ativas durante a recepção, enquanto assistem a um programa na TV.

O que faz de "Bob Esponja" um sucesso, entre crianças e adultos?
Muito do humor de "Bob Esponja" vem da própria estética. É engraçado quando seus olhos viram e reviram. Mas é também porque representa a criança, é otimista, está sempre burlando regras, persiste até conseguir, irritando adultos sem perceber.

Uma das discussões hoje no Brasil é sobre a publicidade na programação infantil. Qual é a sua opinião?
Na Alemanha, em nosso canal público para crianças, é proibido anunciar e temos regras no mercado de licenciamento. E há canais como Nickelodeon, com publicidade. Digo que, se há chance de evitar a propaganda na TV infantil, evite. O perigo é a criança achar que precisa de uma marca ou brinquedo para construir sua identidade.


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