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ANÁLISE
Paris mira o futuro para evitar catástrofe
FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando Georges Pompidou
idealizou o Beaubourg para o
bairro do Marais, em Paris, nasceu um novo paradigma na arquitetura e no urbanismo universal: um potente edifício cultural, que misturasse arquitetura de vanguarda e intensa
programação, poderia renovar
espontaneamente áreas degradadas (a equação não é tão simples assim e nem sempre eficaz:
vide a Luz, em São Paulo).
Uma década depois da abertura do prédio, outras regiões
de Paris foram renovadas com
essa estratégia: François Mitterrand construiu projetos culturais grandiosos -como, por
exemplo, a pirâmide do Louvre
e o Museu d'Orsay.
Esses dois fatos consolidaram o início da era dos museus,
que aposta em projetos arquitetônicos midiáticos e que teve
o seu ápice longe de um tecido
urbano histórico: Frank Gehry,
um ex-caminhoneiro, colocou
Bilbao no mapa global ao desenhar a filial espanhola do Museu Guggenheim.
De lá para cá, o aquecimento
da economia mundial colocou a
arquitetura contemporânea de
cabeça para baixo: estranhos
edifícios, encomendados por
políticos e instituições, saíram das
pranchetas das
grandes estrelas do mundo
arquitetônico.
Tal como
aconteceu recentemente
no MIS (Museu da Imagem e
do Som) do Rio de Janeiro, os
contratantes não pensam somente em bons projetos: preocupam-se, sobretudo, em criar
"ícones arquitetônicos" (é necessário que se diga: quase ninguém chegou lá).
Após a recente crise da economia mundial, os críticos
mais ligeiros apostaram no fim
dessa lógica perversa. O presidente dos EUA, Barack Obama,
ajudou no raciocínio quando
anunciou investimentos na
construção de escolas, parques,
habitações públicas etc.
Plano de Sarkozy
Mas coube novamente a um
presidente francês criar novo
paradigma. Deixando de lado
os edifícios midiáticos, Nicolas
Sarkozy idealizou o Grand Paris, um conjunto de ideias que
pretende pensar o futuro das
grandes metrópoles.
Assim, a discussão deixa o
âmbito estético e vai para o plano urbano, visando o bem-estar
de todos, a sustentabilidade no
pós-Kyoto. É a primeira vez
que um presidente de um país
central convoca grandes cérebros para pensar o assunto.
O problema imediato de Paris é a articulação entre o centro histórico, rico, e a periferia,
de imigrantes pobres. E as soluções apresentadas são diversas.
Agora, vem a fase mais difícil
que será analisar a pertinência
das ideias e, possivelmente, colocar algumas em prática.
Só o tempo dirá se é ou não
um golpe de marketing político. Seja como for, a ação tem,
desde já, grande virtude: nos
convoca a discutir o futuro realista da cidade, que fica entre
a utopia e a catástrofe.
Assim, podemos deixar
de lado o curto raciocínio
da ampliação de avenidas
ou da construções de
novas pontes. Fica a
pergunta: qual cidade
tendes em mente?
FERNANDO SERAPIÃO é arquiteto e editor-executivo da
revista "Projeto Design"
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