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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, EM NOVA YORK - ultima.moda@grupofolha.com.br
Jacobs renova o ecletismo americano
Desfile caleidoscópico do estilista foi destaque na temporada primavera-verão de Nova York, que termina hoje
Alguma coisa está mexendo
com o nervo da moda americana. O que será? Pode ser o medo
de uma crise econômica (o desemprego nos EUA é o maior
desde 2003), que aguçou o instinto de sobrevivência dos estilistas. Pode ser a expectativa do
fim da era Bush e a proximidade das eleições presidenciais,
que estão trazendo novos ares
aos espíritos. O certo é que,
após várias temporadas sem
brilho, desta vez a semana de
moda de Nova York veio com
forte energia criativa.
A temporada primavera-verão da Mercedes-Benz Fashion
Week (nome oficial do evento)
começou na última sexta e termina hoje. As melhores coleções apresentadas nada têm de
revolucionário, mas conseguiram um equilíbrio entre as exigências comerciais, o apuro do
design e o gosto por uma elegância atual e descontraída.
Há os que continuam trilhando velhos e seguros caminhos, como Carolina Herrera,
mas outros estão claramente
empenhados na renovação.
Mesmo as grifes pouco autorais, como Diesel Black Gold e
Lacoste, entraram nas passarelas com mais vigor.
Até quarta-feira, o principal
destaque foi a sensacional coleção de Marc Jacobs, a melhor
do estilista nos últimos três
anos. Ontem, ocorreria o
aguardado desfile de Francisco
Costa para os 40 anos da Calvin
Klein. Também chamaram a
atenção Narciso Rodriguez,
Proenza Shouler, Tuleh, Peter
Som e Thakoon -esta, do estilista de origem indiana Thakoon Panichgul, que vestiu recentemente Michelle Obama e
virou hype no país.
Costa, que é brasileiro, recebeu o título de melhor estilista
dos EUA duas vezes nos últimos três anos e é hoje uma estrela em Nova York. Marc Jacobs levou às passarelas uma
coleção feita para arrebatar as
atenções -e reconquistar o seu
lugar como principal designer
do país, se alguém quiser arriscar na psicologia fashion.
Não foi à tôa que o desfile de
Jacobs foi uma apologia do
ecletismo cultural americano.
Na trilha sonora do desfile,
"Rhapsody in Blue" (1924), um
clássico de George Gershwin
(1898-1937), cujo nome inicial
foi "American Rhapsody".
Como fez o compositor, ao
combinar a música erudita com
o jazz e outros ritmos dos Estados Unidos, Jacobs mesclou referências da moda européia
(sobretudo francesa) e americana, o sofisticado e o popular,
o retrô e o presente.
Ele foi mais longe, misturando referências japonesas, ciganas, indianas e outras, como
pede o multiculturalismo atual.
Contrapôs épocas (a era da
grande imigração no início do
século 20, os anos 40 e 70), fantasias (o cinema musical, a
Broadway) e uma variedade
feérica de tecidos extraordinários (o uso do lurex e de metalizados é impressionante).
A multiplicidade de elementos e acessórios poderia ter resultado numa mixórdia, mas o
styling notável e o vigor do conceito garantiram a coesão, bem
como a contemporaneidade.
Uma penca de celebridades
-como Jennifer Lopes e Victoria Beckham- compareceu ao
concorrido desfile de Jacobs,
que abre loja no Brasil no final
do ano em parceria com Natalie
Klein. O cenário formado por
blocos de espelhos produzia
efeito visual de caleidoscópio
na passarela, como se Jacobs
dissesse que a moda hoje está
destinada a ser uma recombinação infinita de elementos.
Foi um show memorável.
com VIVIAN WHITEMAN
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