São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros CRÍTICA DOCUMENTÁRIO "Solidão e Fé" não investiga a fundo simbologia dos rodeios ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ COLABORAÇÃO PARA FOLHA Essencialmente masculino e rural, o universo dos rodeios era estranho à documentarista Tatiana Lohmann. "Solidão e Fé" conta a jornada da diretora nesse mundo pouco conhecido nos grandes centros urbanos. O processo é marcado por dúvidas e preconceitos que Lohmann expõe na narração em primeira pessoa. Apesar do ponto de vista pessoal, o filme prefere mostrar a julgar. O rodeio é um espetáculo que mobiliza cerca de 30 milhões de pessoas em vários Estados brasileiros e reencena, numa atmosfera catártica e ritualística, um momento fundamental na trajetória do homem: a domesticação dos animais. Infelizmente, o filme não vai mais fundo na simbologia do rodeio, pois privilegia os depoimentos dos peões -que se revelam bastante semelhantes entre si. Estes revelam o Brasil profundo, onde vige um código de conduta retrógrado, baseado na honra, em que a violência não é estranha. Solitários, os peões levam uma vida nômade, ancorada na figura da mãe protetora. Outra proteção vem da religião, cujo papel na vida e na mentalidade dos peões é muito bem mostrado. Mas o filme não trabalha a relação aparentemente contraditória entre coragem e fé, rusticidade e devoção. Se o conservadorismo machista dos peões aparece logo de cara, a violência que por vezes marca as relações entre eles irrompe brutalmente perto do fim do filme. Isso parece desconcertar a documentarista e, a partir deste ponto, sua câmera se afasta do rodeio. Ela passa a mostrar uma família -talvez a última- que ainda se dedica às touradas (apesar do termo, estas nada têm em comum com as touradas tradicionais), espetáculos de acrobacia realizados com novilhos. Na bela cena final, surge o vaqueiro -figura arquetípica do peão de rodeio-, tocando uma boiada. Mas o nexo entre vaqueiro e peão não chega a ser explorado. SOLIDÃO E FÉ PRODUÇÃO Brasil, 2010 DIREÇÃO Tatiana Lohmann ONDE no Frei Caneca Unibanco Arteplex CLASSIFICAÇÃO livre AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Cinema - Crítica/Drama: Malick capta a dor humana em novo filme Próximo Texto: Eryk Rocha acompanha rastro de homem solitário Índice | Comunicar Erros

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.