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Voz é que é de caramelo
da Reportagem Local
"Amor de Verdade", vindo de
quem vem -um rapaz nada ingênuo do rock, ainda que desde então brega-sonhador-, teria de ser
um ato de cinismo. Bem, o cinismo
está presente: Paulo Ricardo veste
o brega com arranjos modernosos,
às vezes bons de fato, como no caso
de "Não Há Dinheiro Que Pague".
Mas alguma dose de equívoco
também está presente. O naco tomado do "rei" é mais que simbólico: PR é ambicioso, quer ser um
novo RC, e não à toa vai buscar referência na fase em que sua matriz
passava por essa mesma transição.
O repertório é supimpa, mas é
também dos mais difíceis. É de um
intérprete de autores de vínculo
com o soul, como Getúlio Cortes e
Renato Barros (ambos ligados à
bobeira iê-iê-iê, mas ambos artesãos de forte centelha pop).
PR quer cantar a fase soul de RC,
mas é mau cantor -como, de resto, quase toda a sua geração-, coisa que RC nunca foi. PR se contorce, enrouquece, carameliza interpretações antes doídas de melancolia. Toma o RC soul e o trata como se fosse o beato, nada soul.
Acerta, assim, o que deve ser seu
alvo nº 1: o populismo em forma de
canção. Baladas pinçadas e interpretação melosa habilitam-no a
disputar títulos com Fábio Jr.,
Maurício Mattar, Daniel (aos quais
se nivela mesmo em algumas poucas canções próprias polvilhadas
no CD de intérprete, indizíveis).
Bem, tais "rivais" são geometricamente inferiores a ele. Homem
certo em registro desfocado, PR
deve se tornar príncipe de suas
ambições. Mas elas poderiam ser
bem maiores -no sentido "soul",
não só no propósito de vender
"zil" CDs no país sem futuro.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Amor de Verdade
Artista: Paulo Ricardo
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 18, em média
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