São Paulo, sexta, 12 de junho de 1998

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MÚSICA
Beastie Boys voltam ao hip hop tradicional

Divulgação
Adam Horovitz, Adam Yauch e Mike D., integrantes do trio norte-americano Beastie Boys, que lança dia 14 de julho o novo álbum "Hello Nasty"


LEANDRO FORTINO
enviado especial a Nova York

O trio americano Beastie Boys faz domingo, em Washington DC, o primeiro show da turnê de seu quinto álbum de músicas inéditas, "Hello Nasty" (veja quadro com a discografia), que será lançado nos EUA no dia 14 de julho.
Eles sobem ao palco para fechar o último dia da terceira edição do Tibetan Freedom Concert, festival que organizam desde 96 para angariar fundos para a divulgação do problema do povo tibetano, reprimido pelo governo chinês desde 1949 (leia texto nesta página).
No novo álbum, eles retomam o trabalho do segundo disco, "Paul's Boutique", repleto de samples, scratches e batidas hip hop, diferentemente dos dois discos anteriores, "Check Your Head" e "Ill Communication".
Os dois álbuns traziam o grupo assumindo instrumentos e fazendo, em algumas faixas, o hardcore que tocavam no início da carreira, nos anos 80, antes mesmo do lançamento do álbum de estréia, "Licensed to Ill", de 86.
Esse foi o primeiro disco de rap a entrar no topo da parada dos álbuns mais vendidos nos EUA e ainda hoje é um dos discos de rap que mais vendeu em todo planeta (6 milhões de cópias).
O intervalo de quatro anos entre "Hello Nasty" e "Ill Communication" é o maior que o grupo já levou para gravar um álbum em mais de 15 anos de carreira.
"Passamos mais tempo fazendo coisas como uma turnê hardcore, organizando o Tibetan Freedom, produzindo o documentário do primeiro festival... Foi somente em 97 que nos concentramos em "Hello Nasty'. Levamos dois anos no estúdio ", conta Adam Yauch, 31, também conhecido por MCA.
O clima hip hop que segue por quase todo álbum é dado, em parte, ao excelente trabalho de Mixmaster Mike, integrante de um trio chamado Invisibl Skratch Pikls, que faz música usando seis toca-discos ao mesmo tempo.
Mike ocupa a vaga deixada pelo DJ Hurricane, que, segundo o vocalista Mike D, 32, estava preocupado com seus próprios discos.
"Adam (Horovitz) encontrou Mixmaster em uma festa que acontece todos os anos na Califórnia e o convidou para fazer alguma coisa com a gente. Ele veio para apenas algumas faixas, mas nós ficamos impressionados com sua habilidade nos toca-discos e com as várias idéias que ele trouxe para "Hello Nasty'", conta D.
Assim como um bom DJ, o sampler é outra arma importante para o som dos Beastie Boys. E "Hello Nasty" está lotado deles. Mas, desta vez, raramente se percebe de onde a música original veio, como acontecia em "Paul's Boutique", que trazia trechos descarados de músicas de Sly Stone e Beatles.
"O disco vai ser diferente do que o que vocês ouviram. Ainda há muitas coisas que precisam ser autorizadas. É muito chato pedir essas autorizações, principalmente quando você usa um pedaço muito pequeno de uma música. Os donos das editoras musicas ouvem o pedacinho e pedem 50% dos direitos autorais. Por isso há algumas coisas que teremos de tirar do disco", explica D.
Para ele, no passado era mais fácil samplear: "Antes as pessoas não viam o material sampleado como um modo de ganhar dinheiro. Hoje as editoras musicais ficam em cima. Seria melhor tratar com o próprio músico, mas temos de conseguir a autorização. Faz parte da política da gravadora".
A música brasileira também está presente no som dos B-Boys. Além de "os psicodélicos Mutantes" e de Caetano Veloso, o produtor do álbum, Mario Caldato Jr. (brasileiro radicado nos EUA que produziu o segundo disco do Planet Hemp), mostrou aos "garotos" outro representante da boa MPB.
"Ouvimos um pouco de Jorge Ben apresentado por Mario, que é um colecionador de seus discos. Ele gravou uma fita variada com as suas 30 músicas preferidas do material mais antigo de Ben. Sua voz é tão impressionante. Ele deve ser para o Brasil o que Al Green é para os EUA", diz Yauch.
Em "Hello Nasty", a bossa nova serviu de inspiração para a balada acústica "I Don't Know". "Tentamos fazer duas músicas de bossa nova, que certamente foram influenciadas por Tom Jobim", revela Yauch.
Segundo ele, a música também conta com a participação de um brasileiro, o percussionista Duduca, que mora nos EUA. "Duduca foi apresentado pelo pai de um amigo nosso que gosta muito de música brasileira".


O jornalista Leandro Fortino viajou a Nova York a convite da gravadora EMI


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