São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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ALCINO LEITE NETO, EM NOVA YORK - ultima.moda@grupofolha.com.br

Jacobs renova o ecletismo americano

Desfile caleidoscópico do estilista foi destaque na temporada primavera-verão de Nova York, que termina hoje

Alguma coisa está mexendo com o nervo da moda americana. O que será? Pode ser o medo de uma crise econômica (o desemprego nos EUA é o maior desde 2003), que aguçou o instinto de sobrevivência dos estilistas. Pode ser a expectativa do fim da era Bush e a proximidade das eleições presidenciais, que estão trazendo novos ares aos espíritos. O certo é que, após várias temporadas sem brilho, desta vez a semana de moda de Nova York veio com forte energia criativa.
A temporada primavera-verão da Mercedes-Benz Fashion Week (nome oficial do evento) começou na última sexta e termina hoje. As melhores coleções apresentadas nada têm de revolucionário, mas conseguiram um equilíbrio entre as exigências comerciais, o apuro do design e o gosto por uma elegância atual e descontraída.
Há os que continuam trilhando velhos e seguros caminhos, como Carolina Herrera, mas outros estão claramente empenhados na renovação. Mesmo as grifes pouco autorais, como Diesel Black Gold e Lacoste, entraram nas passarelas com mais vigor.
Até quarta-feira, o principal destaque foi a sensacional coleção de Marc Jacobs, a melhor do estilista nos últimos três anos. Ontem, ocorreria o aguardado desfile de Francisco Costa para os 40 anos da Calvin Klein. Também chamaram a atenção Narciso Rodriguez, Proenza Shouler, Tuleh, Peter Som e Thakoon -esta, do estilista de origem indiana Thakoon Panichgul, que vestiu recentemente Michelle Obama e virou hype no país.
Costa, que é brasileiro, recebeu o título de melhor estilista dos EUA duas vezes nos últimos três anos e é hoje uma estrela em Nova York. Marc Jacobs levou às passarelas uma coleção feita para arrebatar as atenções -e reconquistar o seu lugar como principal designer do país, se alguém quiser arriscar na psicologia fashion.
Não foi à tôa que o desfile de Jacobs foi uma apologia do ecletismo cultural americano. Na trilha sonora do desfile, "Rhapsody in Blue" (1924), um clássico de George Gershwin (1898-1937), cujo nome inicial foi "American Rhapsody".
Como fez o compositor, ao combinar a música erudita com o jazz e outros ritmos dos Estados Unidos, Jacobs mesclou referências da moda européia (sobretudo francesa) e americana, o sofisticado e o popular, o retrô e o presente.
Ele foi mais longe, misturando referências japonesas, ciganas, indianas e outras, como pede o multiculturalismo atual. Contrapôs épocas (a era da grande imigração no início do século 20, os anos 40 e 70), fantasias (o cinema musical, a Broadway) e uma variedade feérica de tecidos extraordinários (o uso do lurex e de metalizados é impressionante).
A multiplicidade de elementos e acessórios poderia ter resultado numa mixórdia, mas o styling notável e o vigor do conceito garantiram a coesão, bem como a contemporaneidade.
Uma penca de celebridades -como Jennifer Lopes e Victoria Beckham- compareceu ao concorrido desfile de Jacobs, que abre loja no Brasil no final do ano em parceria com Natalie Klein. O cenário formado por blocos de espelhos produzia efeito visual de caleidoscópio na passarela, como se Jacobs dissesse que a moda hoje está destinada a ser uma recombinação infinita de elementos. Foi um show memorável.

com VIVIAN WHITEMAN



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