São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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PAULO RICARDO & RPM

da Reportagem Local

Paulo Ricardo, 34, industrializa o romantismo em sua carreira solo. De aceitação popular revigorada após "O Amor Me Escolheu" (97), investe agora, em "Amor de Verdade", no repertório daquele que ele define como seu ídolo de infância, Roberto Carlos.
De passado vinculado à rebeldia rock dos 80 -com a banda-furacão RPM-, Paulo aprofunda o posicionamento como ídolo romântico, daqueles que concorrem com Daniel e Roberto Carlos ao troféu Imprensa de Silvio Santos. A travessia o torna um híbrido.
Tal como, em 1968, Roberto Carlos rompeu com a jovem guarda e passou a confeccionar uma carreira de ídolo romântico e politicamente correto, Paulo Ricardo procura, depois de sucessos sempre menores que os dos anos RPM (85-88, já com interrupções) -quando não de insucessos mesmo.
"Eu sou esse híbrido, sempre serei. Existe só um grande Brasil bacana, não é o legal da Regina Casé de um lado e um Brasil escroto do outro. Existem maneiras de falar um idioma que possa ser curtido por esses dois Brasis."
Roberto seria, então, o modo ideal de estabelecer tal ponte. Para tanto, Paulo escolheu justamente temas que sucedem a ruptura de Roberto com o iê-iê-iê. Curiosamente, não contemplam, exceto por "Por Amor" (72), canções de punho próprio do ídolo.
"Há um determinado Roberto mais ligado à idéia do compositor, que não é exatamente ao que eu queria me referir. Já foi gravado demais, por Bethânia, Agnaldo Timóteo, sertanejos, pagodeiros. Acho impensável regravar "Cavalgada", "Emoções". O que eu queria era o momento para cima, jovial, Beatles, Elvis, o pop-rock."
Detido no período 1967-1977 das gravações do artista, concorda que tenha privilegiado a fase "soul" de Roberto. "Como rapazes brancos do rock, éramos invejosos do timbre e do suingue negro. A história do rock é de brancos tentando soar negros. Roberto fez isso."
Como honrar a interpretação soul do modelo? "Não estou brincando, pegando roquinho. São canções "pedaçudas", densas, consistentes, um repertório que pretendi rejuvenescer. O (produtor) Guto Graça Mello pediu que eu desligasse todos os "pedais" da minha voz -efeitos, distorções, compressões, vícios adquiridos do rock'n'roll. Neste disco passo a cantar de outra maneira, crua."
Paulo fala, enfim, da transformação por que passa desde "O Amor Me Escolheu". "Abdiquei do meu passado rock, da "brodagem" rock. Com o RPM, eu tinha 20 anos, queria mudar o mundo. Não consigo mais. Turma é coisa que você só tem uma vez. Não tenho mais turma, não sou do rock."
Algum desconforto? "Eu sabia que ia ser chamado de brega e tudo mais. Mas cantar o amor é doação, eu canto para os outros, não para meus amigos."
"Tenho que conter alguns ímpetos, abro mão de exibir minha cultura para levar a mensagem da emoção com mais clareza. É uma opção de vida. Não foi só minha música que mudou, eu também mudei. Sou um caramelo, um marshmellow", define-se. (PAS)


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