São Paulo, sexta, 12 de junho de 1998

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LIVRO
Pesquisador Ciro Mioranza leu desde listas telefônicas até documentos medievais para escrever obra recém-lançada
Dicionário aportuguesa sobrenomes italianos

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Taffarel quer dizer inconstante, certo? Para o treinador Zagallo, não. Mas para o recém-lançado "Dicionário de Sobrenomes Italianos", a resposta é sim.
Escrito pelo pesquisador e professor de linguística Ciro Mioranza, o dicionário é a oportunidade para que os cerca de 23 milhões de italianos e descendentes que moram hoje no Brasil descubram o significado de seus sobrenomes.
Com mais de 25 mil itens, o "Dicionário" é basicamente uma obra de referência. Mas, como se vê no caso de Taffarel, pode se tornar divertido.
Há dezenas de outros sobrenomes famosos, como Di Caprio (Criador de Cabras) ou Fittipaldi (Filho do Guerreiro). Outros, menos conhecidos, assustam pela estranheza. É o caso de Mozzaquatro (Estrangula Quatro) e Sbroiavacca (Estraçalha Vaca).
Pesquisa

O trabalho de pesquisa para o dicionário foi monumental. Foram 12 anos de reunião e organização de documentos, inclusive alguns da Idade Média.
Mas o feito "impossível" de Ciro Mioranza foi ler as listas telefônicas de três capitais brasileiras, em busca de famílias italianas. "Só a de São Paulo, eu levei duas semanas. As de Porto Alegre e Curitiba foram uma semana cada", afirma o pesquisador de 57 anos de idade.
"Mesmo assim, faltam muitos sobrenomes", diz Mioranza, que já prepara o segundo volume da obra, que terá cerca de 20 mil outras linhagens.
O plano de obra inclui ainda um terceiro dicionário. "Chegaremos a 70 mil", diz o pesquisador. Segundo ele, o total de sobrenomes italianos espalhados pelo mundo hoje chega a 250 mil.
Para ajudá-lo na caça às informações, o pesquisador mantém uma rede informal de quase 20 amigos na Itália. São eles, por exemplo, que conseguem os documentos medievais necessários para se estabelecer a origem de um nome.
Além disso, Mioranza se beneficia de sua ligação de mais de 30 anos com o governo italiano. "Fui estudar na Itália em 1966 e virei funcionário público", diz o pesquisador, que é bisneto de italianos.

Origens

"O Dicionário de Sobrenomes Italianos" não é o primeiro livro de Mioranza relacionado ao tema. "Filius Quondam - A Origem e o Significado dos Sobrenomes Italianos", lançado no ano passado, analisa as origens históricas dessas palavras.
O pesquisador conta que, a partir do século 5, todas as pessoas na Itália eram batizadas com nomes de santos. Era João, José, Pedro e Paulo até não acabar mais. Mas ninguém tinha sobrenome.
"Isso causava uma enorme confusão na época. Muitos pagavam por crimes que não tinham cometido e coisas assim", conta Mioranza. Tentando minimizar o caos, as autoridades da época passaram a batizar todos com uma outra informação além do primeiro nome. Começaram a aparecer "João filho de Paulo" ou "Pedro filho de José". Mesmo assim, os erros continuaram.
Entre os séculos 9 e 15, os atuais sobrenomes foram criados. As pessoas passaram a ser nomeadas a partir de quatro características: nomes próprios (cerca de 37%), locais (37%), profissões (15%) ou apelidos (11%).
Um exemplo de nome próprio incorporado ao sobrenome é o de Marco Polo (Marcos Paulo). Já Leonardo Da Vinci é assim chamado porque alguém de sua família veio da cidade de Vinci.
Outros ganharam sobrenomes que indicavam suas profissões, como Ferrari (Ferreiro). Por último, há os que tiveram seus apelidos ou qualidades incorporados, como a família do músico Rossini (Ruivinho).


Livro: Dicionário de Sobrenomes Italianos
Autor: Ciro Mioranza
Lançamento: editora Escala (inf. no tel. 011/255-4043)
Quanto: R$ 20 (336 págs.)



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