São Paulo, Quinta-feira, 12 de Agosto de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Articulação entre as artes e outras disciplinas vai nortear primeira mostra do próximo milênio
Bienal prepara expansão para 2001

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


Multidisciplinaridade e expansão do conceito de exposição são as idéias que vão nortear a próxima Bienal Internacional de São Paulo. De acordo com o presidente da Fundação Bienal, Carlos Bratke, a 25ª edição do evento vai estar muito baseada no livro "Seis Propostas para o Próximo Milênio", de Ítalo Calvino.
"A última Bienal representou bem o fim de um século, foi pesada em termos de tema. Queremos que a próxima esteja relacionada ao futuro", afirma o Bratke.
Prevista para acontecer entre março e maio de 2001, a primeira Bienal do novo milênio está apenas começando a ser pensada. E a inspiração no livro de Ítalo Calvino, série de conferências que o autor fez para a Universidade de Harvard sobre as virtudes que a literatura deveria manter no futuro, não é a única pista sobre ela.
No quesito multidisciplinaridade, a proposta da curadoria é explorar áreas como design, cinema, literatura, música, teoria, filosofia e ciência. Apesar do estranhamento que pode causar a inclusão desses temas em uma mostra de artes plásticas, trata-se de um passo que a Bienal dá no caminho de complexidade que vem trilhando desde a última edição.
"Achamos que isso é o caminho mais contemporâneo que a Bienal pode tomar, estabelecendo articulações com outras disciplinas", esclarece Adriano Pedrosa, curador associado do evento. A curadoria-geral é de Ivo Mesquita.
Pedrosa explica que os conceitos de prática e objeto cultural não se restringem à arte. "Não se trata de dizer que design é arte, mas de explorar a relação que pode ser estabelecida entre diversos objetos", afirma.
Carlos Bratke cita como exemplo disso a possibilidade de trazer móveis do designer Philip Stark à Bienal. "Na Bienal de Veneza vimos muita instalação que se aproximava da arquitetura, muita projeção, arte tecnológica e utilização de música. As artes estão todas se encaixando", diz.
Mudanças conceituais na utilização do espaço museológico e na apresentação das participações oficiais são outras novidades que Adriano Pedrosa ressalta para a 25ª Bienal. "Por não ter as particularidades de um museu, uma mostra temporária oferece os modos mais inovadores de construção de uma exposição", diz.
Tudo indica, por exemplo, que a próxima Bienal vai extrapolar os limites do pavilhão no Ibirapuera. "Uma exposição como essa não deve se limitar a acontecer dentro de uma caixa", afirma Pedrosa.
Essa "abertura" da Bienal é tanto conceitual -usar as publicações e o website como suportes da exposição e promover conferências- quanto literal: "Estaria contemplada por esse conceito a idéia de que partes da Bienal acontecessem fora do pavilhão".
A curadoria tem um projeto de usar o espaço museológico dessa vez para fazer uma retrospectiva das Bienais de São Paulo, trazendo importantes obras que tenham estado nas outras mostras, já que o evento estará completando 50 anos em 2001.
Ainda não se fala em nomes de artistas que participarão da 25ª Bienal, mas Bratke mencionou a possibilidade de trazer o americano Richard Serra para fazer suas esculturas monumentais na própria Bienal, devido à dificuldade de transportá-las.


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