BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Para cada Norman Bates, dezenas de "Jasons". Costuma-se creditar a Alfred Hitchcock (1899-1980) a "culpa" por uma herança maldita que culminou nos filmes de terror que ainda proliferam nos cinemas. Mais banal do que os roteiros de séries como "Sexta-Feira 13" é a redução do nome do diretor inglês a mero sinônimo de "mestre do suspense".
Os documentários da rede britânica BBC que os canais GNT e Eurochannel exibem nesta semana (homenagem ao nascimento de Hitchcock, 13/8), ao contrário, relatam uma carreira mais diversa, marcada por recomeços e repleta de simbolismos, em que fobia e culpa são as palavras-chaves.
"Living Famously" (GNT) tenta condensar em pouco mais de 50 minutos o relato da vida pessoal do diretor, associando-a com seus principais filmes. Através de entrevistas feitas nos anos 60, e depoimentos da filha do diretor, Pat Hitchcock, e do biógrafo Donald Spoto, entre outros, a produção encontra possíveis explicações para certos signos recorrentes em sua obra. "Ele era um "outsider", um menino gordo superprotegido pela mãe", diz o programa.
"Alfred the Great" e "The Auteur" (Eurochannel) não diferem muito, mas conseguem traçar panorama mais completo devido à duração maior (100 min.).
Estão aqui, também, o relato do início da carreira do diretor, quando trabalhou como ilustrador de cartazes, na era do cinema mudo; o "nascimento" do gênero suspense, com "The Lodger" (1925), filme sobre um estrangulador londrino em que seus principais elementos dramáticos já despontavam (a transferência da culpa, o verdadeiro criminoso que é revelado desde o início).
Merecem atenção os trechos de trailers de seus filmes, em especial os da fase norte-americana, que aparecem nos três documentários. "The Auteur", por exemplo, mostra o trailer de "Psicose" (60), apresentado pelo próprio (irônico e bem-humorado) diretor.
Essa produção seria o resultado de suas investidas na TV, com a série "Alfred Hitchcock Presents". O público-alvo era os jovens. E a lição que seria aprendida e diluída nas décadas seguintes: "O horror só aparece depois que você viu o filme, quando chega em casa e está tudo escuro", diz, em uma entrevista.