São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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LIVRO - LANÇAMENTOS
Edusp traz de volta os tempos de Império

CASSIANO ELEK MACHADO
Editor-assistente interino da Ilustrada

Depois dos tempos de Império, o teatro brasileiro mudou definitivamente de regime. Império morreu em 1985, aos 60 anos. Uma parte importante de sua trajetória será proclamada hoje, às 15h, na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, com o lançamento do livro "Flávio Império".
Décimo-terceiro volume da coleção "Artistas Brasileiros", da Edusp, a obra ilumina não apenas a trajetória que Flávio Império construiu nos palcos, mas também as cores intensas que deixou nas artes plásticas.
Como define no livro a artista Maria Bonomi, em um retrato bastante generoso da estética "imperial", suas marcas vieram de uma observação devoradora das características brasileiras: "(Ele era) profundo observador de nossos rituais, nossas essências comportamentais, alegrias, escabrosidades, facetas kitsch e folclóricas".
No mesmo livro, no segmento dedicado à atuação mais marcante de Império, a de cenógrafo, o próprio artista amplia o que foi esboçado por Bonomi: "Às vezes a própria equipe no ateliê do teatro começava e eu terminava para que o acabamento, que contava, em geral, com tantas origens, tivesse uma linguagem mais ou menos unificada, que eu chamaria assim de "kitsch nacional'".
Nesse caso, Império falava de sua participação em uma montagem marcante nas artes cênicas nacionais: "Roda Viva", direção de Zé Celso Martinez Corrêa, no ano de 1965 (Império confessa no mesmo depoimento que achava "bem fraquinho" o texto dessa peça, de Chico Buarque de Holanda).
Comentários como esses, tecidos sobre cada uma das muitas montagens fundamentais das quais participou, seja ao lado de grupos importantes como o Arena e o Oficina, seja com companhias ainda mais experimentais, preenchem boa parte do primeira capítulo do livro.
No mesmo segmento, há um ensaio de fôlego da pesquisadora Mariângela Alves de Lima sobre o desenvolvimento da cenografia brasileira, que teria como uma espécie de marco zero os célebres "140" efeitos de luz criados por Ziembinski para o "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, de 1943.
Nesse texto são recuperadas as atuações de abrasileiramento propostas pelo Teatro Brasileiro de Comédia e pelo Arena, o "Morte e Vida Severina" do Teatro Experimental Cacilda Becker e as idas e vindas de Império nos bastidores do Teatro Oficina.
Flávio Império é caracterizado como "muito mais um artesão da experiência do que um visionário com o propósito de colher aplausos".
Modesto, a ponto de dizer que não era artista, mas apenas um curioso, Império sempre sinalizou que não eram as loas o seu principal objetivo.
Isso fica claro em uma frase que ele repetiu diversas vezes e que está registrada no livro: "Sou o maior inimigo de mim mesmo".


Livro: Artistas Brasileiros - Flávio Império Organização: Renina Katz e Amélia Hamburguer Lançamento: Edusp/Fapesp Quando: hoje, às 15h Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, São Paulo, tel. 011/229-9844) Quanto: R$ 65 (278 págs.)

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