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LIVRO
Pesquisador Ciro Mioranza leu desde listas telefônicas até documentos medievais para escrever obra recém-lançada
Dicionário aportuguesa sobrenomes italianos
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Taffarel quer dizer inconstante,
certo? Para o treinador Zagallo,
não. Mas para o recém-lançado
"Dicionário de Sobrenomes Italianos", a resposta é sim.
Escrito pelo pesquisador e professor de linguística Ciro Mioranza, o dicionário é a oportunidade
para que os cerca de 23 milhões de
italianos e descendentes que moram hoje no Brasil descubram o
significado de seus sobrenomes.
Com mais de 25 mil itens, o "Dicionário" é basicamente uma
obra de referência. Mas, como se
vê no caso de Taffarel, pode se tornar divertido.
Há dezenas de outros sobrenomes famosos, como Di Caprio
(Criador de Cabras) ou Fittipaldi
(Filho do Guerreiro). Outros, menos conhecidos, assustam pela estranheza. É o caso de Mozzaquatro
(Estrangula Quatro) e Sbroiavacca
(Estraçalha Vaca).
Pesquisa
O trabalho de pesquisa para o dicionário foi monumental. Foram
12 anos de reunião e organização
de documentos, inclusive alguns
da Idade Média.
Mas o feito "impossível" de Ciro Mioranza foi ler as listas telefônicas de três capitais brasileiras,
em busca de famílias italianas.
"Só a de São Paulo, eu levei duas
semanas. As de Porto Alegre e Curitiba foram uma semana cada",
afirma o pesquisador de 57 anos
de idade.
"Mesmo assim, faltam muitos
sobrenomes", diz Mioranza, que
já prepara o segundo volume da
obra, que terá cerca de 20 mil outras linhagens.
O plano de obra inclui ainda um
terceiro dicionário. "Chegaremos
a 70 mil", diz o pesquisador. Segundo ele, o total de sobrenomes
italianos espalhados pelo mundo
hoje chega a 250 mil.
Para ajudá-lo na caça às informações, o pesquisador mantém
uma rede informal de quase 20
amigos na Itália. São eles, por
exemplo, que conseguem os documentos medievais necessários para se estabelecer a origem de um
nome.
Além disso, Mioranza se beneficia de sua ligação de mais de 30
anos com o governo italiano. "Fui
estudar na Itália em 1966 e virei
funcionário público", diz o pesquisador, que é bisneto de italianos.
Origens
"O Dicionário de Sobrenomes
Italianos" não é o primeiro livro
de Mioranza relacionado ao tema.
"Filius Quondam - A Origem e o
Significado dos Sobrenomes Italianos", lançado no ano passado,
analisa as origens históricas dessas
palavras.
O pesquisador conta que, a partir do século 5, todas as pessoas na
Itália eram batizadas com nomes
de santos. Era João, José, Pedro e
Paulo até não acabar mais. Mas
ninguém tinha sobrenome.
"Isso causava uma enorme confusão na época. Muitos pagavam
por crimes que não tinham cometido e coisas assim", conta Mioranza. Tentando minimizar o
caos, as autoridades da época passaram a batizar todos com uma
outra informação além do primeiro nome. Começaram a aparecer
"João filho de Paulo" ou "Pedro
filho de José". Mesmo assim, os
erros continuaram.
Entre os séculos 9 e 15, os atuais
sobrenomes foram criados. As
pessoas passaram a ser nomeadas
a partir de quatro características:
nomes próprios (cerca de 37%),
locais (37%), profissões (15%) ou
apelidos (11%).
Um exemplo de nome próprio
incorporado ao sobrenome é o de
Marco Polo (Marcos Paulo). Já
Leonardo Da Vinci é assim chamado porque alguém de sua família veio da cidade de Vinci.
Outros ganharam sobrenomes
que indicavam suas profissões,
como Ferrari (Ferreiro). Por último, há os que tiveram seus apelidos ou qualidades incorporados,
como a família do músico Rossini
(Ruivinho).
Livro: Dicionário de Sobrenomes Italianos
Autor: Ciro Mioranza
Lançamento: editora Escala (inf. no tel.
011/255-4043)
Quanto: R$ 20 (336 págs.)
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