São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2005

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ERUDITO

Neto de compositor húngaro, maestro toca hoje e amanhã na Sala São Paulo com a Orquestra Sinfônica da NDR de Hamburgo

Dohnányi traz noites russa e germânica a São Paulo

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A orquestra já esteve por aqui duas vezes, mas, para o maestro, é estréia brasileira. Depois de cancelar sua anunciada vinda ao Brasil com a Orquestra de Cleveland, em 2001, Christoph von Dohnányi chega a São Paulo com a Orquestra Sinfônica da NDR de Hamburgo.
Embora seja neto do compositor húngaro Ernst von Dohnányi (1877-1960), Christoph, nascido em Berlim, não se tornou músico profissional logo de cara e chegou a estudar direito.
Convidado constante do prestigiado Festival de Salzburgo, na Áustria, gravou várias óperas com a Filarmônica de Viena para o selo London/Decca. Seu reinado em Cleveland durou 18 anos, entre 1984 e 2002.
Atualmente, está na segunda temporada como diretor artístico da NDR. É ainda o regente principal da Orquestra Filarmônica de Londres desde 97.
"É difícil comparar uma orquestra alemã com uma orquestra americana, porque nem todas as orquestras da Alemanha são iguais entre si, e o mesmo vale para as dos EUA", diz. "Além disso, enquanto a Orquestra de Cleveland começou formada por estrangeiros e foi se "americanizando" ao longo dos tempos, a de Hamburgo começou 100% germânica e foi incorporando gradativamente gente de fora."
Com relação à Filarmônica, a situação é ainda mais peculiar. "Estamos sem sala de concertos, porque o Festival Hall se encontra em reformas. Além disso, trata-se de uma orquestra londrina que não tem apoio estatal e se sustenta na base da bilheteria. Portanto, eles têm que trabalhar com regentes que dêem retorno imediato."
Fundada em 1945, a sinfônica que Dohnányi dirige em São Paulo, na série do Mozarteum Brasileiro, já tocou por aqui em 1997 e em 2002 e está ligada à NDR, emissora de rádio e TV do norte da Alemanha, sediada em Hamburgo.
Para o programa das apresentações em São Paulo, haverá hoje uma "noite russa" (com "Petruchka", de Stravinski, e a "Quarta Sinfonia" de Tchaikóvski), ficando para amanhã o repertório germânico, integrado por Wagner ("Prelúdio do 1º Ato de Lohengrin"), Richard Strauss ("Till Eulenspiegel") e Beethoven ("Sinfonia nº 7").
O programa de terça-feira é iniciado por uma peça contemporânea: "Atmosphères", do húngaro György Ligeti, 82, cujas obras o cineasta Stanley Kubrick utilizou em filmes como "De Olhos Bem Fechados" e "2001: Uma Odisséia no Espaço". "Ligeti é um dos maiores compositores da atualidade, e acho que funciona bem colocá-lo antes de Wagner", afirma Dohnányi. "Quero ver como o público vai reagir, pois é uma obra que demanda muito silêncio e concentração."
Para Dohnányi, Ligeti vai ajudar a platéia a receber melhor Wagner. "Para quem está assistindo, é impressionante a experiência de experimentar a tonalidade depois de ter sido submetido ao "caos organizado", que é a sensação que a música contemporânea passa."
O regente tem insistido para que a orquestra de Hamburgo inclua autores vivos em seu repertório. "Recentemente, fizemos a estréia de uma obra de Hans Werner Henze. Além do repertório clássico e romântico, é necessário estar aberto aos criadores atuais", afirma ele.


Orquestra Sinfônica da NDR de Hamburgo
Regente: Christoph von Dohnányi
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, centro, tel. 0/xx/11/3337-5414)
Quanto: R$ 100 a R$ 300


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